Damian McKenzie: um problema preponderante para o tri dos All Blacks?
De facto não existem falta de soluções por parte dos All Blacks mas poucas neste momento são tão válidas e importantes, muito devido à anormal incerteza durante os November Tests do ano passado e que se refletiram na convocatória alargada para o Rugby Championship deste ano, com Ennor, Bridge e Reece, deixando o habitual Naholo ou o freak Bem Lam na bancada.
Dos November Tests até ao presente, os selecionadores, normalmente sempre muito certos e assertivos das suas decisões, foram alternando entre jogadores e sistemas desde o 10 até ao 15.
A resposta encontrada no fim do ano passado foi o compromisso com um sistema que passava por utilizar 2 playmakers que neste momento peca pela escassez de jogadores que completem os 80 minutos necessários e que possam dar esta continuidade.
O impacto da lesão do McKenzie é uma infelicidade tremenda para um jogador que tanto esforço e trabalho teve de demonstrar para que acreditassem nele devido ao seu “tamanho”, mas que possivelmente será menos preocupante devido ao fator Ben Smith que aparentemente recuperou totalmente de uma lesão recorrente de traumatismo craniano que o afastou de grande parte dos Highlanders e do Super Rugby 2019.
A validade do argumento passa pelo facto do Ben Smith ser um melhor 15 de qualquer das maneiras, de modo que estará tudo bem e que não irá haver problemas de maior. No entanto persistem 2 problemas que devem ser analisados…
Primeiro, existe um buraco gigante a necessitar de solução relativamente ao numero 14 dos Allblacks. Quando anteriormente existiam soluções Dagg, Skudder ou mesmo Cory Jane, não existe neste momento nenhum candidato ou herdeiro óbvio que se possa erguer acima dos restantes trazendo um nível semelhante de habilidade, eficácia e experiência.
Então se Ben Smith não for o 14, quem será? Esta questão continua em aberto e nem mesmo os selecionadores apresentam aparente resposta…
Em Segundo, os All Blacks investiram fortemente numa filosofia de sistema com um segundo playmaker no ano passado baseado na habilidade do McKenzie e Barrett de se assumirem como primeiro recetor e maestro em qualquer momento.
Deste modo, irão eles desperdiçar todo o trabalho realizado no fim do ano passado numa fase determinante pré-Mundial?
Tanto Foster como Hansen analisaram os modelos de defesa utilizados atualmente que levou a que optassem pelo uso dos 2 playmakers com nível elevado de visão, chuto, passe e corrida para contrariar a pressão alta que vemos ser aplicada não só por Gales, Irlanda e Inglaterra assim como Argentina e África do Sul, todos eles candidatos a chegar ao topo no Japão. Estamos a falar de uma mudança de sistema que pode ter várias repercussões e trazer problemas aos All Blacks.
As soluções, com base na selecção para este Rugby Championship, assentam em Ben Smith e Jordie Barrett (com a omissão do exelente mas menos experiente David Havili), mas se eles não conseguiram ocupar o papel de segundo playmaker/arriére no ano passado, é difícil perceber o que mudou desde então.
A outra solução, e que a mim mais me entusiasmaria, para dar a volta ao vazio criado por McKenzie, seria colocar Richie Mo’unga a 10 e mudar Beauden Barrett para 15, com Ben Smith a 14 como vimos contra a África do Sul.
Esta seria provavelmente a melhor opção para o sistema de duplo playmaker se manter, na qual teríamos o 10 mais em forma Richie Mounga e um muito experiente e com espaço Barret a 15 que poderiam mudar o jogo em qualquer momento e dividiram as atenções das defesas adversárias ao ponto de rutura.
Além de garantir o sistema preferido dos All Blacks para a maioria do tempo de jogo, garantia também que teriam os jogadores certos nas posições certas para executarem os seus papéis com 2 chutadores disponíveis como bónus.
Nem tudo são facilidades pois isto traria também os seus desafios… teriam que reverter a ordem de escolha do 10, sendo que Barrett já ganhou por 2 vezes melhor jogador do mundo na posição de abertura e parece pouco provável que Hansen tome esse caminho em definitivo.
Também limitaria a tão importante flexibilidade tática aos All Blacks pois Mo’ubnga tem sido consistentemente usado a 10 para fechar os jogos com o Barret a 15, após ter analisado todo o jogo e as deficiências adversárias durante os primeiros 50-60mns.
Se Mo’unga começar a 10, acabaria o jogo nessa posição ou Barrett mudaria para 10 mais próximo do fim do jogo? Isso significaria um novo e desconhecido papel para Barrett com os seus próprios novos desafios e incertezas.
Os Allblacks têm seriamente muito que pensar para encontrarem a claridade de jogo que lhes faltou no ano passado e que levou à primeira derrota histórica contra a Irlanda. A lesão do McKenzie produziu o clássico debate Pessoal vs Estratégia, e as questões e problemas que levanta mostra que ele é uma perda muito maior do que se pensaria ao inicio…