Portugal nos Jogos Olímpicos 2024: avaliação final

Francisco IsaacAgosto 11, 20247min0

Portugal nos Jogos Olímpicos 2024: avaliação final

Francisco IsaacAgosto 11, 20247min0
Quatro medalhas, catorze diplomas foi o pecúlio de Portugal nos Jogos Olímpicos 2024 e analisamos se foi uma prestação positiva das Quinas

Quatro medalhas, catorze diplomas olímpicos, presença em diversas finais – algumas de forma inédita – e um crescimento positivo da missão portuguese nuns Jogos Olímpicos, este é o pecúlio final da missão portuguesa em Paris e que vale a pena agora rever ao pormenor certas áreas, façanhas e pontos. Importa começar por dizer que Portugal nos Jogos Olímpicos 2024 foi a campanha com maior taxa de sucesso das 27 presenças neste evento desportivo de Verão (lembrar que as cores nacionais já estiveram na edição de Inverno por dez ocasiões), apesar de ter se apresentado na capital parisiense com menos 19 atletas comparado com Tóquio e o Rio de Janeiro, sendo a participação com menor número desde Sydney 2000 (62). Por outro lado, e como já tinha referido no artigo de antevisão, foi a missão com o maior número de mulheres, ultrapassando os homens por um, o que é um feito e demonstra que a participação feminina continua a crescer no desporto feminino – não tendo ligação com os Jogos, o facto de virmos a ter uma selecção feminina no campeonato do Mundo de sub-19 de basquetebol ou a subida no ranking no rugby, são sinais demonstrativos dessa expansão.

Dos 73 atletas presentes, 11 atingiram as finais das suas provas (triatlo e outras provas em que não há fase de apuramento não estão contabilizadas aqui), outros sete conseguiram pelo menos chegar às meias-finais, enquanto mais dez ganharam a sua 1ª ronda ou 1º combate, dependendo da modalidade. Fez-se história por exemplo na ginástica artística, com Filipa Martins a ter conseguido um apuramento inédito para a final de aparelhos, acabando por fechar em 20º lugar, conseguindo um feito que sonhava desde a sua primeira participação no Rio de Janeiro em 2016.

Depois há casos como Salomé Afonso que realizou a sua melhor marca pessoal, uma das poucas a consegui-lo e que até dá abertura para sonhar com outros palcos no futuro.Das modalidades que tiveram maior taxa de apuramentos dos atletas para as finais/meias-finais, foi a canoagem a obter a taxa mais alta, com Fernando Pimenta, João Ribeiro e Messias Batista a chegarem à decisão das medalhas, e Teresa Portela a ter terminado em 10º lugar. O atletismo com mais atletas foi a quem teve “ligeiramente” pior, mas também conseguiu colocar uma série de estreantes nas meias-finais das séries de corrida. Veja-se que no lançamento do peso, Jéssica Inchude foi uma das boas novidades, fazendo crer que com melhores condições poderá até almejar a outras posições em futuros meetings e Jogos Olímpicos.

Em termos de lugares, Portugal conseguiu um 1º lugar (a dupla Iúri Leitão e Rui Oliveira no Madison), dois 2ºs lugares (Pedro Pichardo no triplo salto e Iúri Leitão no Omnium), um 3º (Patrícia Sampaio no judo -78), cinco 5ºs (Vasco Vilaça, equipa mista de triatlo, a dupla de Carolina João e Diogo Costa) e Gabriel Albuquerque nos trampolins), quatro em 6º (Ricardo Batista no triatlo, Fernando Pimenta, João Ribeiro e Messias Baptista no K1 e K2), um em 7º (Nelson Oliveira ciclismo) e dois 8ºs (Maria Inês Ribeiro no tiro com arma de caça e Jéssica Inchude no lançamento do peso). Irina Rodrigues terminou em 9º e a poucos centímetros de ter garantido mais um diploma olímpico para Portugal. Em termos percentuais, Portugal garantiu um lugar no top-8 em 19% dos atletas que participaram nestes Jogos Olímpicos 2024, o que prova o crescimento positivo do desporto português.

