Seis Nações 2019: é para ir ao Grand Slam de novo, Irlanda?

Francisco IsaacJaneiro 15, 20197min0

Seis Nações 2019: é para ir ao Grand Slam de novo, Irlanda?

Francisco IsaacJaneiro 15, 20197min0
Depois de um Grand Slam em 2018, uma vitória frente aos All Blacks e o prémio de melhor Selecção do Mundo, a Irlanda entra em 2019 pronta para mais. Vão conseguir manter o seu reinado na Europa?

Os campeões. Os maiores da Europa e do Mundo. Os que derrotaram os All Blacks. Os actuais Grand Slammers, estão aí para a revalidação com a equipa praticamente a 100% e com uma vontade de voltar a mandar neste Velho Continente… mas será que vão consegui-lo?

Vão ser umas Seis Nações especiais até pelo “adeus” de Joe Schmidt como seleccionador da Irlanda, e neste farewell o ideal seria a revalidação do título, algo que já conseguiram fazer por uma vez no século XXI, precisamente com o homem que os comanda agora.

Mas terão os campeões a “fome” necessária para ir em busca de novo Grand Slam? Vamos perceber o que há de novo, velho e igual nos campeões em título

A ERA DAS SOLUÇÕES EM EXCESSO E DA MULTIPLICIDADE DE OPÇÕES TÁCTICAS

Ainda sem convocatória oficial da Irlanda (que estará para breve), há algumas certezas da maioria dos nomes que vão actuar nas Seis Nações como Rory Best, Jonathan Sexton, Garry Ringrose, Robbie Henshaw, Tadhg Furlong, Dan Leavy, Devin Toner, Rob Kearney, Sean O’Brien, Cian Healy, Josh Van der Flier, Peter O’Mahony, Conor Murray, CJ Stander, Joey Carbery, Jordan Larmour, entre outros tantos.

No meio destes nomes é importante destacar que: Conor Murray está recuperado depois de alguns meses lesionado e vai vestir a camisola de nº9; Sean O’Brien até ver está pronto para ser chamado, depois de constantes lesões a surgirem no caminho do asa; e Johnny Sexton está lesionado mas regressa dentro de 1 semana à acção.

A parte central desta Irlanda passa por manter os líderes de equipa e os atletas mais experientes no topo como os três já especificados, para além de Rory Best, CJ Stander, Rob Kearney e Cian Healy. Estes nomes, em especial do capitão e talonador, são fundamentais para manter toda a lógica e estratégia da Irlanda que passa muito por um jogo exigente a nível de construção de fases de jogo, criando uma alta e contínua  intensidade de dinamismos até que surja uma rotura defensiva nos seus adversários.

Foi assim que fizeram-no contra a Nova Zelândia, Inglaterra, Austrália (mesmo assim foram os Wallabies a levantar mais problemas aos irlandeses durante as Series do Verão passado) e até à saída de Schmidt não vão mudar. É uma estratégia de alto risco que necessita dos jogadores certos e neste momento a Irlanda tem o luxo de não só ter o XV certo como dos suplentes que mantêm o mesmo ritmo.

Hipoteticamente, e se não se derem lesões/suspensões até ao início das Seis Nações este será o XV titular:

1- Tadhg Furlong; 2- Rory Best; 3- Cian Healy; 4- James Ryan; 5- Iain Henderson; 6- Peter O’Mahony; 7- Sean O’Brien; 8- CJ Stander; 9- Conor Murray; 10- Johnny Sexton; 11- Jacob Stockdale; 12- Bundee Aki; 13- Garry Ringrose; 14- Keith Earls; 15- Rob Kearney

Esta é o setup com mais probabilidade de vir a tomar o lugar, sendo que existem algumas possíveis dúvidas: Dan Leavy pode ser o asa-aberto (7) a começar de início invés de Sean O’Brien, tanto pela forma que tem vindo a apresentar (está a contas com uma pequena lesão mas recupera a tempo do 1º jogo) como pela maior velocidade que dá as acções de placagem e luta pelo turnover; Jordan Larmour é um sério candidato a ficar no lugar de defesa, ocupado até agora por Rob Kearney. O atleta do Leinster de 21 anos é um dos melhores a explorar as linhas de corrida, saindo em alta velocidade e com uma passada que desequilibra a defesa contrária por completo; e Chris Farrell do Munster pode lutar pelo lugar de Ringrose.

