Ao fim de 6 jornadas, o CD Nacional ocupa o penúltimo lugar da Liga NOS com um futebol desequilibrado, pouco claro na saída do seu meio-campo, munido de erros na transição defensiva, no reposicionamento e na agressividade em momentos cruciais do jogo. Esta é uma breve forma de descrever o que tem sido até aqui da equipa liderada por Francisco Costa “Costinha”.
O técnico dos alvinegros tem alterado a equipa a cada nova jornada, fazendo sempre mais que uma mudança entre jornadas, fracassando no encontrar de estabilidade dentro de um plantel que tem as “armas” necessárias para sobreviver na fuga à despromoção. Contudo, existem vários problemas inerentes a este CD Nacional que não se vão alterar até que haja uma vontade de mudança em termos de aceitação e aprendizagem.
AS TROCAS E MUDANÇAS NO CAOS DEFENSIVO DO NACIONAL
Comecemos pelo mais “óbvio”: constantes alterações no eixo-defensivo nas seis jornadas. Costinha tem tido dificuldades em confiar plenamente num par de centrais, alternando entre o jovem reforço Arthur, o sub-capitão Diogo Coelho, o experiente Felipe Lopes e o brasileiro Júlio César. Em seis jogos, já foram utilizadas quatro duplas diferentes, com Felipe Lopes e Júlio César a ser a dupla mais “rodada”, seguindo-se Felipe-Arthur.
Estas trocas e voltas no clube recém-promovido à Liga NOS tem afectado seriamente a estabilidade no eixo defensivo e no desenvolvimento de uma parceria de qualidade e que consiga amparar os adversários na maioria dos jogos.
A somar a este cenário “estranho” é também o facto de Diogo Coelho, um dos quase-totalistas em 2017/2018, ter saído de opções depois de um par de erros nas duas primeiras jornadas, onde se registaram duas derrotas: SC Braga (culpa no primeiro golo, mas salva outro em cima da linha) e FC Moreirense (sem culpas directas em qualquer um dos dois golos).
Contudo, Arthur não sofreu a mesma penalização e continuou a titular, caindo pouco depois na Taça da Liga (foi substituído após o 2º golo do Vitória FC) quando fracassou na sua missão de defesa-central. Entretanto, a dupla que tem “dominado” nos últimos três encontros também foi aquela que mais golos sofreu: sete. Se os 4-0 contra o SL Benfica são “desculpáveis” pela diferença de qualidade de jogo ou plantel, já os 3-0 ante o CD Santa Clara não pode passar em claro.
A questão que se segue é: será que Costinha vai voltar a alterar o eixo-defensivo depois de mais uma goleada sofrida em casa? Se Diogo Coelho e Arthur sofreram uma “pesada” penalização por alguns erros, o que dizer da falta de qualidade de Júlio César na leitura do jogo aéreo ou no trabalho de timing na abordagem ao sector avançado adversário ou da falta de “pernas” e fulgor físico de Felipe Lopes?
A lesão de Daniel Guimarães também não ajudou no encontro frente aos açorianos, com Lucas França a estrear-se da pior forma possível nos campeonatos nacionais portugueses. Nisto, o problema é o facto de Costinha ter dito após a primeira e segunda jornada que a culpa não era da defesa, mas sim do ataque não fazer mais golos para conferir estabilidade à equipa… contudo, foi o eixo-defensivo o sector que mais mudanças sofreu evidenciando uma falha no discurso do treinador.
COMO UMA PERGUNTA LEVANTA TANTA DISCUSSÃO?
Esse é outro dos problemas de Costinha: o discurso que vive entre a agressividade de não gostar de algumas críticas/observações e a tentativa dissimulada de não tocar nos assuntos mais complicados. A questão que torna o ambiente pesado entre o treinador e a comunicação social vai para o facto do porquê do treinador não alterar a forma de jogar dos alvinegros?
