WEC ruma para o pináculo do automobilismo
Quando em 2021 o Automobile Club de l’Ouest e a FIA aplicaram os regulamentos dos Hypercars no campeonato do mundo de resistência, nada faria prever que hoje teríamos um dos campeonatos mais entusiasmantes do mundo – até porque, se bem se lembram, Toyota lutava sozinha enquanto Alpine tentava ter relevância e a humilde Glickenhaus tentava resistir, mas nem sequer conseguiu fazer o campeonato todo.
Os regulamentos dos LMh/LMDh entraram em 2023 e a “liberalização” das regras, permitindo um extra de originalidade às equipas, atraiu um rol invejável de construtores ao endurance, que promoveu o espetáculo dentro das pistas. Hoje, oito construtoras lutam pela vitória à geral em todas as etapas e todas sonham com a vitória em Le Mans – sonho que foi cumprido pela Ferrari nos últimos dois anos -, mas a perspetiva é que nos próximos anos, mais equipas se juntem à festa.
Em 2026 será a Genesis, com estrutura da Hyundai a entrar. Para 2027, já estão confirmadas as entradas de Ford e McLaren. É também conhecido o interesse de Mercedes e Honda em se envolverem neste mesmo campeonato – no caso dos nipónicos, a ideia seria levar a sua subsidiária, Acura, que já corre no IMSA há vários anos. Se todos estes cenários se confirmarem, em 2028 poderíamos ter 13 construtores a lutar pela geral em Le Mans – esperando, também, que não haja saídas.
Em boa verdade, comparando isto à F1, parece-me claro que em termos de emoção, o WEC caminhará para ultrapassar aquele que é há décadas considerado o pináculo do automobilismo. E reforço que apenas me refiro ao plano desportivo, uma vez que financeiramente, o mundial de endurance está a largas léguas.
O que não torna impossível de igualar, uma vez que um campeonato mais atrativo desportivamente, traz mais espectadores, o que, por sua vez, traz mais patrocinadores para o próprio campeonato e para pilotos e equipas. Mas atenção, se de facto acontecer, demorará alguns anos.
Tudo isto acontece pelo rumo estranho em que a segue a F1, que, apesar de atrair a Audi e Cadillac, e de potencialmente estar a trazer de volta a Toyota, restam no ar as dúvidas sobre se os novos V6 e o novo carro que darão entrada no próximo ano, oferecem aquilo que os fãs necessitam em termos de competitividade, emoção e alguma igualdade no pelotão.
Max Verstappen já afirmou que o carro que tiver o melhor motor sairá beneficiado e que não será fácil para os outros recuperarem do défice de competitividade e não foi a primeira critica feita às regras que ainda não foram postas em prática.
Há ainda um fator a ter em conta: as pistas. O WEC continua a utilizar traçados históricos, tais como Imola, Spa, Le Mans, Interlagos e Fuji, sendo que é esperada a entrada de Silverstone entre 2026 e 2027. A F1, pelo contrário, procura circuitos citadinos, pouco eficazes e nada populares entre os fãs. Las Vegas e Miami são perfeitos exemplos disso, sendo que no próximo ano será Madrid a entrar, numa altura em que estão a ser discutidos traçados nas ruas da Cidade do Cabo e de Banguecoque. E enfim, conhecendo a Liberty como conhecemos, não seria de estranhar que inventassem mais uma pista numa metrópole qualquer nos Estados Unidos.
A verdade é que estas questões importam para os fãs que já cá estavam antes de existir Drive to Survive e, se em 2026, os novos regulamentos correm mal, é perfeitamente admissível que as pessoas comecem a procurar outros tipos de corridas.