O jogo ao pé – História e histórias

O jogo ao pé na era pré-moderna

É preciso recuar no tempo para perceber a importância do jogo ao pé nos primórdios do Rugby. Inicialmente, as equipas não recebiam qualquer ponto por marcarem ensaio apenas tinham direito a uma “tentativa (try)” de pontapear aos postes, o que lhes concedia os pontos se o pontapé tivesse sucesso. Depois disto, as regras precisavam de mudar e imagine-se que o ensaio passou a valer um mero ponto e a conversão dois.

Após outras alterações, apenas em 1992 é que o ensaio passou a valer 5 pontos. Mas já houve mais diferenças, como por exemplo: no caso de haver um pontapé aos postes, a equipa que cometia a falta ficava no lugar onde esta ocorreu e o chutador é que tinha de recuar. Mais curiosa era uma regra  que vigorou por algum tempo que permitia que se “carregasse” um pontapé mal a bola era pousada no solo, o que tornava quase impossível que o mesmo jogador fizesse tudo.

Havia no entanto um colega designado para colocar a bola no chão e assim permitir que ocorresse um pontapé.  Actualmente, seriam muitas as equipas a beneficiar com o primeiro modelo? Provavelmente. Bastava que o chutador adversário estivesse num dia mau.

A disputa pela marca da bola

Depois das regras, criaram-se os princípios do jogo e destes as várias estratégias possíveis. Um dos primeiros mitos (à falta de informação em contrário) que ouvi no Rugby era o de que haveria um desacordo sobre com que marca de bola jogar nos encontros entre Inglaterra e França. Isto porque uns (os franceses) preferiam uma marca que era mais própria para o jogo à mão, e outros (os ingleses) preferiam uma outra marca mais própria para o jogo ao pé.

Muitas serão as explicações para este mito, mas as condições climatéricas significativamente adversas em Inglaterra poderiam prever que fosse mais difícil correr com a bola do que pontapeá-la para a frente.

Claro está que falamos da era pré-profissionalismo, onde as camisolas eram largas, era “legítimo” pisar o que quer que fosse que estivesse a impedir a saída da bola e as substituições eram efectuadas só por lesão. Muitos anos depois, a disputa sobre a marca da bola parece ter terminado mas a rivalidade continua bem presente como na final do Campeonato do Mundo de Sub 20 ganha pela França contra a Inglaterra (com a marca de bolas preferidas dos ingleses!).

A Lenda de Thorburn e seus seguidores

Em 1986, Paul Thorburn protagonizou em Cardiff um dos momentos mais épicos da sua era. A bem mais de 60 metros dos postes, arriscou uma penalidade (a 4ª com do jogo) e converteu! Melhor que a descrição só o vídeo!

A proeza de Thorburn tem vindo a ser tentada por alguns jogadores da actualidade. Elliot Daly, François Steyn e Riaan Viljoen são alguns daqueles que ora por penalidades aos postes ora por pontapés de ressalto deixaram certamente Thorburn orgulhoso.

A última opção (ou não)

O jogo ao pé foi até há pouco tempo visto como uma arma de recurso. Servia para “aliviar” a pressão, para conquistar terreno sacrificando a posse de bola ou só mesmo para converter penalidades aos postes. Pois, ao mesmo ritmo que o próprio jogo evolui, o jogo ao pé faz o mesmo. Aliás, com a evolução do processo defensivo, o jogo ao pé passou a ter que fazer parte do arsenal de ataque das equipas. Ao encontrar defesas extremamente organizadas, pacientes e com capacidade de atrasar a bola no breakdown, as equipas tiveram que criar dúvidas por outros meios.

Eis que o jogo ao pé, agora ofensivo, veio alargar o leque de opções do ataque. Por um lado, a efectiva ameaça do espaço imediatamente atrás da defesa e do espaço disponível ao largo (vulgo canal 3) vieram trazer novos desafios à defesa, nomeadamente aos formações e três-de-trás. Por outro, as dúvidas da defesa sobre a utilização do jogo ao pé pelo ataque, podem conceder oportunidades se se tentar compensar em demasia os espaços referidos em cima. Por estas e outras razões, é que o jogo ao pé tem vindo a melhorar tanto a nível de execução como a nível de percentagem de sucesso.

As equipas treinam estas movimentações porque sabem que é um recurso que poderá dar frutos se for utilizado com conta, peso e medida, tal como o próprio jogo ao pé exige. Ficam aqui alguns exemplos da utilizaçao do jogo ao pé em diversas situações de ensaio (Atenção a Danny Cipriani!)