Seleções Regionais de XV Femininas – mais um degrau na escada da evolução
No passado dia 14 de Janeiro tiveram lugar os primeiros treinos de Seleções regionais femininas de XV (Norte/Centro na Moita da Anadia e Lisboa/Sul o Jamor) que manifestaram uma interessante adesão e deixaram uma atmosfera promissora para o próximo treino e jogo a dinamizar nos dois próximos fins-de-semana.
Deve destacar-se o interesse e compromisso da Federação Portuguesa de Rugby na preparação destas equipas, que no caso de Lisboa contou com a presença dos treinadores Tomaz Morais, Henrique Garcia, Martim Aguiar e Rui Carvoeira, uma concentração de técnicos invulgar para o contexto do rugby feminino, que muito se saúda.
Paralelamente, foram dinamizadas nos mesmos locais, as seleções regionais de sub-18, procurando igualmente estimular e potenciar este escalão de formação que importa desenvolver e consolidar.
No Jamor, as jogadoras seniores de um conjunto muito alargado de equipas da área metropolitana de Lisboa, (que contou inclusivamente com jogadoras vindas do CRÉvora que estão a reorganizar a sua equipa feminina) fizeram por bem aproveitar estes raros momentos em que puderam treinar XV e com um número de jogadoras que permite uma dinâmica e alegria de jogo nem sempre possíveis no contexto dos seus clubes.
Com a perspetiva de aprofundar o conhecimento relativo ao Movimento Geral do Jogo de XV, as jogadoras foram evoluindo por um conjunto de exercícios que procuraram estimular a observação e interpretação da defesa, a comunicação e a tomada de decisão, procurando um sistema de continuidade/progressão entendido ajustado às características das jogadoras nacionais.
Se por um lado ficou bem patente o empenho e compromisso de todas, que por estes dias esquecerão as naturais rivalidades entre equipas e construirão em conjunto estas equipas regionais, também se diagnosticaram algumas lacunas que importa abordar, designadamente ao nível da técnica individual.
A inconstância da direção, velocidade e tensão do passe, a receção da bola no peito e a dificuldade manifesta por algumas no transporte da bola nas duas mãos, limitou muitas vezes a dinâmica do movimento coletivo, condicionando as soluções de procura e ataque do espaço disponível, tão precioso no Rugby de XV.
Importa realçar que um grande número das jogadoras presentes nunca terá jogado XV e terá certamente dificuldade quando o contacto não for condicionado e surgir a necessidade de acudir a um grande número de rucks, com a novidade do jogo no chão com um maior número de jogadoras a chegar e contestar o espaço e a posse de bola.
A dinâmica do movimento coletivo vai então depender da eficácia e velocidade de reciclagem da bola, sendo que o atraso de poucos segundos na disponibilização desta significará muitas vezes a reorganização da defesa e o retomar de movimentos para provocar a concentração da defesa e a reconquista de novos espaços a explorar.
A técnica de contacto vai certamente ser desafiada nos próximos treinos (particularmente no jogo!), sempre no sentido da conquista da linha da vantagem que obriga a defesa a recuar e possibilita o jogar nas suas costas, abrindo normalmente boas perspetivas ao ataque se a execução for competente e rápida.
Se uma das bondades da variante de Rugby de X, que teve este ano um Circuito Nacional Feminino muito participado, é o de ter formações ordenadas com 5 jogadoras, importará agora acrescentar uma terceira linha e construir a solidez desta fase estática para que se chegue ao rugby de XV, que permita acolher e integrar um maior número de jogadoras. Não será razoável esperar que isto aconteça espontaneamente mas importa que os clubes desenvolvam algumas iniciativas, que podem e devem ser catalisadas pela Federação.
Não sendo ainda evidente para todos os responsáveis do rugby feminino que se deve caminhar para uma igualdade de género no rugby nacional, fica evidente a bondade da opção estratégica da Federação que foi muito acarinhada pelas jogadoras selecionadas. Ficou óbvio para todos que se estão a dar os primeiros passos, que merecem continuidade e investimento, tendo presente que construir é bem mais demorado e trabalhoso do que desfazer o que existe.
Cabe a elas garantir o sucesso destas e outras iniciativas que daqui decorram, para que em poucos anos se consiga aumentar consideravelmente o número de praticantes, aumentar os escalões de formação (a qualidade exige tempo!) e podermos assistir a competições de XV estruturadas e desejavelmente, equilibradas.
Com o tempo virá a possibilidade de uma representação nacional feminina de XV. Quando lá chegarmos, podemos acreditar que estamos no rumo certo do desenvolvimento do Rugby feminino em Portugal.