Arquivo de Botic Van de Zandschulp - Fair Play

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André Dias PereiraSetembro 14, 20215min0

Novak Djokovic não parece ter dúvidas, Daniil Medvedev “será em breve o próximo número 1 mundial.” As declarações não foram apenas generosas. Pelo que vimos, o russo é o mais sério candidato à sucessão do sérvio.

Flushing Meadows engalanou-se para prestigiar o número 1 do mundo, que buscava o Calendar Grand Slam e se tornar recordista de Majors (21). Do cinema (Brad Pitt, Di Caprio…) a ex-tenistas  (Maria Sharapova e até Rod Laver, o último a conquistar todos os Majors em um único ano) ninguém quis faltar. Mas todos acabaram por assistir ao primeiro título de Daniil Medvedev. E pelo nível apresentado não deverá ser o último. De facto, o russo jogou, provavelmente, a melhor partida da sua carreira. E não fez por menos. Um triplo 6-4.

O russo jogou a um nível tal que Djokovic nunca teve o jogo controlado. E por mais soluções que tentasse, o russo sempre se superiorizava. E muita dessa superioridade deveu-se ao saque, por vezes aberto, por vezes fechado. Medvedev conquistou 80% dos pontos em primeiro jogo de serviço e nada menos do que 16 ases. Verdadeiramente, o número 2 mundial nunca deu brecha para Djokovic aproveitar. Sobretudo nos dois primeiros sets, roçou a perfeição. E sempre que cometia algum erro, ou Nolan repondia, tirava um às da cartola.

Não há erro em dizer que não foi Djokovic quem perdeu, foi Medvedev quem ganhou. E deve ser valorizado por isso. Afinal, aos 25 anos ele é apenas o terceiro russo a conseguir ganhar um Major. Os outros foram Evgeni Kafalnikov (Roland Garros, 1996, e Australian Open, 1999) e Marat Safin (US Open, 2005, e Australian Open, 2005).

A importância do saque

O título de Medvedev trás ao debate a importância do saque. Ele é a base do seu jogo e da sua confiança, condicionando adversários e a forma como o jogo decorre. Claro que Medvedev tem muitos outros atributos, como a sua força mental e consistência. Sobretudo em piso rápido. O russo lidera o ATP Tour neste tipo de piso com 12 títulos, 17 finais e 147 vitórias desde 2018. Não apenas é credível a hipótese de se tornar o líder da hierarquia mundial como poderá liderar uma nova tendência no ténis mundial, o investimento do peso de jogo no saque e em ases. E quem sabe se Medveded não poderá chegar à liderança do ranking antes de 2022. Isto porque Djokovic diz não ter planos para jogar outros torneios até ao final do ano.

Ao final do US Open, o sérvio desabou todo o peso e expectativa que carregava às costas. Levará tempo para se recompor e, convenhamos, aos 34 anos já deve priorizar torneios para gerir o seu esforço. É pouco expectável que o multicampeão abandone os courts, até porque é quem mais condições tem para se isolar como o maior campeão de Grand Slams. Roger Federer, 40 anos e a contas com 3 cirurgias, poderá mesmo não regressar mais. Nadal, 35 anos, também se encontra reduzido fisicamente e deverá priorizar Grand Slams nesta fase da carreira.

Zverev, ainda não foi desta

Não é por Djokovic ter perdido que a sua qualidade é posta em causa. Seria pouco sério fazê-lo num ano em que ganhou o Australian Open, Wimbledon e Roland Garros. E sobretudo o nível apresentado nas meias-finais mostra que continua a ser o principal jogador do circuito. Para o mal de Alexander Zverev. O alemão não conseguiu repetir a vitória sobre o sérvio nas meias-finais das Olimpíadas de Tóquio e perdeu por 6-4, 2-6, 4-6, 6-4 e 2-6. Zverev, que já ganhou Masters 1000, ATP Master e Ouro Olímpico, continua sem conseguir vencer um Major.

Nesta edição há ainda a destacar outros três nomes: Felix Auger-Aliassime, Carlos Alcaraz e Botic Van de Zandschulp. Após alcançar os quartos de final em Wimbledon, Aliassime chegou agora às meias-finais do US Open, caindo para o campeão (6-4, 7-5, e 6-2). Nos quartos de final deixou para trás outra surpresa, Carlos Alcaraz. O espanhol, 18 anos, eliminou Cameron Norrie, Arthur Rinderknech e Stefanos Tsitsipas. Alcaraz é o 38º do mundo e conquistou este ano o seu primeiro título ATP em Umag (Turquia). Já Zandschulp, oriundo dos qualifying, alcançou também os quartos de final após afastar Carlos Taberner, Casper Ruud, Facundo Bagnis, Diego Schwarzman. Acabou por ser afastado também por Medvedev. Cabe dizer ainda que o campeão russo ao longo de todo o seu percurso perdeu apenas um set. Foi justamente contra o holandês.

Priorizar Marjors abre caminho a nova liderança

Com alguns Masters 1000 ainda pela frente, Medvedev tenta aproximar-se da liderança de Djokovic. Parece ser uma questão de tempo, embora tudo possa mudar em caso de lesão ou algum outro fator mais improvável. Com Federer mais fora do que dentro dos courts, e tendo em conta a intermitência de Nadal, a sua idade, tal como a de Djokovic, é muito provável que a priorização na luta pelo número de Majors abra oportunidades à sucessão do Big-3 na liderança mundial. E ninguém parece tão preparado para isso quanto Medvedev.


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