Chile: de amadores ao alto rendimento e ao mundial de 2023
A selecção chilena conseguiu, pela primeira vez na sua história, chegar a um Mundial de selecções de rugby. O Chile vai estar em França em 2023! Uma pesquisa de artigos, notícias e entrevistas ao seleccionador Pablo Lemoine, permitiu perceber um pouco, as mudanças que tiveram de ocorrer para que este grande passo pudesse ser dado.
Pablo Lemoine foi um pilar uruguaio que jogou pelos Bristol Shoguns, Stade Français, Montauban e Valence d’ Agen, tendo posteriormente seguido a carreira de treinador, pelo Uruguai, Alemanha e agora, Chile.
Pelo Stade Français, jogou entre 2000 e 2006, numa equipa que venceu o campeonato Francês em 2003 e 2004, sendo segundos classificados em 2005 e tendo ainda sido segundos na Heineken de 2001 e 2005.
Treinou o Uruguai entre 2012 e 2015, tendo sido um dos principais responsáveis pelo “salto” que Los Teros deram nessa altura. Pablo chegou à selecção Chilena em 2018 e em 2019 (11 anos depois da Argentina), foi implementado um centro e processos de alto rendimento pela Federação Chilena.
Em três anos, com mais recursos financeiros, logísticos e humanos; com um “Bielsa” (como apelidam o Pablo Lemoine) cheio de listas e objectivos traçados; com uma mudança de mentalidade de “vou treinar quando puder” para “estou aqui a 100%”, a selecção conseguiu o impensável: derrotou os U.S.A num agregado de 52-51 e vai estar na Pool D do Mundial, junto com França, Inglaterra, Japão, Argentina e Samoa.
Os Condores sob Lemoine, assistiram a uma mudança de mentalidade muito significativa.
Os processos de alto rendimento exigiram um comprometimento por parte dos jogadores, em que metas e objectivos foram traçados, obrigando ao cumprimento de um caminho duro e muitos vezes sem retorno financeiro ou bónus: “o caminho que se traçou não era para todos”.
Pablo menciona que no início, a disparidade e os desequilíbrios eram tantos que se assistia a uma cena de “realismo insuportável” e em que o que se dizia, era sempre muito mais do que o que se fazia. Apesar do “potencial gigantesco” dos jogadores, não havia comprometimento, apenas divertimento e “hobby”.
A late, late penalty saw Chile take the lead for the first time having been 19 – 0 down in the first half.
A final score across both legs of 52 – 51 sees the South Americans book their ticket to #RWC2023 pic.twitter.com/vEvxA3qcO1
— Rugby World Cup (@rugbyworldcup) July 16, 2022
Hoje e depois de três anos de muita intensidade, o capitão Martín Sigran (asa) é o exemplo a seguir, com uma vasta compreensão do ser humano além das competências técnicas, “fazendo o que diz” e sendo um “líder natural”, com entrega total ao jogo.
E é nesta mudança de mentalidade que reside um dos factores decisivos; o outro é sem dúvida Pablo Lemoine: ele conseguiu traçar duas tácticas para os dois jogos frente aos U.S.A., mexendo no plano de jogo e mexendo com o banco de maneira a garantir uma adaptação ao adversário, com o melhor resultado possível.
Por exemplo, no segundo jogo frente aos USA, colocou Urroz a defesa e mudou o habitual defesa (Santiago Videla) para ponta esquerdo. Urroz vem dos sevens, com grande poder de pontapear a bola e Videla é um prodígio de técnica, velocidade e de conversão de ensaios. O perfil de pontapés foi, não tanto para ganhar território mas através pontapés altos e curtos criar grande efeito de pressão sobre a defesa adversária, investindo muito no contra-ataque. Os irmãos Garafulic, a centro e ponta direito, funcionam muito bem juntos, com destaque do segundo centro que consegue ter uma leitura do jogo muito assertiva, adaptando o seu posicionamento às variáveis que vão surgindo.
Lemoine não tem pejo de escolher os melhores jogadores para determinada posição e determinado jogo, conseguindo fazer uma análise e um planeamento prévios muito bons mas também gerindo muito bem o banco.
Ainda de referir que grande parte destes jogadores do Chile jogam pelo Selknam, a franquia de Santiago que joga na Super Liga Americana de Rugby, tendo a oportunidade de defrontar os Jaguares XV e tendo inclusivamente ganho por duas vezes aos Argentinos.
Sem dúvida que esta passagem aos grupos do Mundial, popularizará a equipa e de certa maneira, irá alavancar a moral. Há potencial, há trabalho, há empenho, há mais recursos e há mais coesão, mas chegará? O jogo de abertura será contra o Japão, sem dúvida uma boa oportunidade para fazer pontos… O Chile está no mapa, esperemos que aí fique por longo tempo! Ocupa actualmente o 21º no ranking Mundial, o seu melhor posicionamento de sempre, atrás de Portugal.
De mencionar ainda que os USA irão jogar frente a Hong Kong, Quénia e Portugal, numa oportunidade de repescagem.
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