O mundo será de Sydney Mclaughlin já em 2019?

Pedro PiresNovembro 12, 201810min0

O mundo será de Sydney Mclaughlin já em 2019?

Pedro PiresNovembro 12, 201810min0
A atleta dos Estados Unidos da América parece estar imbatível e 2019 pode ser um ano em grande! Sydney Mclaughlin aos olhos do Planeta do Atletismo

É uma das questões que mais incomodam os verdadeiros fãs de Atletismo: “quem será o próximo Bolt?” Incomoda pelos mais variados motivos. Primeiro e, principalmente, porque a pergunta tem subjacente a certeza de que teremos um novo Bolt e, pior de que necessitamos de um novo Usain Bolt. Não precisamos.

Usain Bolt foi e é um dos melhores atletas da história de qualquer desporto. Alcançou feitos espetaculares no Atletismo e em concreto na disciplina onde existe maior concorrência, tendo sucessivamente batido os atletas da maior nação da velocidade mundial.

Fora das pistas, a sua personalidade proporcionava também um espetáculo extra e o jamaicano possui um número de fãs e seguidores como nunca um outro atleta deste desporto teve.

No entanto, o Futebol sobreviveu sem Maradona e irá sobreviver sem Messi e Ronaldo. O Basquetebol sobreviveu sem Michael Jordan e irá sobreviver sem Lebron James. O Ténis sobreviveu sem Pete Sampras e irá sobreviver no pós Roger Federer.

Aliás, tendencialmente o efeito que essas estrelas têm na promoção das modalidades é o de trazer novos fãs para as mesmas e, mesmo que nem todos se mantenham após a sua retirada, grande parte o fará. Há ainda assim outro factor que incomoda na retórica do “novo Bolt”.

É que não é necessário “um novo Bolt”. As novas estrelas aparecerão e serão elas próprias, sem colagens a rótulos. Os próprios atletas que são sucessivamente confrontados com esta questão – principalmente na velocidade, a pergunta é praxe em qualquer conferência de qualquer meeting pelo mundo fora – se mostram desconfortáveis, revelando um tipo de pressão extra quando se veem rotulados dessa forma.

Pessoalmente, também não gosto e já reviro os olhos cada vez que oiço a expressão “the next Usain Bolt”, mas se há atleta que pode ocupar o espaço de super-estrela do Atletismo mundial esse alguém é uma mulher, uma jovem norte-americana de nome Sydney McLaughlin.

A marca Sydney Mclaughlin

Foto: New Balance

Colocando no contexto, e para se ter alguma noção das expectativas presentes sobre a jovem norte-americana, basta observarmos a forma como a New Balance anunciou a sua contratação, apenas após um ano de desporto universitário.

Segundo a imprensa norte-americana, todas as grandes marcas desportivas apresentaram propostas pela jovem, que representou em 2018 a Universidade de Kentucky, que acabou por preferir a New Balance, não se sabendo ao certo as razões.

Especula-se, no entanto, que a NB procura aqui fazer um pouco o que a Puma fez no Atletismo antes: um catálogo mais curto de atletas, mas contando com uma grande estrela, identificável em qualquer parte do mundo.

Um artigo da Let’s Run, publicado um mês antes do anúncio da assinatura pela New Balance, estimava que o contrato da jovem de apenas 19 anos (feitos em Agosto) poderia ultrapassar os 1.5 milhões de dólares norte-americanos logo no seu primeiro ano, ultrapassando nomes como Christian Coleman, Noah Lyles ou Justin Gatlin.

Sendo este um valor realista ou não, percebe-se por aqui o quão significante já é a “marca Sydney McLaughlin”. Querem perceber o seu impacto nas redes sociais? Os mais de 300.000 seguidores que a jovem tem no Instagram são praticamente o dobro da soma dos 3 mais promissores talentos norte-americanos no masculino (Coleman, Lyles e Norman)!

Antes mesmo de ter assinado com a New Balance, e poucos depois de ter anunciado a prematura profissionalização, Sydney assinou um contrato com a agência de talentos William Morris Endeavor. Uma agência que a nós poderá dizer pouco, mas que é conhecida por ser bastante seletiva quanto aos talentos que representa, com nomes como Serena Williams ou Novak Djokovic no desporto ou Emma Stone e Denzel Washington na representação.

No Atletismo, a sua única representante? Allyson Felix, pelo que dá para perceber as esperanças que colocam em Sydney.

Por aqui, pensamos que já fica clara a máquina que já está por trás de Sydney McLaughlin mesmo antes de ter iniciado a sua carreira profissional. Sim, no Atletismo, tal como em outros desportos, existem muitas “next big things” que não passam disso mesmo e nunca singram.

Mas nunca, repito, nunca existiram contratos e expetativas nem a metade da dimensão que atinge já o estatuto de Sydney. É um caso impar e é assim que deve ser tratado. Mas porque a atleta natural de New Jersey é assim tão especial?

A atleta Sydney McLaughlin – Porquê tão especial?

Não se deixem enganar pela imagem nem pelo estilo descomplexado da jovem norte-americana. O factor que a fez em primeiro lugar destacar-se foi mesmo desportivo. Observem o quadro abaixo:

A lista, retirada do site da IAAF, representa os 10 tempos mais rápidos sub-20 da história dos 400 metros barreiras, a disciplina-especialidade de Sydney McLaughlin. Sim, não estão a ver mal. 9 dos 10 são dela! E correu em 52.75. Antes dela, o recorde era 54.40!

