Portugal-Alemanha: o que vale uma ida ao Mundial de Rugby?
A resposta à pergunta que colocámos no título parecer ser francamente fácil: vale uma mudança de rumo por completa. Contudo, e há que ter em atenção a um par de pormenores, por vezes o alcançar desse sonho não significa que um novo Mundo virá logo de forma automática e o rescaldo da participação dos Lobos em 2007 prova em larga medida esse facto.
Passados 11 anos dessa participação e dos fracassos da selecção nacional em se apurar para os Mundiais de 2011 e 2015, há agora uma nova oportunidade para voltar a um palco que poderá repor alguma esperança no rugby português.
Porém, aviso à navegação, uma ida à maior prova da modalidade não vai resolver os problemas estruturais, logísticos e internos, pois todos estes terão de ser resolvidos, de preferência, no curto-espaço de tempo, de forma a dar outro avanço na modalidade em Portugal. 2018 e 2019 são anos cruciais para capitalizar os projectos Get in to Rugby, as selecções de formação portuguesa, de dar outra dimensão ao crescimento do Touch Rugby, entre outros.
O Mundial de 2007 trouxe memórias e episódios que nunca mais se vão apagar da memória do rugby nacional, seja o ensaio de Rui Cordeiro contra a Nova Zelândia ou as placagens de Joaquim Ferreira contra a Roménia, mas é altura dos agentes nacionais utilizarem esses momentos não para se viver constantemente numa nostalgia mas sim para pavimentar o caminho que tem de ser caminhado.
Caminho esse que começa já no próximo sábado frente à super-Alemanha em Heidelberg, cidade que alberga duas das maiores (uma delas é a maior) equipas da Alemanha. Mas o que realmente podem os Lobos fazer em terras germânicas? E quem são os adversários de Portugal?
UMA AJUDA LUSO-DESCENDENTE PARA MUDAR O XADREZ?
A confusão total que foi resultado dos atletas não-ilegíveis da Roménia, Bélgica e Espanha, atrasou em mais de dois meses os trabalhos das selecções nacionais, adiando as eliminatórias em pelo menos um mês de diferença da sua data original. A World Rugby e Rugby Europe resolveram a questão, castigando as três selecções, oferecendo o Mundial à Rússia e o playoff de apuramento para essa prova à suposta relegada Alemanha.
Para Portugal foi um assistir de “circo” que nunca mais terminava e que prejudicou, em larga medida, os trabalhos da equipa técnica liderada por Martim Aguiar, seleccionador nacional desde 2016, sendo que até há duas semanas não existia sequer data de jogo oficial.
Acrescentar que os problemas resultantes do Campeonato Nacional, criaram ainda mais dificuldades a um grupo de trabalho que voltou a conquistar o Grand Slam (com alguns sustos) na divisão Trophy da Rugby Europe.
Foi o ano de estreia de alguns jogadores que não vão estar presentes na Alemanha, como Manuel Cardoso Pinto (lesionado) ou António Monteiro, assim como é o ano da despedida de Gonçalo Uva, que fecha a sua carreira de internacional no dia 16 (em caso de passagem, é credível que o 2ª linha continue até ao final).
Mas então quem são os convocados para os trabalhos desta semana importante?
Francisco Fernandes, Duarte Diniz, Bruno Rocha, Geordie Mcsullea, Gonçalo Uva, Salvador Vassalo, Sebastião Villax, Francisco Sousa, Manuel Queirós, Nuno S Guedes, Adérito Esteves, Vasco Ribeiro, Rodrigo Freudenthal, Tomás Appleton, Cyrille Andreu, Bruno Medeiros, Nuno Mascarenhas, Jean Sousa, Thibault de Freitas, Francisco Vieira, Jacques Le Roux, Manuel Vilela Pereira, Jorge Abecasis, João Taveira, David Wallis, João Vasco Corte-Real, António Vidinha, João Lino, José Rodrigues e Vasco Fragoso Mendes.
