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Felipe MartinsNovembro 10, 20227min0

A época 2022 da MLB chegou ao fim, com a vitória do Houston Astros sobre o Philadelphia Phillies na Série Mundial. Confira em texto de Natan Pires como foi este grande duelo!

A Série Mundial do beisebol sempre reserva uma bela história a ser contada, e em 2022 não seria diferente. Houston Astros e Philadelphia Phillies protagonizaram uma série completamente imprevisível e imponderável. De um lado, os inexoráveis favoritos de Houston, que chegaram às finais sem uma única derrota sequer – sem deixar nenhuma margem para que se cogitasse um momento de fraqueza.

Do outro lado, de calções vermelhos, a surpresa da Philadelphia: os Phillies fizeram uma reta de época regular terrível e, se não fosse também a reta final terrível de rivais como San Francisco Giants e Milwaukee Brewers, talvez sequer tivessem chegado aos playoffs. Porém, uma das maiores virtudes de equipas campeãs é crescer quando se precisa crescer, e assim, os Phillies o fizeram. Sem margem para contestação, venceram St. Louis Cardinals, Atlanta Braves e San Diego Padres – contra todas as expectativas, chegaram a Série Mundial.

Bryce Harper, do Phillies, foi o grande comandante da equipa da Philadelphia na pós-temporada de 2022. (Foto: Eric Hartline/USA Today Sports/Reuters)

Todas as atenções estavam voltadas para Bryce Harper, que protagonizava até aquele momento uma das maiores performances de pós-temporada da história do esporte por um jogador de posição – com números parecidos ou superiores a atuações lendárias como de David Ortiz em 2004 pelo Boston Red Sox e David Freese em 2011, pelo St. Louis Cardinals. Harper perdeu uma parte considerável da época após lesão na mão, mas sua performance nos playoffs foi incontestável, se tornando o principal pilar da explosão ofensiva do Philadelphia Phillies.

Do lado de Houston o protagonismo alternou de mãos entre as séries e até mesmo durante a série mundial, mas houve um jogador que nunca deixou de estar entre os protagonistas: Jeremy Peña, o calouro teve a complicadíssima missão de substituir Carlos Correa, um dos melhores jogadores da história da franquia do Houston Astros. Mas alguns atletas têm estrela e não precisam de mais do que uma oportunidade para mostrar o seu valor – aparecem quando são mais necessários e brilham forte como um astro solar.

Peña é um desses jogadores: em sua primeira época se tornou o primeiro calouro na posição de interbases a conseguir uma Luva de Ouro – prêmio dado ao melhor defensor de cada uma das posições. Nos playoffs, decidiu o jogo 03 em Seattle na 18ª entrada, com um home run solitário, que deu a vaga nas finais de conferência para Houston. Contra o New York Yankees, Peña se manteve ferozmente quente no bastão para garantir os Astros nas finais da MLB e o título de MVP (jogador mais valioso) da final de conferência. Para sacramentar uma fantástica época, Peña ainda se tornou o primeiro interbases estreante a bater um home run e a ser MVP da Série Mundial.

Jeremy Peña, do Houston Astros, fez história ao receber prêmio de Jogador Mais Valioso da Série Mundial (Foto: David J. Phillip/Associated Press)

Com todos esses elementos, a World Series se tornou um evento imperdível. Estávamos presenciando uma história de Davi contra Golias, do imenso favorito contra os azarões mais improváveis do ano. De um lado, Bryce Harper tentando escalar o monte Olimpo para se colocar ao lado das divindades do esporte; de outro, os Astros lutando não só por mais um título, mas por honra – afinal, a equipe ainda precisava provar que poderia vencer um campeonato sem se valer de ilegalidades (como quando foram punidos por roubar comunicação dos oponentes).

A batalha final pelo troféu mais tradicional dos Estados Unidos começou com os Astros avassaladores no primeiro jogo. Porém, na primeira partida os Phillies decretaram que nenhuma peleja seria vencida sem uma árdua batalha. Perdendo por 5-0 logo no começo da partida, a equipa da Philadelphia se tornou apenas a sexta na história a virar um resultado em jogo de Série Mundial quando perdia por uma diferença de 5 corridas. Na primeira partida, em Houston, Bryce Harper e sua legião de heróis improváveis começavam sua escalada rumo ao panteão do esporte. Na segunda partida da série, os Astros dominaram no montinho com atuação irrepreensível de Framber Valdez e conseguiram empatar a série em Houston.

Com a Série Mundial voltando a ser jogada na Philadelphia pela primeira vez desde 2009, o ‘mar vermelho e branco’ dos fanáticos torcedores do Phillies tomou as arquibancadas, ajudando a impulsionar a performance dos rebatedores. A legião comandada pelo intrépido Bryce Harper seguiu seu líder, e um após o outro, estouraram as bolinhas para fora do estádio: na partida, o Philadelphia Phillies se tornou a primeira equipa a marcar 5 home runs com diferentes jogadores na Série Mundial.

Agora volte no começo do texto, em que foi dito: “Imprevisível e imponderável”, nada descreve melhor o momento do que essas duas palavras. Um jogo após uma das maiores atuações ofensivas da história, os Phillies não conseguiram ver as bolinhas no jogo 4. Para escalar a montanha mais alta do mundo, é preciso estar ciente dos perigos que te esperam; no caso do Phillies, era preciso derrotar uma das maiores equipas da história recente do beisebol, os Astros de Houston. Mas a franquia texana por nove entradas sequer deixou com que a bola fosse rebatida, marcando assim o segundo no-hitter (quando a equipa rival não registra nenhuma rebatida durante a partida toda) da história da Série Mundial. Os jogos seguintes foram demonstrações de força da equipa de Houston, que garantiu as vitórias para se sagrar pela segunda vez campeões mundiais de beisebol.

Dusty Baker, técnico do Houston Astros, sagrou-se campeão após uma difícil temporada de contestação (Foto: Rob Tringali/MLB/Getty Images)

No fim dessa odisseia tivemos um surpreendente herói derrotado de um lado, mas por outro, vimos a história dos Astros que precisaram escalar a própria montanha rumo ao estrelato. Se desvencilhar das marcas do passado foi a missão dada não só para a equipa, mas para o seu treinador, Dusty Baker, que viveu toda a carreira assombrado pela derrota na Série Mundial de 2002. Duas décadas depois, após a rebatida final morrendo nas mãos do defensor Kyle Tucker do Astros, Baker preferiu não olhar – afinal, não se deve sempre encarar seus fantasmas de frente. Assim que a bola foi pega e a partida encerrada, a reação dos atletas do Houston Astros foi única e digna – se reuniram ao redor de seu comandante e vociferavam “DUSTY, DUSTY, DUSTY”. Comemoravam, pois o mundo era deles novamente e, dessa vez, ninguém poderia contestar.


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