Internacionais de Verão: o sábado em que o Hemisfério Norte ganhou
JOE SCHMIDT CONTINUA A QUEBRAR RECORDES
Ao fim de 39 anos, a Austrália consegue não só ganhar uma Series frente à Austrália como conseguiu derrotar por duas vezes consecutivas os Wallabies em terreno australiano. O 20-16 pôs um ponto final num trio de jogos intensos, bem divididos e com o resultado a ser discutido até ao apito final. Mas realmente como é que os irlandeses de Joe Schmidt garantiram a vitória neste último jogo?
Novamente, a introdução de Johnny Sexton no XV na semana passado funcionou a favor da formação visitante, que não só colocou em campo o seu melhor chutador a jogar como garantiu um autêntico líder no controlo das operações. O médio de abertura converteu todas as penalidades que teve direito de converter (Conor Murray falhou uma a 45 metros, mais encostado do lado direito) e só falhou mesmo o pontapé de conversão ao ensaio de Stander.
O jogo irlandês passou novamente por tirar espaço de manobra a Folau, impedindo o defesa de captar as bolas que vinham do ar (em seis corridas atrás da bola, só captou por uma vez), amordaçando assim o ataque Wallaby.
Para além disso, os irlandeses aplicaram uma das defesas mais inteligentes deste mês de Junho, que subia nas fases mais curtas ou em que Foley ia dar para algum asa mais solto, ou esperava pacientemente pelo avanço das linhas atrasadas australianas (raramente correu bem por Haylett-Petty e Koroibete).
A Austrália teve sérias dificuldades em encontrar o rumo certo durante o encontro, claudicando quando não podia, exemplo de uma situação nos últimos 5 metros e que resultou num avant por parte de David Pocock.
Outro ponto que tirou viabilidade a um jogo mais veloz e acelerado australiano, foram as lesões de Michael Hooper (logo aos 16′) e Brandon Paenga-Amosa (saiu mal no recomeço do jogo), percalços complicados. Sem Will Genia (partiu o braço no 2º encontro), a bola não saiu suficientemente rápida para criar problemas a uma Irlanda, que após os 65′ começava a apresentar sinais de cansaço.
No final, os pontapés de Sexton foram o sucesso para a vitória dos irlandeses que souberam limitar a estratégia de Michael Cheika, pondo uma “mordaça” na explosão e agilidade de Samu Kerevi, Israel Folau e Kurtley Beale, de longe o melhor jogador australiano nestas Series.
Vitória bem entregue, a Irlanda copia quase exactamente aquele ano fenomenal da Inglaterra em 2016… faltou-lhes ganhar todos os jogos frente à Austrália, mas não andaram longe desse cenário. Para a Austrália, é tempo de rever as soluções a partir do banco de suplentes, que raramente funcionou a favor dos Wallabies.
E AO 3º JOGO, A ROSA RESSUSCITOU
Owen Farrell inspirou Danny Cipriani, só pode! O abertura inglês inventou um ensaio do nada para Jonny May finalizar com o seu 3º ensaio nestas Series. A introdução do abertura dos Gloucester foi fundamental para impor um jogo mais inteligente, bem delineado e com outra categoria, que George Ford não estava a conseguir meter.
Eddie Jones fez aquilo que se chama um Hail Marry, ou seja, fez uma aposta incrivelmente ambiciosa e cheio de risco que funciona em seu proveito. O regresso de Chris Robshaw (10 placagens, 3 turnovers e foi um sério sarilho para as saídas da formação ordenada da África do Sul), Joe Marler (o bad boy da Sua Majestade fez um jogo impressionante, sem faltas, com 10 placagens e muita mossa na FO), Henry Slade (o centro dos Exeter Chiefs foi sempre um elo de confiança total para a equipa) foram só alguns dos jogadores responsáveis pela vitória inglesa.
Sobretudo foi a forma como não complicaram que lhes valeu, também, o caminho para a vitória. Em 80 minutos a Inglaterra só fez 6 penalidades, um registo que não se via há 16 meses neste elenco treinado por Eddie Jones. Como é que foi possível? Disciplina, trabalho colectivo e inteligência a defender, são alguns elementos para que o jogo corresse a favor da Rosa. São pormenores que falharam nas últimas Seis Nações e que finalmente foram avistadas neste último jogo das Series.
Por outro lado, os Springboks acusaram o desgaste e a ausência de Handré Pollard (o abertura é dos poucos que consegue mudar os timings e ritmos de jogo de forma perfeita e que encaixe directamente na lógica de jogo sul-africana), Willie le Roux e Damian de Allende (sem o centro dos Stormers, os Springboks perdem capacidade de choque e manha no meio do campo).
Elton Jantjies passou muito ao lado do jogo, com a mesma situação a aplicar-se a Peter-Steph du Toit ou André Esterhuizen, algo que tirou qualidade ao elenco de Rassie Erasmus.
Neste jogo já Faf de Klerk foi devidamente “caçado” e o formação não teve o mesmo impacto do 1º ou 2º encontro. Foi quem fez mais faltas em todo o encontro (três), perdeu-se em más decisões (o formação não é assim tão perfeito) e nunca forçou a sua avançada a entrar no ritmo de jogo. Ao “perderem” o nº9 durante largos momentos de jogo, a África do Sul fracassou na sua missão de fazer três em três nestas Series.
Qual é o futuro para a equipa de Eddie Jones, que parece ter encontrado o rumo neste último jogo contra os ‘boks? E Rassie Erasmus já tem um elenco minimamente bom e pronto para o Rugby Championship?
