Provavelmente esta é primeira crónica de todo o sempre que começa ‘inspirada’ numa música de Quim Barreiros. Na génese da ideia estão as conversas (online e offline) do ‘adepto comum*’, que facilmente passam um treinador de “besta e bestial” e vice-versa. Um qualquer desses adeptos poderia cantar assim: “Ponho o Lage, tiro o Lage, ao jogo que eu quiser…”
Ponho o Lage, tiro o Lage, ao jogo que eu quiser
Ora é melhor é que o Mourinho, ora é treinador fraquinho
Tira na Europa, põe na Liga, e às vezes na taçinha
Está sempre mudando o onze para a prova que se avizinha!
Nota: no fim do artigo será apresentada a definição de “adepto comum”.
Diário de bordo dos 11 meses de Lage
Estas súbitas mudanças de opinião não são exclusivas aos adeptos do Benfica, mas sim transversais a todos os adeptos. Mas neste artigo vamos centrar-nos em Bruno Lage e nos 11 meses que tem à frente da equipa principal dos «encarnados».
O início e o pré-início da cruzada do ‘comandante’ Lage
São 11 meses, mas já podiam ser 12. Há cerca de um ano, o clube não passava por uma boa fase, e começou-se a falar na possibilidade de Bruno Lage, na altura treinador da equipa B, assumir o leme da equipa principal. Não foi em dezembro, mas em Janeiro o treinador setubalense assume o comando interino numa conjuntura difícil, após a saída de Rui Vitória. A equipa tinha acabado de perder em Portimão, ficou mais longe do título e o nível exibicional deixava muito a desejar. Muitos viram esta opção apenas como uma situação temporária e que o Benfica parecia indicar ‘entrelinhas’ estar a ‘desistir’ do título. Mas outros não. E entre estes estava Bruno Lage, que acreditou no qualidade do seu trabalho, na equipa, e fez a equipa acreditar nele e nela própria. No jogo de estreia muda o sistema táctico (para 442) e, entre outras alterações, lança a então ‘promessa’ João Félix como segundo avançado. O jovem já tinha sido utilizado por Rui Vitória a titular, mas mais vezes a saltar do banco, e sempre a jogar a partir da esquerda. Lage quis tirar o melhor partido do jogador e do que este poderia dar a equipa, e muito do jogo da equipa a passar por ele. Começou a perder na Luz por 0-2, mas acabou a vencer com brilhantismo, por 4-2, com um futebol ofensivo de qualidade e com uma grande exibição de João Félix. A partir daí a equipa embalou.
As não vitórias de Bruno Lage 2018-19
Mesmo numa sequência de vitórias, a cada não vitória, iam surgindo as primeiras críticas.
«Final Four» da Taça da Liga: O primeiro clássico
No primeiro grande clássico, a equipa defrontou o Porto na «final four» da Taça da Liga. Num jogo muito intenso, em que as equipas se bateram de igual para igual, a equipa da cidade invicta acabou por levar a melhor. Se para muitos adeptos do Benfica ficou a retina da boa exibição da equipa, para outros ficou apenas uma derrota e a possível falta de estaleca da equipa.
Quartos-de-final da Liga Europa: A sina alemã
À medida que na liga portuguesa se ia aproximando do Porto, na Liga Europa, Bruno Lage acabou por ir dando a oportunidade a alguns «jovens do Seixal». Florentino, Yuri Ribeiro, Jota, o próprio Gedson que tinha perdido algum espaço, e mesmo o já mais experiente Corchia (emprestado pelo Sevilha) começou a ter oportunidades nesta competição. Eliminou o Galatasaray, o Dinamo Zagreb, e numa eliminatória equilibrada com o Eintracht Frankfurt, acabou por ficar às portas da meia final. Nesta altura surgiram as primeiras críticas relacionadas com a rotação que Lage fez na equipa, elogiadas nas rondas anteriores, quando o Benfica venceu.
Meias-finais da Taça de Portugal: No tudo por tudo dos leões
Depois de uma excelente exibição na primeira mão da meia-final diante o Sporting, em que eliminatória poderia ter ficado resolvida, a 10 minutos de fim, num último fôlego Bruno Fernandes conquista um livre directo. O ‘intocável’ do Sporting bate com excelência de deixa tudo em aberto para a segunda mão em Alvaldade (2-1). Aí apresentou-se um Benfica menos capaz do que no jogo anterior e um Sporting, já afastado do campeonato, tinha que dar o tudo por tudo para ser feliz. E mereceu ser feliz. Num jogo equilibrado, um lance de génio de Bruno Fernandes permitiu o Sporting passar à final do Jamor, que acabaria por vencer.
Campeonato: Após a vitória mais importante a primeira perda de pontos
Após a derrota na Taça da Liga diante do Porto, temia-se de alguma forma como reagiria o Benfica na decisiva deslocação ao Dragão. O Benfica só contava com vitórias e tinha reduzido a larga distância para apenas um ponto. Num jogo muito intenso os «encarnados» impõem-se e vencem merecidamente por 1-2, passando a liderar a liga com dois pontos de vantagem. Curioso que no jogo seguinte, na recepção ao Belenenses, o Benfica perde pontos pela primeira (e única) na era Lage. Num jogo controlado a vencer por 2-0, duas falhas de atenção permitiu dois golos Belenenses em dois minutos. Terá servido de aviso para embarcação que não mais perdeu pontos até final da época.
