Treino (novamente) em confinamento – a reflexão a fazer
Muitas são as vozes que se têm pronunciado sobre a prática desportiva em Estado de Emergência, umas mais favoráveis à abertura de algumas atividades, outras menos. No entanto, e como já aqui falámos em artigos anteriores, as marcas desta prolongada paragem quer do ponto de vista do desenvolvimento técnico-tático, quer do ponto de vista psicológico são inegáveis. Desta forma, e tendo em conta todas as restrições em vigor atualmente, como “seguramos” a prática desportiva (e o treino) no nosso desporto? Que tipo de atividades devemos incentivar? Como acompanhamos o processo?
Nem todas as modalidades conseguem adaptar-se às contingências devido à sua especificidade, e a patinagem de velocidade é uma das que tem obstáculos difíceis de ultrapassar. Atenção: difíceis, não impossíveis! Existe todo um conjunto de capacidades físicas que são suscetíveis de serem trabalhadas mesmo em situação de confinamento.
Muitas das vezes passa um pouco por “sairmos da caixa” e pensarmos nos reais objetivos de determinada tarefa que utilizamos nos treinos mais convencionais, para depois utilizarmos estratégias diferenciadas. Felizmente, a classe dos treinadores tem dado provas de que imaginação e criatividade fazem parte das suas competências, e fruem exemplos nas redes sociais de atividades adaptadas tentando ir ao encontro de, pelo menos, algumas das capacidades necessárias ao desenvolvimento desportivo.
Numa modalidade com a época a coincidir com o ano civil, esta é ainda uma fase de reparação geral, com um âmbito de treino muito amplo e passível de ser trabalhado ainda que com algumas restrições. É comum, mesmo em anos ordinários, a utilização da corrida e/ou bicicleta, trabalho de ginásio e trabalho de técnica sem patins. Assim, podemos programar um nível básico de treino sempre com uma visão de preparação da base de treino para a época. Tendo em conta a previsível diminuição do espaço temporal para a realização de competições, sabemos também que essa preparação deverá ter o foco num período competitivo extremamente intenso, colocando no topo das prioridades a capacidade aeróbia, fortalecimento muscular, trabalho de estabilidade, propriocetividade e prevenção de lesões.
A maior dificuldade será criar estratégias motivadoras para a formação, sabendo que as vertentes mais físicas não são tão relevantes, mas onde a agilidade, a propriocetividade, a velocidade de reação e a coordenação são fundamentais. Nos escalões mais jovens importa acima de tudo que não se perca o foco na modalidade e se mantenha algum nível de treinabilidade / compromisso com o treino, desenvolvendo trabalhos adaptados a cada realidade (o que nem sempre se afigura numa tarefa simples…)
Com tudo isto, o que penso é que mesmo respeitando todas as normas sanitárias, é possível trabalhar com os nossos atletas, desde os mais novos aos mais velhos, adequando as nossas abordagens aos tempos que vivemos. Interessa, acima de tudo, que não paremos, sob pena de hipotecarmos anos de trabalho e desenvolvimento dos nossos jovens, bem como tentar minimizar a perda (inevitável) de nível competitivo dos atletas mais velhos.
Por isso, mãos à obra, caros colegas!