Vemo-nos por aí, Rose

Nuno CanossaSetembro 26, 20244min0

Vemo-nos por aí, Rose

Nuno CanossaSetembro 26, 20244min0
O fim do capítulo NBA para a carreira de Derrick Rose, com Nuno Canossa a se despedir de um talento nato que tentou marcar uma era

26 de setembro de 2024, o dia em que Derrick Rose desiste da NBA, quando esta parece ter desistido de si bem mais cedo. Rose fecha o capítulo final de uma das carreiras mais intrigantes e, simultaneamente, trágicas do basquetebol moderno. O antigo MVP, que em 2011 foi o mais jovem a conquistar esse prémio, despede-se com um legado marcado tanto por um brilho inicial como pelas adversidades que o perseguiram ao longo dos anos. A jornada de Rose é, em muitos aspetos, uma reflexão sobre a fragilidade do corpo humano e a resiliência do espírito competitivo.

Quando Rose entrou na NBA, em 2008, a narrativa ainda não era clara, mas confirmar-se-ia 3 anos depois: ele era o futuro. Escolhido como número um no draft pelos Bulls, o base de Chicago rapidamente ganhou o carinho da cidade e de adeptos por todo o mundo. A sua combinação explosiva de velocidade, agilidade e capacidade de finalizar perto do cesto fizeram dele uma estrela instantânea. Em 2011, com apenas 22 anos, venceria o prémio de MVP, batendo recordes e levando os Bulls a uma posição de destaque na NBA, algo que não acontecia desde os dias gloriosos de Michael Jordan.

No entanto, o basquetebol tem uma forma cruel de redefinir carreiras que parecem destinadas à grandeza eterna. Em abril de 2012, no primeiro jogo dos playoffs, Rose sofreu uma rotura do ligamento cruzado anterior, uma lesão que mudou para sempre a trajetória da sua carreira. O basquetebol nunca o viu da mesma forma — e, de facto, Rose nunca mais foi o mesmo.

O que se seguiu foi uma série de lesões devastadoras, recuperações longas e frustrantes, e um ciclo aparentemente interminável de regressos interrompidos. Aos poucos, a promessa inicial de Rose foi substituída pela realidade de um atleta que lutava simplesmente para se manter em campo. A expectativa deixou de ser “o que mais poderá Rose conquistar?” e passou a ser “conseguirá Rose voltar?”. A resposta, frequentemente, foi dolorosamente negativa.

No entanto, Derrick nunca desistiu. Após uma saída emocional de Chicago, em 2016, passou por várias equipas, incluindo os Knicks, Cavaliers, Timberwolves e Pistons. Entre 2018 e 2019, a carreira de Rose viveu pequenos renascimentos, como os 50 pontos que marcou em outubro de 2018 pelos Timberwolves — um momento catártico que emocionou fãs e críticos, mostrando que, mesmo fragmentado, o talento de Rose ainda estava lá. Contudo, o brilho que emocionou tantos fãs no começo da década 10’s do novo século não era sustentável.

A sua última época na NBA, ao serviço dos Memphis Grizzlies em 2023-24, confirmou o inevitável. Rose tornou-se uma figura de bastidores, raramente em campo, e ocupando mais o papel de veterano de balneário do que de jogador decisivo. Aos 35 anos, com um histórico de lesões que dizimaria qualquer outro atleta, o fim da carreira era apenas uma questão de tempo.

Olhando para trás, é impossível ignorar a sensação de que o basquetebol foi injusto com Derrick Rose. O que teria sido se corpo não tivesse fintado a mente? Que lugar teria na lista de maiores bases de sempre? No mínimo, Rose será memória de perseverança, de capacidade de se reinventar e de aceitar limitações que, por vezes, são impostas pelo desporto e pela vida.

Mesmo nos seus anos mais difíceis, Rose nunca deixou de ser uma figura admirada. A sua humildade e dedicação ao jogo conquistaram adeptos e colegas de equipa, e muitos dos jovens jogadores da NBA cresceram a idolatrá-lo. E, para muitos, jogadores ou meros fãs, será sempre difícil aceitar que o jovem que incendiou a liga com o seu flashiness e atleticismo, o base que parecia estar destinado a ser a nova cara da NBA se retire com tão pouco para provar o que de melhor demonstrou nos pavilhões norte-americanos. Ainda assim, feitas as contas, Rose despede-se de uma liga, que já se tinha despedido do próprio umas épocas atrás, com três nomeações All-Star, uma nomeação All-NBA e o prémio de Rookie do Ano. Confirmando-se o último adeus ao MVP mais jovem de sempre e a um dos maiores “e se?” da NBA.


Entre na discussão


Quem somos

É com Fair Play que pretendemos trazer uma diversificada panóplia de assuntos e temas. A análise ao detalhe que definiu o jogo; a perspectiva histórica que faz sentido enquadrar; a equipa que tacticamente tem subjugado os seus concorrentes; a individualidade que teima em não deixar de brilhar – é tudo disso que é feito o Fair Play. Que o leitor poderá e deverá não só ler e acompanhar, mas dele participar, através do comentário, fomentando, assim, ainda mais o debate e a partilha.


CONTACTE-NOS