Olhando para isto, a Irlanda até ao momento tem todos os grandes nomes prontos para atacar o bicampeonato e a forma como as suas franquias têm actuado tanto no Pro14 ou na Heyneken Champions Cup demonstra que estão no topo das suas faculdades.

Mas será assim tudo perfeito e inquebrável? Em que pontos é que os campeões em título podem ficar mais “expostos” e permeáveis? Vejamos então o que alguns pontos mais frágeis da Irlanda e que não podem surgir em jogos frente ao País de Gales e Inglaterra, por exemplo.

A EXIGÊNCIA DE MURRAY, O COMANDO DE SEXTON E A DUREZA DE STANDER

Um dos pontos-fortes do Trevo é poder contar com algumas vozes de comando e de liderança dentro de campo que não só passa pelo capitão Rory Best, como se estende a Johnny Sexton, CJ Stander, Conor Murray ou Peter O’Mahony, atletas que se assumem como os exemplos-máximo desta selecção. Mas uma lesão de algum destes pode pôr em risco parte da estratégia de Joe Schmidt?

Se tomarmos como exemplo o encontro frente aos All Blacks, em que Conor Murray não jogou por lesão, a resposta seria facilmente um “não”. Kieran Marmion foi chamado a assumir o papel de formação e não falhou, mostrando-se rápido e enérgico, operando bem em redor do ruck, controlando com excelência o seu homologo neozelandês, tendo criado uma boa ligação com o Johnny Sexton.

Contudo, e se Sexton ficar de fora ou se O’Mahony e Stander se lesionarem, será que a máquina carbura da mesma foram? A Irlanda sofreu apenas uma derrota em 2018, frente à Austrália no primeiro jogo das Series de Junho, no qual o médio-de-abertura falhou por opção da equipa técnica irlandesa. Os campeões das Seis Nações pareceram algo erráticos em certos momentos de jogo, muito pela falta de capacidade de voz e comando por parte de Joey Carbery.

O jovem médio-de-abertura tem categoria e um poder de imaginação quase único (muito similar ao tipo de nº10 que é Beauden Barrett) mas falta-lhe aquela capacidade de liderança e de saber calcular os timings e ritmos de jogo com melhor acutilância, ou seja, sem Sexton uma parte da estratégia montada acaba por ruir com alguma facilidade.

Sem os maiores carriers positivos (que efectivamente ganham constantes metros) na avançada como CJ Stander, Tadgh Furlong e Peter O’Mahony a Irlanda acaba por ficar algo órfã nesse sector. O’Mahony não só é um carrier de qualidade, como um dos melhores “pescadores” no breakdown, sendo muito difícil de removê-lo após este se lançar à oval no chão. É como Sean O’Brien nesse sector, um autêntico canivete suíço que facilmente passa da placagem para a luta no chão e saque de bola, e sem qualquer um destes nomes a tarefa acaba por ser titânica.

Sem a efectividade na luta no ruck, no impacto de trabalho no contacto, no ditar do que fazer em campo ou na melhor estratégia a seguir, a Irlanda fica exposta a selecções que gostam de se impor pelo ritmo físico e espírito de luta alto. Não acontecendo isto, será muito difícil alguém bater a Irlanda nos moldes actuais, necessitando de realizar uma exibição de igual perfeição para superar este enorme desafio.

A estratégia de Schmidt passa muito pela eficácia a nível da placagem, ataque no breakdown, aceleração na linha-de-defesa colocando uma pressão bem trabalhada que tira todo o “oxigénio” e espaço do outro lado, isto no que toca à defesa. Em relação ao ataque, a Irlanda apresenta-se agressiva na luta pela recuperação dos pontapés de Conor Murray, exigente na saída rápida de unidades, dinâmica e dura ao som de Bundee Aki ou Rob Kearney, supra-veloz e excêntrica ao ritmo de Stockdale e Earls, entre outras qualidades.

Têm tudo para sair das Seis Nações 2019 como campeões, podendo chegar ao 5º título na prova Europeia nos últimos 11 anos.


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