Reviravoltas ante os Czares – O Breakdown do Europeu de sub-18 2018
Portugal carimbou a passagem às meias-finais do Europeu de sub-18 com uma vitória por 37-32 frente à Rússia. Jogo muito complicado para os jovens Lobos sub-18, já que a equipa adversária apresentou uma boa agressividade no contacto, conquistando várias quebras-de-linha pelo seu 1º centro perante a ineficácia da primeira placagem dos jogadores portugueses.
Contudo, uma bela resposta de raça e força, permitiu a Portugal recuperar o controlo do jogo e esteve praticamente na frente do marcador até aos dez minutos finais, altura em que a Rússia conquistou o empate por 32-32. Coube aos jovens Lobos demonstrar, mais uma vez, uma grande sagacidade, indo em busca do ensaio da vitória, com António Cunha a finalizar uma bela movimentação de 9 fases para fechar o encontro.
Segue-se a Geórgia na próxima quarta-feira, naquilo que será uma luta pelas meias-finais na competição. A análise a alguns pontos do jogo pelo Fair Play
NÃO ENTRA À PRIMEIRA… TEM DE ENTRAR À SEGUNDA! – 3 PONTOS
Placar bem é obrigatório a este nível em termos de competições internacionais. É um requerimento que tanto Rui Carvoeira como Francisco Branco exigem e imputam no “código” cerebral dos seus jogadores. Uma defesa sólida e resistente é o caminho certo para um jogo mais estável e confiante.
Frente à Rússia, os jogadores portugueses demoraram a entrar no jogo nesse aspecto, com a primeira placagem a ficar muitas vezes no “bolso”, permitindo aos jogadores russos sair a jogar com algum à vontade, forçando a equipa das Quinas a segundos ou mesmo terceiros serviços na hora de parar o avanço dos seus adversários deste primeiro jogo.
Esse espaço foi notório até nos pontapés de início/reinício, com os jogadores russos a receber a bola com relativa facilidade embalando logo, o que os tornava um “alvo” ainda mais difícil de parar. José Ulrich, Tomás Cabral (aplicou aquela dose de intensidade e “maldade” na placagem que é necessário neste patamar) ou Raffaelle Storti foram os melhores na hora de meter o ombro e colocar os czares no chão.
Num jogo em que é necessário ser uma equipa, a formação portuguesa de sub-18 tem de se capacitar que a placagem não é (só) uma obrigação ou necessidade, mas sim uma extensão de si mesmos. Há que ter outra raça e agressividade na hora de placar e, em certos momentos do jogo contra a Rússia, isso aconteceu. Mas um jogo de sub-18 tem 70 minutos e dessa forma é fundamental que a placagem esteja sempre nos píncaros durante todo esse tempo.
Pormenor importante: os jogadores portugueses não só sabem placar bem, como conseguiram contrariar o poderio russo quando mais precisaram. Argumento a favor deste aspecto está, por exemplo, a placagem de João Fernandes que pôs o centro russo a andar para trás uns bons metros ou, logo de seguida, o mesmo mas com Raffaelle Storti. É só querer!
NOS PIORES MOMENTOS É QUE SE VÊ O QUE É UMA EQUIPA – 7 PONTOS
Portugal começou bem o jogo, dominando bem a bola, gerindo-a com relativa eficácia, de tal forma que foram os primeiros a meter pontos no marcador, com uma penalidade bem convertida por Domingos Cabral. Infelizmente, a Rússia carregou sobre a equipa portuguesa e perante uma primeira placagem mais “frouxa” conseguiram ir à linha de ensaio por duas vezes.
A somar a esses pontos ainda tiveram direito a duas penalidades que lhes permitiram engrossar o seu score em 18-03, isto quando estavam decorridos 23 minutos do encontro. Quando todos esperavam o pior, estes sub-18 demonstraram uma excelente união e partiram para cima dos seus adversários, apresentando outro querer, agressividade e vontade de jogo.
