RWC19 Ronda 5: a genialidade japonesa no meio dos cancelamentos
E acabou a fase-de-grupos do Mundial de Rugby 2019 com mais uma bomba (mas esperada) em termos de resultado: o Japão não só eliminou a Escócia, como conquistou o direito de passar em primeiro, algo nunca antes feito na sua história no Mundo da bola oval. No meio de cancelamentos de jogos (como a organização tinha feito questão de mencionar antes do torneio) conseguimos reunir 3 destaques desta 5ª ronda do RWC 2019! Vamos a isso?
Foto de destaque de Bruno Ruas | Portal do Rugby
SEXTON DE VOLTA… MAS HÁ SALVAÇÃO POSSÍVEL PARA A IRLANDA?
A Irlanda respirou melhor e de forma mais “natural” com uma vitória folgada por 47-05 que teve Jonathan Sexton em grande no regresso a jogos do Mundial. Os 5 pontos conquistados acabariam por não dar o 1º lugar à selecção do Trevo em virtude dos 5 pontos conquistados pelo Japão no último encontro do grupo A, mas já se notaram melhorias em diversos pontos da estratégia irlandesa a começar pela continuidade e conquista a linha-de-vantagem.
Uma das chaves para conseguir pôr a defesa samoana a correr para trás de foram desamparada, foi o aproveitamento da intervenção de jogadores como Tadhg Furlong, James Ryan, Rory Best e CJ Stander, que finalmente tiveram espaço de manobra para serem preponderantes num ataque que esteve empobrecido durante a maior parte da campanha do Campeonato do Mundo.
Claro que para isto chegar a bom porto foi fundamental a inserção de Sexton no quinze titular, voltando a dar sentido, perspicácia e velocidade ao elenco de Joe Schmidt, com o médio-de-abertura a conseguir mesmo chegar à linha de ensaio por duas ocasiões, depois de terem criado boas fases de jogo.
Outro factor decisivo para a fluidez ofensiva irlandesa passou pela titularidade de Jordan Larmour, com o defesa a assumir o papel de maior ameaça para os placadores da Samoa, terminando o jogo com 11 defesas-batidos, 3 quebras-de-linha, 2 assistências para ensaio e até um turnover no ruck.
Não há dúvidas que a combinação Sexton-Larmour pode vir a ser uma forma de desquilibrar os All Blacks nos quartos-de-final, contudo para isto é necessário que surja alguém a fazer o papel de Bundee Aki, pois o centro não é opção depois de ter recebido ordem de expulsão e subsequente suspensão.
WALLABIES ENTRE CAOS, CONFUSÃO, ERROS E JOGO ILÓGICO
218… consegues adivinhar que número é este ou o que significa? Foi o número de placagens realizadas pela Geórgia na sua última aparição no Mundial de Rugby, fechando quase por completo o acesso à área de ensaio para os Wallabies que francamente não tiveram um jogo minimamente positivo na tomada de decisão, com Matt Toomua a ficar mal na fotografia. Este problema da camisola nº10 da Austrália tem sido recorrente nos últimos 3 meses e começa a escassear o tempo para que alguma das unidades dê a devida resposta em campo, restando agora a dúvida quem vai surgir no encontro frente à Inglaterra.
Olhando para o que se passou no encontro frente aos lelos, Toomua caiu num limbo estranho da tomada de decisão, não dando bola suficiente rápida a Samu Kerevi ou Kurtley Beale/Haylett-Petty para que estes conseguissem ganhar metros no contacto ou para encontrarem espaço no jogo exterior, limitando a execução de movimentos dos Wallabies frente a uma Geórgia que praticamente só defendeu, instalando-se um processo ofensivo caótico, de ampla desorganização nas unidades e combinações a trabalhar. Outro problema passou pela falta de capricho do bloco dos avançados na hora de apoiar o portador da bola, registando-se 14 turnovers georgianos no breakdown, ficando Jack Dempsey, Tolu Latu, Isi Naisarani mal na fotografia.
Valeram David Pocock (está em excelente forma, cada vez mais capaz e ágil no controlo das operações defensivas ou no apoio veloz ao ataque), Nic White, Dane Haylett-Petty (boa entrada do defesa a partir do banco) e Marika Koroibete no cômputo final, onde o ponta voltou a conquistar mais de 100 metros, fugindo a 11 possíveis placadores e conseguindo três boas quebras-de-linha, para além do ensaio marcado.
A Austrália não é favorita para o encontro frente à Inglaterra e será essencial perceber quem vai ocupar o lugar de médio-de-abertura ante os ingleses… Toomua, Lealiifano ou Foley?
JAPÃO E UM PRIMEIRA PARTE LENDÁRIA
Mais uma vez voltamos a dizer… como não ficar apaixonado por este Japão? 5 vitórias em 5 jogos, vitórias sob a Irlanda e Escócia, 115 pontos marcados e 62 sofridos, um rugby excêntrico, eficaz, trabalhador e inspirador, são alguns dos apontamentos que marcam a prestação dos Brave Blossoms nesta fase-de-grupos, onde se confirmou todo o potencial e genialidade desta selecção que merece ser considerada como de Tier 1 a partir deste RWC 2019.
Recuando para o jogo que confirmou o 1º lugar dos nipónicos (neste momento só a Inglaterra é que não conseguiu passar da primeira-fase do Mundial como país organizador da competição), a primeira-parte foi genial conseguindo rapidamente conquistar uma reviravolta depois do ensaio da Escócia marcado logo aos 6 minutos de jogo.
Com um três-de-trás fenomenal (sem Lomano Lemeki que não jogou por opção) que dominou por completo nos primeiros 40 minutos, seja pela velocidade de Matsushima, poder de rasgo de Fukuoka e o trabalho táctico de Willy Tupou, o Japão de Jamie Joseph controlou totalmente a primeira parte com 75% de posse de bola e 60% do território ofensivo, impondo uma lição na gestão de bola e no trabalhar com paciência até encontrar um espaço para acelerar e criar um pânico geral nos escoceses.
É essencial também dar o mérito ao combo de médios dos brave blossoms, Yutaka Nagare e Yu Tamura, chaves-mestras para atribuírem bons processos ofensivos, delineando uma estratégia irrepreensível que só começou a apresentar problemas quando o desgaste físico surgiu durante a 2ª parte. Porém, e apesar das contínuas tentativas da Escócia nos últimos 10 minutos, o Japão apresentou uma virtude física inabalável que apresentou uma autêntica “muralha” inabalável, onde Luke Thompson, Michael Leitch (é quem melhor representa o espírito indomável do Japão), Pieter Labuschagne ou Kazuki Himeno foram as unidades mais brilhantes e que serviram de exemplo para os restantes.
Mas será que é possível fazer uma exibição do mesmo calibre contra a África do Sul?
OS ACCOLADES DA RONDA
Melhor Jogador: Kenki Fukuoka (Japão);
Melhor Marcador de Ensaios: Jonathan Sexton (Irlanda), Kenki Fukuoka (Japão) e Mike Teo (EUA);
Jogador “truque” da Fantasy: Hallam Amos (País de Gales);
Maior Desilusão: Stuart Hogg… no último jogo deste Mundial pedia-se bem mais ao espectacular defesa da Escócia;
Pormenor da Semana: a cultura defensiva do Japão frente à Escócia, com 9 turnovers conquistados nos breakdowns;