La Liga Scouting #39 – Nico González (FC Barcelona)

Bruno DiasJunho 21, 20225min0

La Liga Scouting #39 – Nico González (FC Barcelona)

Bruno DiasJunho 21, 20225min0
A 39ª edição do "La Liga Scouting" leva-nos de volta à Catalunha, para conhecer o menos exuberante dos novos talentos "blaugrana".

De forma altamente influenciada pelo sucesso estrondoso de anos recentes, do FC Barcelona espera-se sempre magia, clarividência e génio quando se fala dos médios formados no clube.

O caso de Nico González, porém, foge àquela que tem sido a norma. O jovem de 20 anos é talvez o menos exuberante do trio de centrocampistas que desperta o entusiasmo dos adeptos “blaugrana” (juntamente com Pedri e Gavi) e a cobiça dos maiores clubes pela Europa fora, mas nem por isso menos talentoso ou menos capaz de singrar ao mais alto nível.

Nascido na Corunha, Galiza, é nos clubes locais que Nico começa a dar nas vistas. O seu talento não passa despercebido ao Barcelona, que em Julho de 2013 o leva para a sua famosa academia de La Masia. Estreia-se na equipa B ainda com idade de juvenil, em 2019, e começa a ser presença regular na equipa de reservas catalã no ano seguinte.

É lançado na equipa principal por Ronald Koeman, a 15 de Agosto de 2021, frente à Real Sociedad, e mantém o seu espaço no plantel principal aquando da chegada de Xavi Hernández ao clube, terminando a temporada com 36 jogos efectuados. Adicionalmente, Nico começa também a marcar presença nas selecções espanholas, tendo-se estreado já pela selecção sub-21 em Outubro de 2021.

Há ainda algumas dúvidas sobre o seu futuro (devido ao interesse de vários clubes europeus, especialmente na Premier League), mas a sua manutenção será certamente sinónimo de uma utilização regular e cada vez mais significativa num meio-campo repleto de talento, qualidade e ADN “culé“.

 

O futebol de Nico

Filho do antigo internacional espanhol Fran, que brilhou no Deportivo de la Coruña, Nico é porém um jogador bem diferente do seu pai, que se destacava pela técnica apurada. Não que o jovem espanhol não seja igualmente evoluído no capítulo técnico, mas a essa qualidade junta muitas outras no plano físico e atlético, assumindo-se como um jogador capaz de impactar várias áreas do jogo.

(Foto: fcbarcelona.com)

Nico é um médio-defensivo de origem e a sua morfologia (quase 1,90m de altura) faz imediatamente lembrar a de Sergio Busquets, dono de um legado que é amplamente reconhecido no futebol. Podendo actuar como o vulgo “6“, é no entanto mais à frente que tem sido utilizado por Xavi nestes primeiros meses de carreira ao mais alto nível.

Para tal, muito contribui uma das qualidades que mais facilmente salta à vista em Nico: o seu transporte de bola. Aliando a sua capacidade física à tradicional qualidade espanhola na relação com a bola, o médio espanhol é capaz de quebrar linhas com facilidade em drible, ultrapassando adversários em “slalom” e oferecendo soluções distintas daquelas que normalmente são atribuídas aos médios catalães, mais baseadas no passe, na criatividade e na visão de jogo.

A formação vincada do clube é notória, por outro lado, na forma como Nico guarda e protege a bola sob pressão e também na sua tomada de decisão. Apesar da vantagem atlética, o médio não leva demasiado longe as suas iniciativas individuais, procurando soltar a bola para um colega mais adiantado assim que sai do drible.

Isto aplica-se igualmente na recuperação de bola, no plano defensivo. Nesse capítulo, de resto, o poderio atlético de Nico auxilia-o na capacidade de preencher, no momento certo, os espaços onde deve estar. Bastante forte nos duelos individuais, acrescenta também valor no jogo aéreo no espaço à frente dos centrais e nas bolas paradas, por contraste com outros colegas de menor estatura.

É esta combinação de atributos que permite a Nico assumir-se como opção válida para todas as posições do habitual triângulo no sector intermédio que Xavi utiliza, podendo o jovem assumir o lugar de “pivô defensivo” interpretado por Busquets ou um dos lugares interiores e mais adiantados, desempenhados por Pedri, Gavi ou Frenkie de Jong. Entre a presença mais fixa na zona central, a capacidade de sair com a bola em drible e criar oportunidades para os seus colegas ou a sagacidade com que ataca os espaços livres na defensiva adversária para ele próprio responder a solicitações dos colegas, Nico é capaz de executar acções diversas e papéis distintos na equipa, algo que se afigura de grande valor para a multidimensionalidade de soluções do plantel.

Faltará ainda ao médio espanhol continuar a evoluir naquela que é a interpretação da famosa filosofia de jogo “blaugrana, sobretudo na posição 6. Caso seja capaz de entender e ler o jogo com e sem bola de forma superior, poderá então crescer para se configurar como a muita aguardada alternativa de longo-prazo a Busquets, que durante a última década tem sido fundamental nos sucessos do clube. Porém, é de assinalar esta limitação como algo natural no seu desenvolvimento actual, dada a sua tenra idade e o facto de possuir um perfil de clara polivalência no meio-campo catalão.

Com Camp Nou enquanto palco principal, espera-se que Nico González pise muitos outros palcos míticos do futebol espanhol e mundial, num futuro que seguramente será brilhante. Não é o maior génio ou o melhor criativo entre os seus pares catalães, mas é certamente um nome de muita qualidade, aquele que ainda dá os seus primeiros passos em Barcelona.


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