2019-20: A queda do pedestal de quem não chega a cair
O título pode ser um pouco dúbio, mas tem tudo a ver com a carreira de Bruno Lage no Benfica. Para a generalidade do adepto comum, a época passada Lage era o melhor do mundo e pensam que vai ganhar todos os jogos, mas às primeiras derrotas já acham que ele é o pior de todos e devia ir embora.
A equipa entrou bem com uma vitória de 5-0 na supertaça diante o Sporting. Com um nível exibicional mais baixo que na época anterior, o certo é que Lage tem conquistado quase todos os pontos. Quase todos, porque perdeu, sem qualquer contestação, na recepção ao Porto, que conseguiu anular de forma exímia os pontos fortes dos «encarnados». A partir desta derrota a desconfiança dos adeptos começou e Lage começou a ser criticado.
Mesmo indo vencendo todos os jogos, muito deles com pouco brilhantismo, a prestação na Liga do Campeões, principalmente nos primeiros jogos, fez com que muitos adeptos começassem a olhar para Bruno Lage com desconfiança, apontando o dedo sobretudo, à rotação dos jogadores.
7 notas sobre Lage
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Entrou a meio da época passada, numa situação difícil, e fez uma recuperação fantástica tanto em termos de resultados como exibicional. Sendo a primeira experiência como líder de um equipa principal, merece crédito.
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Em duas meias épocas no campeonato perdeu apenas 5 pontos. Esta época com menos fulgor exibicional, muito por culpa da perda do jogador sob o qual rodava todo o futebol de equipa. Com algumas experiências falhadas foi encontrando soluções para colmatar essa ausência. A equipa parece ter melhorado nas últimas semanas.
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A rotação tem vantagens e desvantagens. Permite dar descanso a jogadores importantes, além de dar oportunidade e ritmo de jogo a jogadores menos utilizados, para quando forem chamados estarem motivados e condições em competir. A desvantagem é que é sempre um risco. Mas se é para arriscar que seja nas taças, principalmente na Taça da Liga. Na Liga dos Campeões, foram 2, 3 ou 4 alterações, que não considero que sejam suficientes para justificar os resultados do Benfica. Embora exista quem ache. São opiniões.
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Depois dos excelentes jogos da época passada, muitos treinadores foram percebendo os pontos fortes do Benfica. Começaram a saber como anular os movimentos da equipa e, muitas vezes, mesmo durante os jogos, Lage teve que mudar e não teve receio disso. Pode mudar para pior ou melhor, mas tenta ler o jogo e melhorar e não fica refém das suas ideias iniciais.
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Jogadores, como por exemplo Tomás Tavares, não estiveram sempre bem e tiveram falhas. No entanto, será certamente agora melhor jogador do que era em Setembro. São dores de crescimento normais num jovem, e quem quer tornar jovens jogadores em jogadores de topo, tem que cometer riscos e contar com possíveis consequências que possam advir. (Um excelente exemplo disso, aconteceu há uns anos, no outro lado da segunda circular. Rui Patrício até se tornar no guarda-redes indiscutível esteve duas épocas a ser criticado pelos adeptos. Mas certamente as falhas que tiraram pontos foram posteriormente ultrapassadas pelas defesas que deram pontos.)
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Não esperem de Lage aquele treinador que vai jogar em 90 por cento das vezes com o mesmo onze, consoante os adversários, a condição física dos jogadores e para manter o plantel competitivo, vai haver mudanças muitas vezes. Tirando talvez o Barcelona de Guardiola (que tinha sempre a bola logo dava para descansar durante os jogos) todos as equipas, que estejam em 2, 3 ou 4 competições têm que rodar, priorizando-as. Outro exemplo vindo de um rival. Adeptos portistas acérrimos defensores de Sérgio Conceição, apontaram a falta do rotatividade do Porto como a grande falha da época passada.
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Por fim, um desejo pessoal, tenha mais ou menos sucesso que Bruno Lage mantenha sempre a sua postura e se mantenha fiel às suas ideias e ideais. Importante ter mais treinadores que não entrem em polémicas sem sentido e que refugiam só em desculpas comuns. Que continue a explicar os resultados e exibições - bons e maus - com base no futebol jogado. Ou seja, com todo o Fair Play.
Definição de “adepto comum”
adepto comum | adj. s. m. + a·dep·to |épt| co·mum
(latim adeptus, -a, -um, conseguido, atingido) + (latim communis, -e)
adjectivo e substantivo masculino
1. Diz-se de ou pessoa que apoia um determinado clube principalmente quando as coisas correm bem. Quando não correm bem consegue ser o principal crítico = PARTIDÁRIO PARA O LADO QUE CALHA
2. Diz-se de ou pessoa pseudo-especialista que comenta futebol publicamente sem muitas vezes perceber a regra mais básica. = PSEUDO APOIANTE
3. Diz-se de ou pessoa que normalmente sofre de memória curta causada por trechos de 90 minutos. = APOIANTE COM MEMÓRIA DE PEIXE
adaptado, adulterado e inspirado no formato do Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013,