A suspensão lamentável da Federação Portuguesa de Judo
A dias do arranque dos Campeonatos do Mundo, que decorrerão na capital da Hungria, Budapeste, o judo português foi assolado por uma notícia desprestigiante, que lesa, inevitavelmente, a reputação e credibilidade da modalidade! A Federação Internacional de Judo-FIJ, suspendeu a Federação Portuguesa de Judo (FPJ) devido a uma divida de 800.000€.
A medida teria como principal impacto a proibição dos judocas portugueses de participarem em provas internacionais com os dorsais de Portugal, sem direito a hino e a bandeira nas cerimónias protocolares, à imagem do que acontece atualmente com os judocas Russos e Bielorussos.
Em modo de desespero, o presidente da FPJ solicitou a intervenção da tutela e do Comité Olímpico Português, o qual, na pessoa do seu recém-eleito presidente, Fernando Gomes, se juntou à comitiva da FPJ que se deslocou à sede da FIJ, acabando por conseguir que a suspensão fosse, temporariamente, levantada no dia 5 de junho, permitindo que os judocas portugueses participem nos Mundiais de Budapeste com a bandeira portuguesa, dando início a uma negociação tendo em vista um acordo para reverter, no curto prazo, esta decisão.
Federação Portuguesa de Judo suspensa
Quando pensei que era pouco provável que o judo português pudesse, nos próximos tempos, voltar a passar, novamente, por um período desprestigiante e vergonhoso como o que terminou com a destituição de Jorge Fernandes da Direção da FPJ, veio a lei de Murphy, no dia 23 de Maio, demonstrar que estava errado.
Confesso que fui alertado por um amigo que, sempre atento às últimas do judo, viu na página da FIJ dedicada aos Campeonatos do Mundo de Budapeste, que todos os judocas portugueses inscritos tinham uma nota de “suspensos”. Fiquei curioso e acabei, poucas horas depois, por receber a comunicação da FIJ a detalhar a justificação da suspensão da FPJ, bem como a confirmar as respetivas consequências.
A suspensão internacional foi devido a dívidas de mais de 800 mil euros à FIJ. Esmiuçando, as dívidas incluem 300 mil euros da organização dos Mundiais de júniores de 2023, em Coimbra, e 250 mil euros por cada edição do Grand Prix de Portugal, em 2022 e 2023. O contrato que os dois organismos assinaram também incluía a organização do Grand Prix deste ano, mas a calamitosa situação financeira da FPJ levou o respetivo presidente a anunciar o cancelamento da etapa que marcaria o arranque do circuito mundial de 2025.
Rapidamente o presidente destituído, Jorge Fernandes, se apressou a enviar uma nota à comunicação social a informar que quando saiu da direção da FPJ as contas estariam certas, Informação prontamente contestada por Sérgio Pina, presidente em exercício, que viria a argumentar em sua defesa que foi a anterior direção, na pessoa do presidente, à data Jorge Fernandes, quem assumiu e assinou os compromissos com a FIJ.
Cumpre recordar que Sérgio Pina foi vice-presidente de Jorge Fernandes, que liderou o organismo durante sete anos e acabou destituído em 2022 devido a um processo disciplinar do IPDJ. Sérgio Pina começou por assumir a direção da FPJ em abril de 2023 para cumprir o remanescente do mandato abandonado, “à força”, por Jorge Fernandes, tendo sido eleito em outubro de 2024, numas eleições em que o antecessor também foi a votos. Assim sendo, perante a tentativa de desculpabilização, além do mais, fica a perplexidade: Sérgio Pina, mesmo como Vice-presidente não tinha conhecimento dos contratos/acordos? Afinal quais as responsabilidades do vice-presidente? E, ao assumir a presidência, continuou a desconhecê-los? No mínimo estranho…
Ainda mais caricata foi a explicação que Sérgio Pina deu para a inexistência de qualquer pagamento, conforme o modelo de pagamento acordado com a FIJ. Alegadamente, um erro de IBAN levou a que uma transferência efetuada em março não tivesse entrado na conta da FIJ, algo que Jorge Fernandes prontamente veio a considerar inaceitável e ridículo.
Tudo isto é triste, tudo isto é muito triste…
O acordo alcançado na reunião na sede da FIJ, com o presidente Marius Vizer, que contou com as presenças de Sérgio Pina, Fernando Gomes, recém-eleito presidente do COP, e António Silva, presidente Liga Europeia de Natação, prevê o levantamento imediato da suspensão, com a correspondente participação plena dos atletas portugueses no próximo Mundial, e a definição de um plano de pagamentos faseado, compatível com a realidade financeira da FPJ… que, na verdade, está falida e sem viabilidade financeira para poder assumir os seus compromissos, o que desde logo permite antever que os tempos difíceis continuarão.
Campeonatos do Mundo 2025, Budapeste
Os Campeonatos do Mundo de 2025 irão, novamente, visitar a capital da Hungria, Budapeste. Recordo que foi aqui, em junho de 2021, que Jorge Fonseca conquistou o seu segundo título mundial, consecutivo. Que seja, uma inspiração para todos os presentes!
Portugal irá apresentar uma equipa composta por 7 judocas, 4 masculinos e 3 femininos, acompanhados pelos técnicos nacionais Marco Morais, responsável pela equipa feminina, e Pedro Soares, responsável pela equipa masculina.
Seleção portuguesa
- Catarina Costa 48KG – Associação Académica de Coimbra
- Taís Pina 70Kg – Sport Algés e Dafundo
- Patrícia Sampaio 78Kg – Sociedade Filarmónica Gualdim Pais
- Miguel Gago 66Kg – Associação Académica de Coimbra
- Otari Kvantidze 73Kg – Sporting Clube de Portugal
- João Fernando 81Kg – Sporting Clube de Portugal
- Jorge Fonseca 100Kg – Sporting Clube de Portugal
Estes são os sete magníficos que partem para Budapeste com o sonho de chegar ao pódio da mais importante competição de 2025. Na antevisão dos Campeonatos da Europa de Podgorica, há dois artigos atrás, tive oportunidade de detalhar brevemente o momento de cada um destes judocas. O destaque vai, novamente, para Patrícia Sampaio, atual campeã da europa, dos 78Kg, líder do ranking mundial e que tem condições, e legítimas aspirações, a chegar ao pódio e trazer o ouro e o título de Campeã do Mundo, o que acredito possa acontecer, pois está num excelente momento, com muita confiança, com um judo de excelência e terrivelmente eficaz. Catarina Costa, vice-campeã da europa dos 48Kg, também pode sonhar com a conquista de uma medalha, tal como Jorge Fonseca (100Kg) e Taís Pina (70Kg), com condições de poder surpreender pela positiva. Por último Miguel Gago, Otari Kvantidze e João Fernando, numa versão inspirada, poderão chegar longe, mas o sorteio será determinante, e não sendo cabeças de série, poderão cruzar-se com alguns dos principais candidatos logo na fase a eliminar.
Os Campeonatos do Mundo de Budapeste, arrancam no dia 13 de junho e terminam dia 20, com a competição de equipas mistas, infelizmente sem a presença da equipa portuguesa. Vamos ter 558 judocas em ação, a representar um total de 93 países, e a transmissão poderá ser acompanhada na SPORTTV.