Homofobia e voleibol – até onde vai a liberdade de opinião
O desporto ainda procura ser um meio inclusivo e de “casa” para todos, independentemente da proveniência, orientação sexual, raça, etnia ou cultura, mas continua a existir alguma resistência para reconhecer e apoiar aqueles que escolhem assumir as suas preferências. No voleibol, os últimos tempos revelaram comportamentos homofóbicos de um lado, com uma resposta forte e positiva de quem luta pela inclusividade.
Entendendo o caso
Maurício Souza ironizou a bissexualidade de Joe Kent, o atual super-homem, e fez uma publicação homofóbica no Instagram. “Ah, é só um desenho, não é nada demais. Vai nessa que vai ver onde vamos parar”, escreveu na ocasião.
A publicação foi rebatida por Douglas Souza, seu companheiro de seleção, o que gerou uma troca de farpas entre os dois jogadores. Maurício, por sua vez, teve o seu contrato rescindido pelo Minas.
O jogador ainda teve as portas da seleção masculina fechadas pelo técnico Renan Dal Zotto, que confirmou que não irá mais convocá-lo.
Liberdade de expressão
Entre a postagem com teor homofóbico e a rescisão passaram-se duas semanas. Isso porque em um primeiro momento o Minas Tênis Clube não tomou nenhuma atitude por entender que em vez de repudiar a homofobia deveria defender, veja só, a liberdade de expressão de seus atletas. Na verdade, por parte do clube não ia acontecer nada, mas como houve pressão dos patrocinadores em afastar o jogador o clube mineiro não viu outra solução.
Inclusivé em nota divulgada por parte do Minas, o clube relata que a empresa cobrou “medidas cabíveis” “de acordo com o nosso posicionamento inegociável diante do respeito à diversidade e à inclusão”. Confesso que apesar de achar a atitude dos patrocinadores coesa, fico me perguntando se a preocupação deles se baseia pela ética ou pelo lado comercial. Mas, isso não vem ao caso neste artigo.
Só para esclarecer homofobia não é direito de liberdade de expressão, é crime.
A ideia de que opinião não mata e por isso se pode falar qualquer coisa contra qualquer pessoa ou grupo, está errada. Ela está baseada no privilégio de quem sempre pode falar. Contudo, hoje, mais pessoas e diferentes grupos podem falar.
Opinião
Analisando o post que gerou tudo isso, onde o comentário “Ah, é só um desenho, nada demais. Vai nessa que vai ver onde vamos parar’”, posso te responder, Maurício, que vamos parar numa sociedade onde as pessoas são livres e respeitadas, independentemente de sua etnia, cor, gênero e religião.
Sei que este meu artigo sempre teve o intuito de falar exclusivamente de voleibol e talvez eu perca queridos e velhos amigos por causa do que estou escrevendo, mas foi o comportamento abjeto de alguns, nas redes sociais, que me motivou a isso. Se bem que não sei se seria tão ruim assim.
Tenho duas filhas. Suas sexualidades ainda estão em construção e terá o destino que tiver de ter. Não serão os beijos do Superman-pai na Lois Lane, ou os do Superman-filho no namorado, que farão delas uma hétero ou uma homossexual.
E, assim como sua sexualidade, seu caráter também está em construção. Nisso eu posso – e devo! – interferir. E será ensinando a ela os princípios básicos da civilização. Aliás, me admira tantos ‘cristãos’ agirem de encontro à sua aclamada religião.
Não sei se minhas filhas viverão em um mundo melhor. Mas não me furtarei ao bom combate para isso. É preciso aprender com esse episódio: primeiro, que o posicionamento político contra o preconceito deve ser radical, como já denunciava Malcolm X no século passado; segundo, que acatar a diversidade, ou combater a desigualdade social resultante de qualquer discriminação, não pode ser uma conduta cosmética —precisa ser profunda e coerente, se quer alterar a estrutura do sistema infame.
A conduta do esporte contra a homofobia, racismo, machismo, assediadores, entre outro tipo de crime de ódio de toda a sorte precisa ser radical. Não pode haver espaço para quem usa de suas plataformas – e das de seu esporte, clube, federação, torcida – para disseminar preconceitos, fomentar o ódio e perpetuar a infâmia do atual sistema, isso tudo baseado em Liberdade de Expressão e de opinião. Pois, fica evidente que são discurso de ódio transvestidos dessas supostas liberdades constitucionais.
Racismo, homofobia e qualquer tipo de preconceito nos esportes não passarão.