Do 03-18 aos 23′, Portugal terminou a primeira parte na frente do resultado com um 22-18 a seu favor, o que prova que há uma raça própria deste elenco de Rui Carvoeira e Francisco Branco.
Os ensaios da primeira parte vieram todos pela mão de Raffaelle Storti (belo jogo do centro do Técnico Rugby) após um trabalho de qualidade da equipa Nacional, com nota muito positiva para as “manhas” e ideias de Tomás Cabral (o 3º ensaio de Portugal nasce num grubber bem engendrado pelo centro) e a velocidade de movimentos que a equipa ia conquistando.
Esta maior liberdade para jogar à mão veio quando Portugal ganhou confiança e deixou cair o nervosismo que afectou durante aquele período entre os 10-25 minutos de jogo.
Na segunda-parte o algum deslumbramento com o resultado alcançado (32-18), deu uma bolha de oxigénio e esperança aos czares que conseguiram um empate por 32-32 quando faltavam 4 minutos para o final do jogo. Novamente a equipa surgiu e daquela união Portugal foi atrás da vitória, conquistando-a na bola de jogo após um excelente contra-ataque pelas mãos de Gonçalo Barbosa, com António Cunha a finalizar com um toque eficaz já dentro da área de ensaio.
NÃO FAZEMOS FALTAS… MAS TAMBÉM ARRISCAMOS POUCO NO CHÃO – 5 PONTOS
É um paradoxo dizer que a equipa esteve excelente a nível na disciplina mas que isso ao mesmo tempo pode também representar a falta de “risco” dos portugueses na luta pela bola no chão.
Poucos foram os jogadores portugueses que tentaram meter as mãos à bola, com destaque para Max Falcão (o pilar do GD Direito lutou sempre que pôde, “chateando” constantemente a formação russa), Martim Bello (o último saque do jogo foi da autoria do sub-capitão) e José Ulrich (bom trabalhador).
A equipa não quis arriscar nas faltas, manteve sempre uma postura concentrada e disciplinada, evitando dessa forma algum castigo pesado por parte da equipa de arbitragem.
Porém, por vezes sentiu-se que os jogadores portugueses podiam ter arriscado um pouco mais na “pesca” no breakdown de forma a incomodar a formação russa que teve muito tempo para sair a jogar com a bola e fazer alguns danos na defesa lusa.
No somar das duas partes, a nota tem de ser bastante positiva para o elenco português já que não ultrapassar das 5 faltas é um registo digno e meritório, demonstrando que existe disciplina e inteligência por parte destes atletas. Mas ter atenção que o excesso de disciplina não signifique o fim do risco, já que a equipa técnica nacional gosta desse input no jogo português.
NOTA FINAL – 15 PONTOS
ASPECTOS POSITIVOS: reacção muito positiva à desvantagem no marcador; capacidade de luta em certos momentos do jogo que definiu o resultado final; criatividade e leitura ofensiva de certas unidades que abriu a defesa russa; disciplina no jogo no chão; boa resposta no contra-maul e na defesa junto ao ruck; risco bem assumido com a bola nas mãos.
ASPECTOS NEGATIVOS: primeira placagem fracassou na maioria das tentativas; pouca pressão aplicada nos pontapés ou nas saídas de bola a partir do ruck, permitindo um avanço substancial da formação russa; formação ordenada colapsou em alguns momentos, fruto de alguma má comunicação dentro deste departamento; pouca assertividade no jogo ao pé.
PORTUGAL: 1 – Sebastião Castanheira, 2- João Nobre, 3 – Max Falcão, 4 – Martim Bello, 5 – José Madeira, 6 – José Ulrich, 7 – João Sousa, 8 – Francisco Silva, 9 – Pedro Lucas, 10 – Domingos Cabral (3+2+2), 11 – António Cunha (5), 12 – Tomás Cabral (5), 13 – Raffaele Storti (5+5+5), 14 – Francisco Nobre, 15 – Simão Bento.