As entradas de Duarte Diniz (esteve na Austrália a jogar), Adérito Esteves (a carreira do ponta esteve numa fase intermitente), Cyrille Andreu (defesa do Aubenas, que também pode cair para as pontas), Thibault Freitas (poderoso asa do Aubenas), Jean Sousa (outro asa de grandes valências, que joga na PROD2 ao serviço do USM Sapiac), Jacques Le Roux (o asa volta a vestir a camisola de Portugal ao fim de vários anos de ausência) e Francisco Fernandes (pilarão de 32 anos do Beziers).
José Lima (está de momento a jogar na Nova Zelândia), Mike Tadjer, Julian Bardy, Aurelien Beco, Samuel Marques e outros não vão poder ajudar a selecção Nacional, pelo menos, para o jogo frente à Alemanha. O elenco de Martim Aguiar ganhou outra “forma” e a entrada dos luso-descendentes deverá ser praticamente directa no 23 final.
O que esperar de Portugal? Dependendo da convocatória final, os Lobos apresentam bons argumentos para contrariar o potencial favoritismo alemão a começar pela maior criatividade nas linhas atrasadas.
No par de centros Vasco Ribeiro, António Vidinha e Manuel Vilela Pereira deverão ser as opções mais credíveis, com os dois primeiros a não só se entenderem bem como também conseguem criar outro tipo de sinergias.
A maior dificuldade recai na qualidade da formação-ordenada, um ponto em que a Alemanha faz questão de exercer uma pressão de qualidade. O regresso de Duarte Diniz é importante, mas Nuno Mascarenhas tem sido uma opção mais que valiosa para as contas de Portugal.
Os jogadores a bold são a nossa aposta para lista dos 23 convocados para o encontro, com algumas dúvidas na forma como se vai desenhar a avançada (João Lino surgirá ao lado de Sebastião Villax na 3ª linha, ou Freitas, Le Roux e Sousa agarram o lugar, colocando o capitão do CDUL como 2ª linha?) ou a linha de três-quartos (Tomás Appleton fará trio com Cardoso Pinto e Adérito Esteves, ou há surpresa e Manuel Vilela Pereira empurra algum dos seus colegas para fora do 23?).
E como pode Portugal bloquear o ataque alemão e conquistar os pontos suficientes para ganhar?
Relembrar que a Alemanha teve a modos com uma “guerra civil” com os jogadores profissionais a abandonarem a selecção entre Novembro e Maio, o que atirou estas Águias Negras para o último lugar do Championship da Rugby Europe.
O recente acordo entre os profissionais (têm contrato com a Academia de Alto Rendimento Heidelberger RK, patrocinados e geridas pela família Wild) e a Federação de Rugby da Alemanha é algo frágil e em campo vão sentir alguma falta de entrosamento. 90% desta selecção Nacional jogou junta desde 2017 e tem sedimentado relações e combinações, sendo mais forte na compreensão e comunicação que os alemães.
Fisicamente menos fortes, é na velocidade, agilidade e manha que Portugal pode ir buscar o jogo, bastando que para isso se aplique uma defesa agressiva e intransponível, algo que só aconteceu com a República Checa, Holanda e pouco mais.
Entrar a “frio” como aconteceu frente à Polónia ou Suíça pode ser um passo negativo para os objectivos finais dos Lobos. As fases estáticas têm de ser irrepreensíveis e a saída dos rucks garantida, uma vez que a 3a linha alemã é bastante ágil e inteligente a ler as ideias dos seus adversários.
O jogo ao pé será outro detalhe importante, uma vez que a Alemanha possui três pontpeadores de excelente qualidade, que ao combinar com a tal 3ª linha móvel garantem a maioria dos up and under’s esboçados. Portugal terá que ser seguro neste aspecto, não podendo existir sequer dúvidas na abordagem às bolas que saiam da bota de Marcel Coetzee, por exemplo.
O SANGUE SUL-AFRICANO (E PROFISSIONAL) ALTERA O RUMO?
Pegando no que dizíamos anteriormente, a introdução dos profissionais de novo neste elenco alemão dá outra dimensão a uma selecção que esteve perto de descer em 2018. Marcel Coetzee, Sebastian Ferreira, Jarrid Els, Sean Armstrong, Raynor Parkingson, Ayron Schramm, Antony Dickinson, Jaco Otto são alguns dos melhores jogadores ao serviço de Pablo Lemoine, seleccionador da Alemanha desde Janeiro de 2018.
