Um peso e duas medidas, não é sr. Bernard Laporte?

Helena AmorimOutubro 29, 20183min0

Um peso e duas medidas, não é sr. Bernard Laporte?

Helena AmorimOutubro 29, 20183min0
O actual Presidente da Federação Francesa de Rugby reclama do número de estrangeiros no TOP14, mas o seu passado recente não o coloca debaixo de uma luz de hipocrisia?

O presidente da Federação Francesa de Rugby, Bernard Laporte, em entrevista ao Canal +Sport e com crónica no minutesports.fr e rugby-addict.com, aventa que exista uma relação de culpabilização directa entre o enorme número de estrangeiros no TOP 14 e os maus desempenhos do actual XV de França, frisando Clermont e Brive como seguidores de uma “política fidjiana”, de facilitismo de ingressão de fidjianos nas academias.

A sua perspectiva é simples: “il faut arrêter léxode des jeunes étrangers vers la France.” Há estrangeiros a mais nas academias e consequentemente nos clubes, logo, é difícil aos jovens Franceses de se evidenciarem e serem possivelmente escalados.

A equipa escalada por Brunel para os encontros de Novembro, nomeadamente com África do Sul, Argentina e Fiji conta com a chamada de um jovem jogador a actuar no PRO D2, o primeiro jogador desse segundo escalão francês a ser chamado em 11 anos. Isso, já parece ter agradado a Laporte, que vê assim os seus anseios realizados, ao ter mais juventude francesa a chegar ao XV; Demba Bamba, pilar direito do Brive, vê assim o seu nome nas parangonas por ser um dos poucos eleitos do PRO D2 a compartilhar tempo, treino e jogos com os “grandes” do TOP 14.

Todo este conjunto de observações é deveras curioso, tendo em conta que Laporte quando foi treinador do Toulon entre 2011 e 2016 contou com as seguintes percentagens de franceses no seu efectivo de jogadores disponíveis:

11/12-43%
12/13-46%
13/14-41%
14/15-44%
15/16- 47%

A partir desta altura o Toulon sofre contínua remodelação nos treinadores tendo passado Diego Dominguez em 2016; Mike Ford em 2016 e 17; Richard Cockerill a terminar o ano de 2017; Fabien Galthié em 2017 e 2018 e Patrice Collazo desde Junho de 2018. Ora a percentagens de franceses nestas alturas foram (após consulta dos jogadores disponíveis em cada época):

16/17-47%
17/18-57%
18/19-62%

Os números corroboram a boa disposição do sr. Laporte mas também se verifica que quando ele foi o treinador principal de uma das principais equipas do TOP 14, não foi muito sensível ao factor França e tendo à sua disposição orçamentos nada despiciendos.

O número de jogadores estrangeiros nas equipas que disputam competições em França, está em relação directa com as más exibições do XV de França? Esta putativa relação é que me parece forçada. As competições em França não é só o TOP 14 e o que é um facto é que nem sempre os melhores estão no primeiro escalão.

Jacques Brunel e sua equipa perceberam isso e ele e o seu staff andaram um mês a viajar por França, ao encontro de vários clubes e vários profissionais do rugby, de modo a ter uma pool mais alargada para o Mundial e de manter as relações institucionais com os clubes e suas direcções, que são no fundo, quem melhor conhece os jogadores que têm em mão. No ano transacto, este tour já havia sido feito mas apenas por alguns elementos do staff de Brunel e sem o treinador principal presente.

Os chamados por Brunel para estes jogos de Outono foram:

A França esta sem dúvida uma sombra do que já foi; desde finalista no Mundial em 1987, 1999 e 2011 até só chegar aos quartos de final em 2015 passando pela travessia no deserto no seis nações (ultima vitoria em 2010), tendo nesta competição, 17 títulos com 9 grand slams.

Os anos terribilis de Philippe Saint-André (2011—2015) e Guy Novès (2015-2017), deixaram os Franceses muito em baixo e desanimados com a performance paupérrima da equipa. Sob a batuta de Brunel, começa a ver-se mais jogo, mais dinâmica mas ainda é cedo. Há que dar tempo ao tempo e perceber que o rugby, como tudo na vida, é sujeito a ciclos.


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