As Eleições na FPR: a visão, ideias e propostas do CDUP Rugby
O Fair Play durante as semanas que antecedem as eleições na Federação Portuguesa de Rugby propôs três perguntas a dirigentes, jogadores, técnicos e árbitros sobre o futuro da modalidade. As reflexões, propostas e desejos de cada um dos entrevistados. Hoje começamos com Luís Bessa, da direcção do CDUP Rugby
Olhando para o que foram os últimos três anos de governação federativa, quais são as áreas que precisamente de uma reforma? E o que se perdeu, para si, neste período de tempo?
A questão financeira da FPR é o assunto dominante das preocupações do rugby nacional. Com os fracos recursos existentes tudo se torna difícil e é impossível estabelecer uma estratégia de médio e longo prazo, já que a gestão “à vista” absorve os meios humanos envolvidos com a resultante preocupação de sobrevivência da modalidade no país. É absolutamente necessário reabilitar a imagem do rugby nacional, a nível interno e a nível das competições internacionais, atraindo assim novos patrocinadores para a FPR e para os clubes e, também, novos jovens atletas que são fundamentais para o desenvolvimento do Rugby.
A questão financeira reflectiu-se também negativamente na actividade das selecções nacionais, sendo que, face às prestações das selecções mais representativas – Séniores XV e VII – a visibilidade do rugby, já de si reduzida, tornou-se ainda menor, contribuindo assim, também, para o afastamento de patrocinadores e potenciais jovens atletas. Entendemos ser necessário um investimento nesta área, procurando melhorar condições para os atletas treinarem, bem como voltar a criar condições para que a equipa técnica possa seleccionar entre todos os jogadores elegíveis para a selecção nacional, joguem eles em Portugal ou no estrangeiro.
Outra questão que nos preocupa é a relação entre os diversos intervenientes no jogo com as equipas de arbitragem. Acreditamos que se torna necessário que a Federação Portuguesa de Rugby e as Associações Regionais levem a cabo, em conjunto com os clubes, acções de sensibilização para os dirigentes, treinadores, apoiantes, familiares de atletas e espectadores de uma maneira geral, tendo em vista evitar que se “culpe” sistematicamente “o árbitro”, pelo insucesso da equipa que se apoia.
Os sinais desta falha dos famosos valores (que não são só do rugby, mas de toda a actividade desportiva) estão por todos os lados, entram-nos pela casa dentro através da comunicação social e das redes sociais e estão, também, nas bancadas e nas áreas técnicas dos nossos campos de rugby. Parece haver uma vontade colectiva dos clubes em resolver este assunto, mas é preciso fazer mais e melhor. Se assim não for, corremos o risco de voltarmos a ver cenas como aquelas que aconteceram num passado recente, que tanto prejudicaram a imagem do Rugby português e que todos lamentamos, mas que não podemos ignorar.
Sente que os clubes portugueses devem participar mais nas economias da Federação, e que a mesma deve desenvolver e divulgar melhor as competições internas?
O momento do Rugby nacional, embora pareça estar a evoluir para melhor, não nos parece o ideal para estar a pedir maior participação dos clubes nas “economias” da FPR. Os clubes já participam com verbas através das inscrições bem como para a arbitragem.
Nesta fase de reabilitação (acreditamos que estamos realmente nessa fase) a maioria dos clubes, estão, também eles, com as mais diversas dificuldades financeiras. Pensamos que é inevitável que venha a acontecer num futuro próximo, mas, na nossa opinião ainda não é oportuno o que não impede que se vá reflectindo sobre o assunto.
Em relação a esse eventual esforço financeiro, seria bom pensar-se num equilíbrio entre as equipas que fazem mais kms/época e as que fazem menos, ou seja, definir um coeficiente a aplicar ao valor estabelecido, em função desses mesmos kms de deslocação das diversas equipas dos escalões dos clubes.
Basta comparar, por exemplo, os kms/época feitos pela equipa sénior do CDUP – o mesmo se aplica aos outros escalões – com qualquer uma das equipas da mesma divisão de Lisboa, para se perceber que estamos a falar de “esforços” completamente diferentes… e o que vai (e vai muito) para transportes não vai para outras áreas.
Quanto à divulgação das competições internas, pensamos que é fundamental. Há muita gente que não estando ligada a nenhum clube mas que gosta de Rugby, não consegue ter qualquer informação acerca do que se se passa a nível nacional. Às vezes até parece ser uma modalidade clandestina, tal é o seu “desligamento” da comunicação social.
Sente que há possibilidades de crescimento no rugby português? Como é que o CDUP vai ajudar o futuro da modalidade
Acreditamos que há espaço para crescimento, desde que haja condições financeiros para investir em recursos humanos ao serviço do desenvolvimento, seja na FPR, nas Associações Regionais ou nos clubes. O Cdup Rygby, naturalmente, está disponível para colaborar nos planos de desenvolvimento que venham a ser definidos em concordância com as ARs e a FPR, dentro das possibilidades dos seus recursos humanos e financeiros, sendo que a nossa maior prioridade, neste momento, é ter instalações onde todos os escalões possam treinar.
O CDUP Rugby distribui a sua actividade de treinos dos diversos escalões, em quatro espaços distintos e geograficamente afastados, inviabilizando assim o saudável contacto sistemático entre os jovens atletas e os atletas séniores, entre os Veteranos (escalão tão importante na aglutinação do clube) e todos os outros escalões, entre os treinadores dos diversos escalões e entre os respectivos directores de equipa.
Menoriza também o encontro entre familiares dos atletas de várias gerações, dificultando assim um apoio tão importante, na dinamização do Clube. Manter o CDUP Rugby no nível em que está – Séniores na Divisão de Honra e Taça Europcar Challenge, sub-18 e sub-16 no Grupo A, é, nas condições actuais, pouco menos do que um milagre, que se deve acima de tudo ao enorme esforço dos atletas que quase não têm vida pessoal, entre estudo ou trabalho, treinos e horas a fio passadas nos autocarros de transporte para os jogos.
O mesmo se aplica às equipas técnicas e aos Directores de Equipa, sendo que estes últimos fazem um extraordinário trabalho, pouco visível e muitas vezes sem o reconhecimento devido por todos os envolvidos no clube.
Resta-nos uma consolação: os nossos atletas transportam para a sua vida profissional todas as mais-valias que resultam das características inerentes à actividade rugbística, com o acréscimo de mais uma: enorme resiliência. Apesar destas enormes dificuldades o CDUP Rugby, vai tentando captar novos atletas junto de estabelecimentos próximos dos locais de treino ou onde existam relações privilegiadas. Estamos também disponíveis para colaborar com os diversos clubes da cidade, no sentido de, em conjunto, obtermos melhores condições para o desenvolvimento desta modalidade tão desprotegida e de que tanto gostamos.