É uma selecção muito complicada de se parar quando tem à sua disposição uma equipa fisicamente dotada, munida de bons pontapeadores e de jogadores que sabem incomodar a partir do ruck (Sebastian Ferreira é um total dominador no breakdown), abrindo caminho para uma avalanche de jogo bem dinâmica e atractiva.
O XV e 23 da Alemanha não deverá fugir muito ao seguinte (do 1 ao 15): Jörn Schröder, Dash Barber, Samy Fuchsel, Julius Nostadt, Erick Marks, Sebastian Ferreira, Jaco Otto, Ayron Scharamm, Sean Armstrong, Chris Hilsenbeck, Pierre Mathurin, Raynor Parkingson, Marcel Coetzee, Nikolai Klweinghaus e Steffen Liebig. Suplentes: Antony Dickinson, Marcus Bender, Timo Vollenkemper, Jarrid Els, Jan Piosik, Tim Menzel, Oliver Paine e Hagen Schulte.
Destaque para as ausências de Cameron-Dow, Jamie Murphy e Mathieu Dacau dos convocados, três dos melhores centros desta Alemanha que alinharam ainda frente ao Brasil em Novembro passado (vitória por 45-12). Na ausência forçada destes três, Marcel Coetzee deverá formar parelha com Raynor Parkingson, o que permite a Chris Hilsenbeck conquistar o lugar de médio-de-abertura.
É na 3ª linha que reside um dos seus pontos basilares mais importantes com o trio formado por Ferreira-Otto-Scharamm (jogam os três juntos no Heidelberg) a gostarem de ocupar o terreno com clareza, indo em busca não só do turnover, mas também de serem eles mesmos a furarem a linha. Sebastian Ferreira é um talento puro no contacto, brilhante tanto na placagem como a fugir dela quando tem a posse de bola, centrando muito das atenções do jogo em si.
A avançada alemã já criou sérias dificuldades a equipas como a Roménia, Geórgia ou Espanha, comprometendo-se seriamente a “castigar” adversiários que não queiram lutar da mesma forma na formação-ordenada. As trancas do 5 da frente, a pressão exercida pelo pilar direito (Samy Fuchsel jogou largos anos na PROD2 e FED1) e a forma como a 3ª linha dá o toque final são detalhes mais que suficientes para se ter em atenção.
Contudo, a Alemanha é uma selecção que expõe em demasia as suas costas, esperando que Coetzee e Parkingson resolvam o “problema” em caso de bolas pontapeadas para esse sector… uma subida rápida com placagem efectiva e um ataque logo à bola pode pôr sérias dificuldades à Alemanha, especialmente se o jogo entrar numa toada difícil de resolver.
Para as Quinas é imperativo não deixar a Alemanha escolher a intensidade e a velocidade de jogo, pois é algo que Marcel Coetzee impera com clareza, fazendo uso da sua brilhante 3ª linha e pontas para desferir os melhores ataques possíveis.
A preparação para o jogo continua esta semana e os convocados finais só devem surgir na 5ª feira, dia 14 de Junho.
One comment
Claudio
Junho 13, 2018 at 7:01 pm
Estavamos – nós, os adeptos de França – muito preocupados antes de conhecer a convocatória ; pois não sabíamos se íamos continuar a jogar apenas com o jogadores do campeonato nacional ou se, em fim, íamos ver o regresso dos “franceses” á seleção. Afinal, parece que as coisas estão a mudar para o lado do bem, para mais pragmatismo. Ainda faltam nos Lobos muitos dos profissionais das duas primeiras divisões francesas que já vestiram a camisola das Quinas (Julien Bardy, Mike Tadjer Barbosa, Antony Alves, Samuel Marques, Aurelien Beco, Geoffrey Moise, Pedro Bettencourt, José Lima) mas ja temos, no entanto, para sábado um grupo de jogadores capazes de ganhar á Alemanha, com grandes talentos de Portugal (José Rodrigues, Nuno Sousa Guedes, Sebastião Villax e outros) e alguns reforços de peso de Franca. Acredito que no caso de vitória contra os germânicos, os melhores de França se encontrarão disponíveis para desafiar Samoa… Força Portugal !