Uma Super Patrícia Sampaio

João CamachoJulho 11, 20256min0

Uma Super Patrícia Sampaio

João CamachoJulho 11, 20256min0
Patrícia Sampaio ganhou mais uma medalha, desta feita nos Campeonatos do Mundo de Judo como nos conta João Camacho

Os Campeonatos do Mundo de Budapeste ficaram marcados por um altíssimo nível competitivo, com muitas surpresas, e repletos de momentos épicos, com destaque, no que respeita à prestação portuguesa, para Patrícia Sampaio, que terminou com um bronze, na disputadíssima categoria dos 78Kg.

Super Patrícia!

Quando nos faltam adjetivos para qualificar a excelência e dimensão das conquistas de um atleta, é bom sinal, e é exatamente o que acontece com Patrícia Sampaio, que conquistou a 3.º posição, Bronze, nos Campeonatos do Mundo que decorreram em junho, na capital da Hungria, Budapeste. No espaço de um ano, Patrícia conquistou o Bronze nos Jogos Olímpicos de Paris, o Título Europeu e agora o Bronze nos Campeonatos do Mundo!

A sua capacidade de trabalho, a superação, a mentalidade ganhadora, o compromisso e a humildade, são algumas das características que definem esta enorme atleta, oriunda de Tomar, onde ainda hoje representa a centenária Sociedade Filarmónica Gualdim Pais, provando que é possível perseguir o sonho, mas é preciso “querer muito” e estar disposta a sacrifícios!

Patrícia entrou nestes Campeonatos com a cabeça de série número da categoria dos 78Kg, afinal, era a líder do ranking mundial. Ficou isenta da 1.ª ronda, e foi derrotando, sucessivamente Petrunjela Pavic da Croácia,  Minju Kim da Coreia do Sul, Karol Gimenes do Brasil, e na meia-final reencontrou a fortíssima judoca alemã, Anna Monta Olek, que tinha derrotado na final dos Campeonatos da Europa. Desta vez a história foi diferente, Olek preparou-se muito bem para este confronto e anulou, com sucesso, os pontos fortes da judoca portuguesa, e apesar do equilíbrio, marcou uma vantagem de Yuko a 40 segundos do fim do combate, que acabou por ser decisiva.

Patrícia acusou alguma pressão, que resultou em dificuldades em contrariar a estratégia da alemã que tinha dominado em absoluto na final do Campeonato da Europa. Ficou a sensação de injustiça e frustração, mas era preciso recuperar, pois a competição ainda não tinha acabado, faltava disputar a medalha de bronze.

Neste combate, Patricia defrontou a Chinesa Zhenzhao Ma, sua companheira de pódio nos Jogos de Paris. Apesar de se perspetivar um combate muito complicado, Patricia entrou comprometida e muito concentrada, não dando qualquer hipótese à judoca chinesa, que acabou excluída e derrotada por castigos. Ficou a clara sensação de que Patricia podia ter chegado mais longe, mas isso não belisca a enorme prestação que valeu uma importante medalha de bronze.

Patrícia Sampaio medalhada (Foto: IJF)
Patrícia Sampaio medalhada (Foto: IJF)

Participação Portuguesa nos Campeonatos do Mundo de Budapeste

No que respeita à prestação da restante comitiva, o destaque vai para Otari Kvantidze (Oto), e o 7.º lugar na imprevisível e muito competitiva categoria dos 73Kg. Apesar de ter pela frente um sorteio terrível, na segunda ronda foi protagonista de um dos momentos marcantes destes Campeonatos, ao eliminar o judoca do Azerbaijão Hidayat Heydarov, era o Campeão do Mundo em título e atual Campeão Olímpico desta categoria de peso. Seguiu-se uma vitória muito complicada frente ao norte americano Jack Yonezuka, Vice-Campeão do Mundo de Juniores de 2023, em Odivelas.

Nos quartos-de-final, acabou por ser derrotado pelo experiente judoca italiano, Manuel Lombardo. Relegado para a repescagem, Oto acabou por cair a segundos do fim, frente ao forte adversário dos Emiratos Árabes Unidos, judoca de origem russa, país que chegou a representar em importantes competições, Makhmadbek Makhmadbekov. Oto deixa, mais uma vez, excelentes indicações, com uma prestação consistente e uma clara afirmação e confirmação do seu talento e de que é um forte candidato à presença olímpica em Los Angeles.

Destaco também João Fernando, com um honroso 9.º lugar, colocou fora da competição um dos candidatos ao pódio, o bronze olímpico do Tadjiquistão Somon Makhmadbekov, e Tais Pina, igualmente 9.ª posição, que voltou a dar excelentes indicações, mas cometeu, novamente, erros de pormenor que prejudicaram a sua caminhada.

Foi a judoca que fez tremer, e chegou a dominar a japonesa Shiho Tanaka, que viria a conquistar o título mundial. Taís é um diamante em bruto e é importante que o processo de lapidação decorra com cuidado. É uma judoca muito nova, já com uma presença olímpica, e terá de se focar nos detalhes, que a este nível fazem toda a diferença. Por exemplo, a gestão das várias fases do combate, onde por vezes denota falhas. Sou fã desta judoca e acredito que tem todas as condições para chegar ao pódio em qualquer competição onde marque presença, sejam Campeonatos do Mundo ou Jogos Olímpicos.

Pela negativa, o destaque vai para Jorge Fonseca, que entrou muito bem no seu primeiro combate, com uma clara vitória por ippon, mas que, no segundo combate, acabou por pagar cara a desatenção, quase infantil, de virar as costas ao adversário, que imediatamente aproveitou a generosidade para o projetar.  O Bicampeão do Mundo da categoria dos 100Kg ficou pela segunda ronda, num sorteio bastante generoso que poderia ter culminado na disputa de uma medalha.

Em jeito de Balanço, assistimos a uns Campeonatos do Mundo dominados, como esperado, pelo Japão, que terminou com 6 medalhas de ouro (títulos mundiais), 4 de prata e 4 de bronze. Num universo de 93 países Portugal termina numa honrosa 20.ª posição, devido ao 3.º lugar de Patrícia Sampaio e ao 7.º lugar de Otari Kvantidze.

Foram uns campeonatos emocionantes, altamente competitivos, e para que o leitor tenha ideia, nenhum campeão do mundo que marcou presença, conseguiu renovar o seu título, e vários campões olímpicos ficaram nas eliminatórias.

Na sempre emocionante competição de equipas mistas, assistimos a uma autêntica surpresa, ou talvez não, a vitória da equipa da Geórgia, que reconhecidamente é uma potência no judo masculino e nestes campeonatos começou a dar cartas no feminino (o título mundial de Eteri Liparteliani nos 57Kg femininos é a prova de uma evidente aposta da federação deste país). A Geórgia derrotou na meia-final o fortíssimo e eterno candidato ao título Japão e derrotou na final a Coreia do Sul.  A surpresa, pela negativa, foi a dececionante prestação da equipa bicampeã olímpica, a França, que terminou na 7.ª posição.

Se dúvidas houvesse, ficou demonstrado que o nível do judo mundial está altíssimo, a roçar, e por vezes a ultrapassar, a excelência. A realidade é que não há espaço para amadorismo, para desorganização, para incompetência e desleixo, a mensagem é clara e espero que, quem por cá tem responsabilidade na organização e gestão da modalidade esteja atento e seja competente.

Otto vs Heydarov 73kg (Foto: IJF)
Otto vs Heydarov 73kg (Foto: IJF)

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