Suplentes: 16 – Pedro Braga, 17 – João Fernandes, 18 – Tiago Quitério, 19 – António Andrade, 20 – Pedro Silva, 21 – Alexandre Fonseca, 22 – Joaquim Félix, 23 – Gonçalo Barbosa (5), 24 – Francisco Thomaz, 25 – Manuel Vacas, 26 – Francisco Salgado
EQUIPA TÉCNICA: Rui Carvoeira (seleccionador), Francisco Branco (co-seleccionador), Paulo Vital (fisioterapeuta), Pedro Rodrigues (Team Manager) e José Paixão (Video-analista)
O Fair Play teve a oportunidade de entrevistar Martim Bello (sub-capitão), Pedro Lucas (capitão) e Francisco Branco (seleccionador Nacional a par de Rui Carvoeira). Aqui ficam algumas palavras dos jogadores da selecção nacional portuguesa:
Vitória sofrida contra a Rússia…tiveram de ir ao fundo buscar forças suficientes para dar a volta ao jogo. Quais foram as vossas maiores dificuldades? E como é que conseguiram a reviravolta?
PL: Penso que tivemos bastante dificuldade na placagem da primeira cortina defensiva. Estivemos à espera deles em vez de subir em linha e pressionar (Com tempo e espaço a Rússia estava a criar dificuldades na nossa defesa). A reviravolta surgiu quando nos focamos naquilo em que tínhamos de fazer e quando começamos a impor o nosso jogo das linhas atrasadas.
O que é que não podemos fazer no próximo jogo que aconteceu neste? E o que mais gostaram de ver no vosso jogo?
MB: No próximo jogo é fundamental a placagem porque falhou bastante neste jogo e nós queríamos que tivesse sido um ponto forte, os georgianos são grandes e duros portanto não vamos poder jogar muito um jogo de avançados temos que ter um jogo mais rápido. Gostei de ver que numa situação de desconforto e de desorganização da nossa parte, conseguimos unir-nos e conseguir a vitoria.
FRANCISCO BRANCO (CO-SELECCIONADOR NACIONAL)
Que aspectos gostou mais do jogo de hoje? E sentiu que esta equipa tem personalidade nos momentos mais difíceis ao ponto de dar uma resposta de força?
FB. De facto, mostrámos alguma personalidade em momentos importantes do jogo. Destaco 2 – quando, na primeira parte, estávamos a perder por 15 pontos e conseguimos com alguns bons ensaios dar a volta ao resultado e, na 2ª parte, quando a Rússia consegue empatar o jogo e nós mantivemos algum foco que nos permitiu marcar outra vez.
Esses dois momentos, foram aqueles onde melhor conseguimos executar o que tínhamos pensado para o jogo. No entanto, há muito a melhorar, principalmente na zona do contacto. Não podemos perder tantas bolas no breakdown e, acima de tudo, não podemos falhar tanto quando estamos a defender.
O que espera do próximo jogo? E que cuidados devemos ter frente à Geórgia?
FB. Embora a Rússia se tivesse apresentado, contra Portugal, com uma equipa extremamente organizada e com um sistema muito bem montado, a Geórgia é um adversário de um nível muito superior.
Mas o que estamos à espera é que haja uma evolução grande dos nossos jogadores em indicadores que consideramos fundamentais. Temos que ser muito mais competentes a defender – posicionamento e placagem – e temos de usar muito melhor as bolas que temos ao nosso dispor. Se o fizermos, então entramos numa zona em que conseguimos competir.
Há um grande desejo, neste grupo de jogadores, em construir qualquer coisa que possa ser entregue à próxima geração. Competir, até ao fim, com uma potência do rugby europeu como a Geórgia não é um mau legado para se deixar aos próximos.
Mas ter hipótese de competir contra a Geórgia por períodos alargados de tempo, implica que este grupo seja capaz de jogar a um nível que nunca jogou anteriormente.