Uma diferença brutal e que, muito provavelmente nunca será repetida. Mesmo que o recorde júnior um dia caia, ninguém baixará 1.65 segundos! O recorde mundial é 52.34 segundos…

A marca, aliás, coloca já a norte-americana como a 13ª sénior mais rápida de sempre e fê-lo num ano em que dividiu as atenções com outras provas outdoor e indoor, para corresponder às exigências da sua Universidade em primeiro lugar, mas também do seu técnico de então, Edrick Floréal, que não queria que a jovem se focasse já em apenas um evento. E fez todas as provas de 2018 quando ainda tinha 18 anos, anunciando o final da época logo após o final do campeonato universitário no início de Junho.

É a recordista mundial juvenil e júnior dos 400 metros barreiras e não esconde por nada que o seu grande objetivo é atacar o recorde mundial o mais rapidamente possível. Ao mesmo tempo, garante que os seus horizontes não se esgotam nos 400 com barreiras e os seus resultados demonstram-no.

Fez uma única prova de 400 metros, sem barreiras, ao ar livre em 2018 e correu essa prova em 50.07, marca que a colocou imediatamente como a segunda sub-20 norte-americana mais rápida da história (apenas atrás de Sanya Richards-Ross) e a sexta mais rápida de todo o mundo!

Na distância dos 400 metros em pista coberta, é a recordista mundial júnior (50.36 no ano passado) e juvenil. Como júnior, tem 6 dos 10 tempos mais rápidos na distância sem barreiras em pista coberta!

Apesar de a atleta ter sempre dado preferência aos 400 metros com barreiras, com algumas incursões para a distância sem barreiras (principalmente em pista coberta, também pela ausência da distância com barreiras indoor), algumas vozes consideram que ela também tem a aptidão para tentar distâncias mais curtas, nomeadamente os 200 metros. E, apesar de ter feito a distância escassíssimas vezes, os seus resultados confirmam-no.

Em 2018 correu a distância em 22.39 ao ar livre (na sua única prova do ano), marca que a colocou como a 4ª júnior mais rápida de sempre! Na menos corrida distância em ambiente indoor, fê-lo em 22.68, marca que a coloca também, curiosamente, como a 4ª mais rápida de sempre. E apenas fez a distância indoor em dois eventos durante o ano.

A jovem já foi campeã mundial juveil com apenas 15 anos (Foto: Cosmopolitan)

Em termos de palmarés, a juntar aos óbvios e incrivelmente fáceis títulos internos no exigente desporto escolar e universitário norte-americano, a atleta já foi campeã mundial juvenil dos 400 metros barreiras em 2015, quando ainda tinha apenas…15 anos.

Participou nos Jogos Olímpicos do Rio (depois de incrivelmente se ter qualificado nos Trials norte-americanos com apenas 16 anos), mas mostrou-se frustrada por não ter passado das meias-finais apesar do enorme feito alcançado. Confessou ter aprendido com a experiência e que voltará aos grandes palcos mais forte. Parece não haver dúvidas disso.

O que o futuro lhe reserva

É um chavão falar de um futuro incerto para qualquer jovem que acaba de completar os 19 anos. Tudo pode correr conforme o planeado, tudo pode correr ao contrário. No entanto, é neste momento claro que existem muitas mais probabilidades de vermos Sydney McLaughlin no topo do mundo do que de a esquecermos rapidamente.

Ainda assim e se o sucesso parece uma enorme probabilidade futura, não está assim tão claro quando, onde e como. No ano passado, Sydney McLaughlin fazia parte de uma das principais equipas de barreiristas dos EUA (e do mundo).

O seu grupo de trabalho era composto por atletas como Kendra Harrison (a recordista mundial dos 100 metros com barreiras), Kori Carter (a campeã mundial dos 400 com barreiras), Omar McLeod (o campeão mundial e olímpico dos 110 com barreiras) ou Jasmine Camacho-Quinn (jovem porto-riquenha de 22 anos, que foi este ano a 3ª mais rápida a nível mundial nos 100 barreiras, ainda como universitária).

Edrick Floréal e Kendra Harrison trabalharam com Sydney em 2018 (Foto: T&F News)

Acontece que em Junho, uma “bomba” rebentava no circuito norte-americano e o técnico que liderava esse grupo de treinos anunciava a saída de Kentucky 6 anos depois de para lá se ter mudado (depois de 14 anos em Stanford) e iria agora para o Texas!

Trabalhando agora para a Universidade local, Floréal “levou” consigo Kori Carter ou Kendra Harrison, que desde logo confirmaram a sua mudança para o Texas para acompanhar o técnico que fazem questão de constantemente elogiar em público. O mesmo não aconteceu com Sydney e Omar McLeod. E, embora não existam informações oficiais, Ato Boldon revelou que a jovem deixou mesmo o grupo de Floréal.

Essa mudança de grupo de treino, de treinador e a nova realidade do profissionalismo, configuram uma nova realidade para a jovem norte-americana, o que torna ainda mais incerto o que exatamente podemos esperar dela no futuro e, em especial, no futuro imediato. Será que a veremos no circuito indoor a tentar somar recordes, já como sénior?

É provável que sim. Afinal, a New Balance tem apostado forte na pista coberta, sendo a organizadora do meeting de Boston, onde anualmente se atacam recordes individuais ou de estafetas.

Será que veremos a jovem no circuito europeu? O longo calendário de 2019 parece o ideal para começar essa aposta e preparar o ataque aos Mundiais. Será que a veremos em Doha? Em apenas um evento? Qual? Muitas questões que estão por responder, mas também uma grande certeza: o Atletismo vive dias pujantes com bastantes nomes promissores, ainda assim, nenhum desses nomes parece dar tantas garantias quanto Sydney McLaughlin. O mundo lhe pertencerá. Falta saber quando.

Foto: My Central Jersey

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