FESTIVAL MCKENZIE&IOANE PARA COZINHAR O GALO
A França voltou a ser “limpa” pela Nova Zelândia no último jogo e, como nos outros encontros, aguentou bem a primeira parte para depois se perder na segunda. O grande problema de Jacques Brunel é a capacidade física dos seus jogadores, que falham na manutenção do ritmo de jogo durante os 2ºs quarenta minutos. Os Les Bleus estão, no entanto, aproximar-se de um nível bem curioso de qualidade de jogo que pode criar problemas no futuro.
A lesão de Parra logo nos minutos iniciais (na sua estreia como capitão da França) também foi factor amplamente negativo para uma selecção que precisava de ter um líder que fizesse a comunicação entre os avançados e linhas atrasadas com excelência.
Não significa que Serin não o conseguisse, mas não é a mesma qualidade em termos de comunicação, liderança e leitura dos momentos de jogo.
O regresso de Wesley Fofana foi um ponto muito a favor dos franceses, que tiveram no centro, um dos seus melhores jogadores com 70 metros conquistados, duas quebras-de-linha e um ensaio. É uma força da natureza com uma técnica especial e que pode (deve) levar a sua equipa para outro patamar.
Falando em patamar, Damian McKenzie recebeu a “obrigação” de substituir Beauden Barrett e não fracassou. Dois ensaios (um deles é ilegal, pois o árbitro impossibilita Serin de chegar à bola), duas assistências e todo um arsenal de soluções que podem resolver alguns jogos complicados para os All Blacks.
Contudo, McKenzie praticamente entregou o “ouro ao ladrão” com dois passes que por muito pouco não deram intercepções para a França. Tem de resolver o seu problema na placagem e na leitura defensiva para ganhar outro destaque como nº10.
Para além do abertura dos Chiefs, destaque para o incrível Rieko Ioane, que fez um hattrick, correu mais de 151 metros, completou quatro quebras-de-linha e seis defesas batidos, sendo imparável no side step e na aceleração de jogo.
O três de trás da Nova Zelândia foi fenomenal, não só com ensaios, mas pela forma como se revezavam e apoiavam o ataque, surgindo no momento X para garantir o aproveitamento de um buraco na defesa francesa.
Na avançada, Scott Barrett, Luke Whitelock, Shannon Frizell e Codie Talyor foram peças fundamentais apresentando-se soltos, irrquietos e dinâmicos. Então Scott Barrett foi um autêntico “monstro” nas placagens, indo buscar Teddy Thomas, Wesley Fofana ou Anthony Belleau quando estes se preparavam para fugir.
Os All Blacks fecham estas Series com três vitórias, duas delas por um resultado extremamente “gordo”, mas não encantaram. Será que vão desiludir em Agosto?
UM ADEUS AZEDO E UMA REAFIRMAÇÃO FENOMENAL
Completamente dizimados… foi desta forma que a Argentina encerrou o seu mês de amigáveis internacionais, no qual Daniel Hourcade pôs um fim na sua ligação à direcção técnica dos Pumas.
Desolodora a postura dos argentinos na defesa colectiva, fracassando por completo a sua missão em parar a forte e intensa linha de 3/4’s escocesa. Foram 20 quebras-de-linha (a Escócia há mais de 5 anos que não fazia tantas quebras-de-linha contra uma formação do tier-1) acumuladas, que “destruíram” a estratégia defensiva de Hourcade.
Stuart Hogg, Dougie Fife (sim, o mesmo que jogava pelos 7’s da Escócia nas World Series) e George Horne deram um show ao ataque, mexendo por completo com o ataque escocês que não parava de andar a uma velocidade louca.
Os seis ensaios foram resultado de uma excelente combinação atacante que provou que a Escócia tem a capacidade de atingi um patamar de qualidade de jogo elevado.
Mas o que aconteceu com a Argentina? Para além dos erros sucessivos de comunicação, a falta de apoio na defesa (a 2ª cortina defensiva foi praticamente inexistente), não houve capacidade e vontade de atacar a bola como mandam as leis a este nível.
Nicolas Sanchez nunca impôs o ritmo de jogo indicado, Martín Landajo foi incapaz e infeliz na sua missão de electrizar o bloco avançado e Agustín Creevy esteve a léguas do líder que costuma (e tem de) ser.
A Escócia arrumou com os seus test-matches com algumas vitórias (e a tal derrota contra os EUA), enquanto a Argentina foi uma sombra muito pálida… os dias gloriosos de 2015 já vão bem longe. Será que vão recuperar a forma?
O JOGO DA SEMANA: Nova Zelândia-França
O PLACADOR DA SEMANA: Scott Barrett (19 placagens)
A MELHOR DEFESA: Irlanda (155 placagens feitas, 89% de eficácia)
O DESBLOQUEADOR DA SEMANA: George Horne (Escócia)
O MVP: Damian McKenzie (Nova Zelândia)
O MELHOR SUPLENTE DA SEMANA: Matt Todd (Nova Zelândia)
O VILÃO: Israel Folau (Austrália)
A DESILUSÃO: França
Para visualizar os jogos na sua totalidade convidamos a efectuar o download do seguinte website:
África do Sul-Inglaterra
Austrália-Irlanda
Nova Zelândia-França
Argentina-Escócia
One comment
Miguel Portela
Julho 4, 2018 at 4:17 pm
Os Ingleses tanto mudaram com o Eddie Jones que acabaram a ganhar da forma que sempre ganharam a defender e ao chuto!
A Irlanda tem os melhores médios europeus e voltaram a mostrar isso nestes test matches!
E a Escócia tem o Hogg que é o Mckenzie Europeu!!
Agora não sei se é o Hemisfério Norte que se está aproximar do sul ou é o do sul que se está aproximar do Norte. Se a nova Zelândia se tornou tão mais forte ou apenas manteve o nível e as outras caíram…