O pioneirismo de Tiffany

Thiago MacielNovembro 27, 20205min0

O pioneirismo de Tiffany

Thiago MacielNovembro 27, 20205min0
O que diz a ciência sobre a primeira jogadora transgênero do vôlei brasileiro? Neste artigo conheça um pouco da história de Tiffany.

Tifanny Abreu é a primeira trans a jogar na Superliga. Era uma tarde de domingo, 10 de dezembro de 2017, quando a brasileira fez história. Aos 33 anos, ela entrou em quadra no jogo de seu time, o Vôlei Bauru, contra o São Caetano e se tornou a primeira transexual a atuar na elite do vôlei brasileiro. Mais do que isso, ela se tornou exemplo na luta pela abertura à transexualidade no esporte e símbolo de esperança para tantos outros que, assim como ela, têm o direito de lutar pelos seus sonhos.

O começo

Tifanny sempre soube que era mulher. Mas por falta de informações na época, ela só conheceu o termo transexual aos 19 anos, através de um amigo. E o processo de transição, no entanto, só foi acontecer cerca de oito anos depois, quando estava com 27. Nesse meio tempo, porém, a vida da atleta não foi fácil.

Em meio ao preconceito e ao bullying sofrido na escola e na vida, de maneira geral, a goiana chegou a jogar na Superliga masculina de vôlei, pelos times Juiz de Fora e Foz do Iguaçu, e também em vários países na Europa.
Mas em 2012, a depressão colocou um ponto final no sofrimento de Tifanny.

Ela optou por seguir em frente com o processo de transição e dois anos depois, passou pela cirurgia de redesignação sexual. Na época, ela achava que não poderia mais jogar vôlei, nem feminino, porém seu empresário, explicou que, ao fim da transição e com a documentação correta, ela poderia jogar.

Virada

Foi só em fevereiro de 2017, na Itália, que aconteceu a sua estreia no vôlei. Com 32 anos, ela se tornou a primeira jogadora transgênero do Brasil a entrar em quadra no circuito profissional. Mesmo que “apenas” na segunda divisão do vôlei italiano, o momento foi muito aguardado pela atleta.

Foram cinco anos desde a transição de gênero, quando jogava nas divisões inferiores da Liga Belga masculina e dois desde a resolução do Comitê Olímpico Internacional (COI) que autorizou a participação de atletas trans no esporte mundial.

No ano anterior, ela tinha feito o pedido à Federação Internacional do Voleibol (FIVB) para a sua inscrição na categoria feminina.

Sua transformação, no entanto, é ainda mais antiga. Ela já havia adotado o nome Tifanny na década anterior, quando foi “batizada” por um amigo de um grupo de jogadores de vôlei LGBT.

Tifanny atuando pelo Sesi/Bauru

O que diz a ciência

Em 2003, o COI (Comitê Olímpico Internacional) fez uma resolução que permitia que atletas transexuais participassem dos Jogos Olímpicos, desde que passassem pela cirurgia de redesignação sexual. Em 2016, a obrigatoriedade da cirurgia, no entanto, caiu. Ou seja, basta uma pessoa se declarar trans para ser reconhecida como tal.

Para estar apto(a) a competir em Olimpíadas, os atletas trans precisam se adequar a algumas exigências.

Na regulamentação do COI, a atleta trans deve se identificar como tal há pelo menos quatro anos e estar há pelo menos um ano em hormonioterapia, com níveis de testosterona menor que 10 nmol/L. No caso dos homens trans, a testosterona tem que estar dentro dos níveis de referência para homens e eles devem ter uma declaração que fazem este tratamento para transição de gênero.

Os parâmetros, no entanto, continuam gerando debate. Há quem questione se uma mulher transexual não levaria vantagem ao jogar no feminino.
Entre os requisitos há o tempo mínimo de transição e o nível aceitável de testosterona, o “hormônio masculino”, no sangue. Todos cumpridos à risca pela jogadora.

Conclusão

Desde que começou a se destacar no Brasil, pelo Sesi/Bauru, sua condição de atleta “trans” foi motivo para “culpar” os seus excelentes números. Muitas jogadoras em atividade e já encerradas a carreira com comentários preconceituosos, que não merecem repercussão neste artigo. Inclusive tendo que a jogadora ouvir “Homem é Foda” de um treinador após um ataque da mesma.

A transição em si elimina os vestígios de uma possível vantagem física das atletas transgênero. Em 2017, o técnico do Golem Palmi afirmava que Tifanny já tinha perdido cerca de 30% de sua potência original.

A própria jogadora se diz mais cansada do que o normal e com o tempo de recuperação mais demorado. E realmente o desempenho da ponteira só caiu desde a sua temporada de estreia, estatisticamente falando. Dos 22 pontos de média em 2017, que já tinha partido de uma amostra menor que suas adversárias, baixou para 12 pontos em 2018/2019. Seus números de ataques por set e de efetividade também diminuíram.

Nos rankings da Superliga de 2019/2020 ela foi só a 17ª melhor pontuadora por sets e a 11ª pontuadora no geral. Na temporada de 2017-2018, a dos recordes, suas atuações não levaram o Bauru para além da oitava colocação — em 2016-2017, para se ter noção, o Bauru foi o 5º.

Inclusive os questionamentos sobre sua participação na Superliga Feminina estão diminuindo à medida que o seu rendimento cai. Ou seja, não foi o preconceito que diminui e sim que não se precisa mais fazer queixas de Tifanny Abreu já que a mesma não tem sido mais tão decisiva.


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