Novas marcas nacionais foram conquistadas, com Iúri Leitão a ser o primeiro português a ganhar duas medalhas nos mesmos Jogos Olímpicos, um feito único neste momento, para além de Pedro Pichardo e Fernando Pimenta ainda terem a oportunidade em 2028 de ganhar três medalhas ao serviço de Portugal. Desde 1996 que Portugal ganha sempre uma medalha e foram os 2ºs jogos em que se conquistou mais ou igual a quatro, demonstrando, aqui, também crescimento.

Dos 206 comités olímpicos que marcaram presença nestes Jogos Olímpicos, Portugal terminou em 50º na classificação geral, e foi a 21ª melhor comité olímpico presente em Paris, contabilizando aqui o Reino Unido, Geórgia e outros que podem estar no processo de se juntar à União Europeia ou que já lá estiveram.

Posto isto, não significa que Portugal não possa fazer melhor em futuras Olimpíadas, mas há que ter noção de que exigir medalhas ou presenças nos top-5 ou top-8 e depois publicamente humilhar atletas e a fazer pouco de quem trabalhou nos últimos 4 anos, é ao nível de quem não tem capacidade para participar na cultura desportiva de um país. Porque efectivamente há cultura desportiva em Portugal e as recentes conquistas quer no feminino ou masculino é demonstração disso mesmo, com as modalidades a crescerem todos os anos. Todavia, há certos problemas que precisam de ser combatidos: colocar um ponto final na forma como as universidades e empresas privadas tratam quem quer ser atleta profissional ou semiprofissional, quase marginalizando quem tenta conquistar novos mundos. É preciso criar condições humanas e profissionais, e tentar ser mais solidário com quem pode beneficiar não só o país, mas o portfólio dessas empresas/universidades, algo que acontece em países como os Países Baixos, Itália, Dinamarca, etc.

Outra situação, é o facto de se olhar para o futebol de formação como a melhor modalidade para um jovem, muito pela pressão dos amigos e também pelo facto dos pais de não terem de perder tantas horas como seria em grande parte das modalidades. Aqui passa também pela reformulação da mentalidade que o desporto é só um “hobby” para entreter, quando pode ser muito mais que isso. Mas voltamos ao problema inicial, soluções profissionais para quem quer competir ao mais alto nível sem o medo de acabar num emprego precário ou desemprego após a reforma desportiva.

Portugal também não é o marasmo que muitos portugueses fazem parecer, com o desporto nacional a ter evoluído largamente nos últimos 24 anos, tendo atletas a participar em competições que ninguém sonhava. O sucesso do ciclismo de pista adveio da construção da pista de Sangalhos (vindo do projecto do governo de José Sócrates, um dos que ironicamente mais contribui para a renovação de infraestruturas ou construção das mesmas em locais afastados das grandes cidades) e a construção de uma equipa técnica que se dedicou à modalidade, tendo as condições mínimas (estruturas, objectivo e programa) para chegar a resultados impressionantes. O judo mesmo passando por uma fase conturbada voltou a conquistar nova medalha, e parece que podemos vir a ter um futuro positivo caso a estrutura federativa ultrapasse os problemas internos que têm assolado desde 2022.

Os Jogos Olímpicos 2024 podiam ter resultado em mais medalhas para Portugal (Catarina Costa, Gustavo Ribeiro e Yolanda Hopkins mereciam melhor sorte e tinham capacidade para chegar à luta pelas medalhas), mas não ver como um sucesso desportivo e que é mais um passo numa longa caminhada, é só ao nível de quem toma a rivalidade no desporto como um choque de inimigos à procura de conflitos. Façamos melhor por quem representa Portugal, porque eles lutam pelo sonho em representação dos 10 milhões de cidadãos nacionais portugueses.


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