Seis Nações 2018 – França: terá o Champagne azedado de vez?
Primeiro artigo de antevisão das NatWest Six Nations 2018 (mudou de RBS para NatWest devido ao novo acordo comercial) e atacamos logo um dos seis participantes que está mais “adoentado”… a França. Desde o despedimento de Guy Novés, à falta de ideias para reformular a forma como jogam ou o futuro entorpecido, os Les Bleus estão à beira de um precipício.
Os últimos anos não têm sido simpáticos para os franceses, muito pelo contrário, já que em 20 jogos perderam 13, estando actualmente numa série de seis jogos sem ganhar, com as derrotas na África do Sul (foram trucidados pela equipa de Alistair Coetzee) contra os Springboks durante os Amigáveis de Verão e duas derrotas e um empate (contra o Japão) durante o período de Inverno.
O rugby francês não só foi “fraco” nestes dois últimos anos como deu cada tombo que deixava os seus congéneres europeus a “rir”, uma vez que a França parece ter deixado de ser uma equipa difícil de arrancar pontos e que submetida a grandes doses de pressão acaba por sucumbir.
JACQUES BRUNEL E A MANUTENÇÃO DA MESMA LÓGICA
Novés não aguentou a contestação interna (Bernard Laporte parece-se cada vez mais com aquilo que criticava antes de assumir a presidência da Federação Francesa) e viu o seu contrato revogado. Em sua substituição não veio nenhum sangue novo ou fresco que desse o empurrão que a nova geração de jogadores gauleses precisa… veio antes Jacques Brunel, antigo seleccionador da Itália e treinador dos Bordeaux-Bègles.
Brunel é um treinador, diguemos que “clássico”, agarrado ao trabalho dos avançados, à exploração das linhas atrasadas só a partir dos últimos 40 metros, com procura de fases simples e estáveis, sem arriscar em demasia. É um treinador que gosta de velar pelos skills básicos, do trabalho curto e consistente sem ter que expor em demasia a sua defesa.
Ou seja, é quase mais do mesmo. A selecção francesa precisava de algo novo, algo que abanasse com o “medo” em arriscar e que ao mesmo tempo garantisse segurança quando a equipa se expõe. Quem? Franck Azéma do ASM Clermont (o rugby dos Jaunards é francamente bom e interessante, com boas linhas de ataque) ou Patrice Collazo (o antigo pilar tem “governado” o La Rochelle com eficácia, fazendo um super par com Xavier Garbajosa, antigo internacional francês) seriam boas ideias.
Mas, Laporte voltou a apostar na Vieux École do rugby francês, com a ideia de que Brunel consiga trazer o melhor Champagne… será que a nostalgia ganha títulos?
Olhando bem para esta selecção francesa há muito potencial, desde jogadores novos e destinados à grandeza (Camille Chat, Antoine Dupont, Anthony Belleau, Damian Penaud, Fabien Sanconnie, Sékou Macalou ou Gabriel Lacroix) ou “veteranos” que dão uma profundidade letal à equipa (Guilhem Guirado, Louis Picamoles, Scott Spedding ou François Trinh-Duc), servindo isto de prova de que há qualidade em França.
Mas vamos falar de dois de cada grupo de jogadores, mais dois do grupo intermédio e ainda de um jogador que necessita de voltar à selecção francesa tout suite: Wesley Fofana.
FOFANA… O HOMEM QUE PODE MUDAR TUDO?
Quem é que não sente falta do centro francês (nascido e criado em Paris) que tem uma alta dose de do melhor que o rugby do Hemisfério Sul tem para oferecer: imprevisibilidade, velocidade, offloads de sonho e capacidade de “quebrar” a linha com eficácia. Fofana é um jogador letal com a bola nas mãos, oferecendo outra dimensão ao jogo ofensivo da sua equipa, tendo uma passada daquelas inesquecíveis.
Em 44 jogos pelos Bleus já marcou 15 ensaios e assistiu mais uns 20, apresentando-se como uma das melhores “armas” no ataque da França. Fofana é um jogador “mágico”, que cria dificuldades avantajadas a equipas como o País de Gales ou Irlanda, que costumam ser algo “pesadas” nos 3/4’s e sem a mesma velocidade de movimento que Fofa apresenta.
Todavia, o centro continua a cambalear com algumas lesões, factor que o afastou da competição em 2017. Conseguirá voltar ao seu melhor?