É uma pergunta que move uma fúria por parte do antigo técnico do Paços de Ferreira, Beira-Mar e Académica de Coimbra, pois o próprio não crê que a mudança de paradigma ou da forma de jogar do CD Nacional seja a solução. Esta pergunta e a sua reacção é recorrente em quase todas as conferências de imprensa, especialmente quando se registam derrotas.
A seguir ao encontro com o CD Santa Clara, Costinha recusou aceitar, mais uma vez, que foi por causa da estratégia e táctica que o CD Nacional sucumbiu contra Braga, Moreirense, Benfica ou Santa Clara, mas sim devido aos erros defensivos ou da gestão de bola do meio-campo, impondo-se as derrotas por erros individuais e não por lógica do colectivo. Para que o leitor perceba, os alvinegros sob a lei de Costinha aplicam um jogo de passe e combinações curtas e simples, com os centrais a subir ao centro do terreno em momentos de controlo de bola, ajudando na rotação do esférico entre-linhas.
Lançamento em profundidade, com apoio do meio-campo, desenhando os tais triângulos da moda, em que o lateral compõe com o extremo mais os médios-interiores a fecharem esta composição ofensiva. E no que toca a golos, este Nacional à la Costinha vive muito da eficácia e frieza do ponta-de-lanço algo que correu bastante bem com Ricardo Gomes (22 golos na época passada) e que ainda se vai descobrir com Rochez (marca golos, mas falha em excesso também, como aconteceu com o CD Santa Clara, ainda quando estava 1-0 para os açorianos).
A nível defensivo, o CD Nacional baixa os extremos, trancando-os na posição dos médios interiores com estes a recuarem ligeiramente e a fazer um tipo de escada defensiva, apostando na recuperação e transição rápida. Traduzindo Costinha tentou/tenta aplicar um tipo de jogo similar ao FC Porto de 2004 ou com algumas nuances do FC Barcelona de Pep Guardiola de 2010. Contudo, esse tipo de futebol só é possível quando há as “ferramentas” para tal e no caso do CD Nacional claramente que não existe essa realidade.
Ou seja, as críticas esboçadas ao futebol dos madeirenses são plausíveis e bem construídas e a forma como perderam com o SL Benfica (4-0 que poderiam ter sido mais) ou o Santa Clara, encontro que expôs em claro os problemas dos alvinegros, dão que pensar: erros infantis individuais (exemplo do passe de Ibrahim Alhassan no primeiro golo dos açorianos, mais um erro do nigeriano nesta temporada), fracasso táctico completo (o Santa Clara não precisou de largos números de posse de bola para dominar o encontro em diferentes momentos do jogo) e falta de lucidez defensiva (em 6 jogos em casa sofreram 13 golos, algo inexplicável).
Curiosamente, Costinha defendeu-se da derrota com quase uma nova desculpa, o factor casa, ou, como o próprio explica,
“Há muita ansiedade nos jogos em casa e essa mesma ansiedade vem das bancadas. As equipas que vêm jogar à Choupana sentem-se cómodas. Quando jogamos fora não temos essa ansiedade e conseguimos melhores resultados. Cometemos muitos erros defensivos, mas a equipa mostrou-se muito intranquila. Fora de casa, temos estado melhor, porque a equipa não sente tanta pressão, mas é óbvio que há aspetos para serem corrigidos e isso faz-se nos treinos.”
A falta de consistência nas escolhas da equipa, as razões avançadas pelo técnico para substituir algumas das suas melhores escolhas, a falta de consistência táctica, os erros na estratégia, estão a atirar o CD Nacional para os últimos lugar da Liga NOS e devida razão para tal. Em seis jornadas do Campeonato Português registaram-se 14 golos sofridos, somente cinco marcados, sendo que não ganham em casa há 13 jogos no que toca a jogos na Primeira Liga (a contar com a última época que tiveram nesta divisão).
Há mais desculpas para o início medíocre dos alvinegros?