3 jogadores-destaque da 1ª Ronda das Seis Nações 2020
Foi um fim-de-semana carregado de emoções e surpresas, já que a França derrotou a super-favorita Inglaterra em Paris enquanto que a Escócia por muito pouco não levou de vencida a Irlanda… mas quem foram os grandes protagonistas? E porque é que o foram? Escolhemos 3 jogadores-destaque desta primeira leva de jogos das Seis Nações 2020.
Qual foi o melhor deste trio?
GREGORY ALLDRITT (FRANÇA)
Queriam um novo nº8 pronto para ser referência a nível internacional? Então abram alas para Grégory Alldritt, um dos grandes produtos da formação do rugby gaulês e que tem dado cartas pelo La Rochelle nas duas últimas temporadas, sendo o dono da camisola 8 da França desde 2019. Já tinha dado provas da sua enormidade enquanto defesa durante o Mundial de Rugby do ano passado, mas neste Le Crunch provou definitivamente que é o senhor que se segue tanto como 3ª linha centro e líder de equipa dos Les Bleus. Vejamos os seus apontamentos estatísticos mais significativos:
– 18 placagens efectivas (2º jogador com mais, só atrás de Le Roux que efectuou 24);
– 4 turnovers, dois dos quais terminaram em penalidade a favorecer a França;
– 30 metros conquistados em 11 carries (jogador que mais vezes entrou no contacto com a oval) e 2 defesas batidos;
Mas estes números pouco nos dizem do seu contexto, ou seja, de como e quando foram aplicados ou de qual a importância de certas placagens em momentos decisivos do encontro e aí é que vale a pena perceber o impacto de Alldritt. O avançado de 22 anos aplicou três placagens que forçaram recuo ofensivo à Inglaterra, uma dos quais aplicada a Sam Underhill com o asa a ser completamente levantado do chão e arremessado uns bons metros para trás, uma imagem quase irreal perante a dimensão física do inglês.
Dois dos turnovers conquistados foram nos 10 e 5 últimos metros da França, pondo fim a uma sequência de fases ameaçadoras da Inglaterra mostrando ser possuidor de uma noção do timing certo para atacar o breakdown e apoderar-se da bola. Não conquistou um registo sensacional de metros como aconteceu com Charles Ollivon (um dos melhores nesta vertente), mas conseguiu manter a posse de bola em todas as acções atacantes, mostrando um avanço efectivo com a conquista de 8 vezes da linha de vantagem.
Veja-se que uma das melhores saídas de 8 (um pormenor que a Inglaterra nunca soube explorar, já que Tom Curry não tem o poder de aceleração de Bill Vunipola por exemplo) deu-se dentro da área de 22, com Grégory Alldritt a sair disparado e a ganhar 9 metros até ser parado por Lewis Ludlam, forçando um recuo inesperado à defesa inglesa e uma plataforma de ataque segura. Portanto, uma exibição completa e de elevada qualidade mostrando ser um dos nº8 não só para o futuro mas para o presente do rugby mundial.
LEIGH HALFPENNY (PAÍS DE GALES)
Diziam que nunca iria voltar à forma que já ostentou no passado, mas a verdade é que no jogo frente à Itália encheu as as linhas atrasadas do País de Gales com 124 metros conquistados em 13 portagens de bola, cometendo só dois erros com a oval em seu poder. Mas o que significaram os metros conquistados de Leigh Halfpenny para os campeões em título das Seis Nações? Ensaios. Sempre que o nº15 acelerou e abriu espaço para fugir pela defesa transalpina, o País de Gales efectivamente chegava à linha de ensaio ou muito perto, conferindo uma faceta letal ao três-de-trás que foi de excelência neste encontro – Josh Adams com um hattrick e Johnny McNicholl com uma estreia auspiciosa – algo essencial para garantir pontos, vitórias e títulos.
O jogo ao pé do defesa de 31 esteve no seu melhor, aplicando bons up n’ unders ou grubbers funcionando como uma plataforma de conquista de território, um pormenor muito próprio deste País de Gales da era Gatland-Pivac, e que Halfpenny foi dos melhores de longe (130 metros conquistados a partir do pontapé, com só Hadleigh Parkes a superiorizar com cerca de 170) sendo assim uma ameaça constante com a bola tanto nas mãos como nos pés.
A riqueza que Halfpenny trouxe à estratégia galesa para este jogo de abertura do País de Gales proporcionou um ataque estável e equilibrado, uma visão de jogo letal que está sempre a estudar qual a melhor opção e um pontapé carregado de ameaças e de perigo total para quem está a defender. O primeiro ensaio de Josh Adams vem de uma corrida típica do melhor Halfpenny, que não soube acelerar no momento certo como percebeu as fraquezas da Itália naquele lance.
A importância de Halfpenny na construção do ensaio do País de Gales (a partir de 00:37)
JORDAN LARMOUR (IRLANDA)
Mágico, técnico, velocista, desbloqueador, fantasista… qual o melhor adjectivo para Jordan Larmour? O defesa vai ser o grande nome da Irlanda para estas Seis Nações (e futuras) e na recepção à Escócia foi responsável por dar profundidade ao ataque, onde as 3 quebras-de-linha foram acompanhadas de uma onda de defesas batidos, levantando pânico e receio na defesa escocesa que teve vários problemas para parar os sprints do nº15.
Ao todo foram 153 metros percorridos, três quebras-de-linha, sete defesas batidos, quatro tackle-busts e apenas um erro de manuseamento de bola, evidenciando uma segurança total quando é chamado a participar nas movimentações e estratégia ofensiva imposta por Andy Farrell, sendo sem dúvida alguma uma das unidades mais perigosas da Irlanda.
A Escócia até mostrou uma linha de defesa pressionante e agressiva o que tirou espaço a Conor Murray e Jonathan Sexton para arriscar noutras opções, mas Larmour mostrou inteligência ao saber em que momentos podia arriscar e acelerar para cima dos placadores da Escócia. Esta participação do nº15 foi essencial para os irlandeses pressionarem a Escócia e evitar que estes aplicassem uma defesa demasiado subida, impondo assim um género de medo e terror na cabeça dos seus adversários.
Pode não ter marcado ensaios ou feito assistências, mas as subidas desenfreadas da Irlanda vieram quase geralmente das acelerações de Jordan Larmour, que mostrou perseverança e eficácia nas perseguições dos pontapés de Sexton ou Murray, um elemento essencial desta Irlanda inventada por Joe Schmidt, não se sabendo bem o que Andy Farrell procura implementar no futuro. Contudo, com Larmour a fazer estas exibições o sistema de jogo não só sobreviverá como vai ganhar outra letalidade como se viu contra a Escócia.
O pormenor técnico de Larmour (06:22)