PENAUD E BELLEAU… OU A NOVA CASTA DO CHAMPAGNE?
O Fair Play já falou antes de Damian Penaud num artigo anterior mas volta a visitar o imprevisível centro do Clermont. Com uma tenra idade, já conseguiu somar 5 internacionalizações, demonstrando um ritmo de jogo acelerado, enérgico e altamente talentoso, conseguindo abrir espaços nos momentos mais dificeis. Aos 21 anos de idade já merece um olhar muito atento de quem está do outro lado do campo.
Penaud poderia formar com Fofana uma duo letal e mágico, mas Bastareaud ou Geoffrey Doumayrou parecem estar mais bem cotados para voltar ao XV inicial dos Les Bleus.
A compor este novo recital de juventude está ainda Anthony Belleau, um número 10 moderno, veloz com a bola nas mãos, rápido a estabelecer ideias e a executá-las, dotado de um belo jogo ao pé, com um poder de afirmação bem curioso dentro das quatro-linhas. Belleau luta contra Trinh-Duc pelo lugar de nº10 tanto no Toulon como na França, sendo que há uma terceira possibilidade para Brunel apostar: Camillez Lopez (depende da sua recuperação, uma vez que partiu o calcanhar).
GENERAL PICAMOLES E TENENTE-CORONEL SPEDDING
Louis Picamoles é, sem qualquer margem para dúvidas, dos melhores nº8 a nível mundial, dando outra dimensão à terceira-linha dos franceses. Para além de ser um jogador maçudo, altamente duro e com uma capacidade quase sem igual para trabalhar na cara do contacto, o 8 ainda demonstra uma verocidade tal para dominar a saída a partir da formação ordenada ou para dar velocidade no ataque a partir do alinhamento.
Voltou para França para jogar pelo Montpellier e tem estado em boa forma, assumindo-se como um dos melhores jogadores dos Les Bleus nesta fase menos boa. Há poucos 3ªs linhas com a dimensão de Picamoles, com a sua qualidade de mãos e com a capacidade de dar poder de perfuração à sua equipa. Inesgotável também no breakdown, o nº8 tem de ser um dos capitães de Brunel.
Para além de Picamoles, outro jogador que parece estar cada vez melhor é Scott Spedding. O sul-africano naturalizado francês não tem tido uma vida fácil na França, tendo bons e maus jogos, algo que deixa os adeptos algo irritados. Todavia, Spedding quando encaixa bem no jogo é um defesa letal, com um poder de choque fabuloso e com bons argumentos para ir buscar à oval após um pontapé alto.
Agressivo, o defesa não vira a cara à luta, tornando-se um defesa muito complicado de “enganar”, onde a sua passada pode fazer a diferença no ataque.
A PREVISÃO DO FAIRPLAY
A França não irá além de um 4º/5º lugar, lutando pelos últimos lugares com a Itália e País de Gales, as piores selecções neste momento no círculo europeu. A França começa a jogar em casa frente à Irlanda (3 de Fevereiro), seguindo-se uma viagem até ao reduto da Escócia (11 de Fevereiro), voltando a receber a Itália (23 de Fevereiro) para depois passar as últimas duas jornadas a jogar fora contra a Inglaterra e País de Gales (11 e 17 de Março).
Ou seja, vão ter vida muito complicada… 2018 não é um ano “bom” em termos de jogos fora, já que a Escócia está fenomenal, a Inglaterra parece não tirar o pé do acelerador, vislumbrando-se um jogo muito “próximo” contra o País de Gales.
Brunel tem muito pouco tempo para trabalhar e o estado caótico que se encontra a França não vai ajudar nada.
MVP DA FRANÇA: Louis Picamoles (Montpellier)
MELHOR AVANÇADO: Louis Picamoles ou Guilhem Guirado (RC Toulon)
MELHOR 3/4’S: Anthony Belleau (RC Toulon)
SURPRESA: Gabriel Lacroix
XV TITULAR (PROVÁVEL): Rabah Slimani, Guilhem Guirado e Jefferson Poirot; Yoann Maestri e Sébastien Vahaamahina; Yacouba Camara, Kevin Gourdon e Louis Picamoles; Antoine Dupont e Anthony Belleau; Yoann Huget; Mathieu Bastareaud e Wesley Fofana; Gabriel Lacroix e Scott Spedding
O Melhor jogo da França nas Seis Nações 2017