Portugal em destaque nos europeus e mundiais de judo
As seis semanas que separam este artigo do último, e apresento, desde já, desculpa por este intervalo a que não é alheio uma fase muito preenchida profissionalmente, ficam marcadas pela excelente prestação da equipa mista nos Campeonatos do Mundo de Júniores, que culminou com a conquista da medalha de bronze, pela primeira vez, por uma prestação muito positiva nos Campeonatos da Europa de Séniores, que decorreu em Montpellier, e pelo regresso aos pódios nas escaldantes etapas do circuito mundial.
Balanço dos Campeonatos do Mundo de Júniores de ODIVELAS
Mais uma vez Portugal destacou-se pela excelente organização de uma importante competição internacional. Somos bons, competentes e damos cartas no que respeita à organização deste tipo de eventos. Ficou para a história a épica prestação da equipa mista portuguesa que, brilhantemente, conquistou a medalha de bronze, desta que é sempre uma emocionante competição, e acabou por ofuscar uma prestação na competição individual que, na minha opinião, ficou muito aquém das expectativas.
Tive oportunidade de estar presente e constatar com algum desgosto que, apesar de uma enorme comitiva, possível pelo facto de Portugal ser o país anfitrião, com uma cota de inscrição por categoria de peso superior aos outros países, nenhum judoca português conseguiu alcançar os quartos-de-final, momento que marca a passagem à possibilidade de lutar por uma medalha. Pouco foram os que saíram da 1.ª ronda das eliminatórias e ganhar um combate neste campeonato do mundo.
Analisando a prestação da equipa, posso concluir que poucos judocas portugueses tinham condições de lutar a este nível. Foi evidente a falta de experiência, de ritmo e, em alguns casos, de preparação, para estes palcos. Apesar de ser o escalão júnior, alguns dos judocas estrangeiros que viajaram até Odivelas, já lutam ao mais alto nível, nomeadamente no circuito mundial da federação internacional de judo – FIJ.
Fiquei com a impressão de que, ao convocar alguns destes judocas, a Federação Portuguesa de Judo teve como objetivo dar um “presente” ou compensar alguns atletas, treinadores ou mesmo clubes. Será que este é o caminho? Na verdade, nem considero que as razões que enumerei tenham sido as principais razões por detrás da fraca prestação na competição individual. Foi evidente que a equipa estava dispersa, cada atleta estava por si, isolado, era orientado pelo seu treinador de clube, alguns sem experiência a este nível, perdendo-se o espírito de equipa, de grupo, necessário neste tipo de competições. A prova que esta perceção poderá não estar errada, foi a radical mudança de comportamento, prestação e atitude que tivemos oportunidade de presenciar na competição de equipas mistas, onde vi liderança, espírito de grupo e muita, MUITA, superação.
Fica o resultado da equipa mista, bronze no Campeonato do Mundo de Júniores, repetindo o bronze brilhantemente alcançado no Campeonato da Europa deste escalão! Um grande dia para o judo português! Parabéns!
Em jeito de balanço, o Japão voltou a dar uma prova cabal do seu domínio, claramente a nação que domina o judo no panorama mundial, conquistando o título de equipas mistas e na competição individual: 9, sim NOVE!, títulos mundiais, 3 medalhas de prata e 2 medalhas de bronze. Avassalador!
Grand Slam Abu Dhabi
Esta importante etapa do circuito mundial, decorreu entre os dias 24 e 26 de outubro. O melhor ficou para o fim, e o sabor amargo de ficar à porta do pódio, os 5.ºs lugares de Catarina Costa (48Kg), Patrícia Sampaio (78Kg) e João Fernando (81Kg), que refletem derrotas na luta pela medalha de bronze, foram “compensados” com uma grande prestação de Rochele Nunes (+78Kg), que valeu o ouro e uns preciosos 1000 pontos que a colocam com um pé nos Jogos Olímpicos de Paris, atualmente na 5.ª posição do ranking de qualificação Olímpica.
Ficou claro que o circuito está muito competitivo, combates emocionantes disputados até ao último segundo, e a certeza de que todos os pontos serão disputados até ao fim. Não se pode facilitar, atenção e “focos” total serão imprescindíveis. O custo é demasiado alto e alguns judocas portugueses têm acusado alguma pressão e vacilado em momentos decisivos.
Campeonatos da Europa de Séniores, Montpellier 2023
Na ressaca do campeonato nacional de equipas/clubes, que será objeto de análise no próximo artigo, juntamente com os campeonatos nacionais individuais de séniores, decorreram na cidade francesa de Montpellier os Campeonatos da Europa de 2023.
Destaco o fantástico ambiente, um público conhecedor e muito ruidoso, incansável no apoio aos judocas franceses, que compareceu em massa, esgotando a lotação da SUD de FRANCE ARENA, durante os 3 dias deste Campeonato.
A prestação portuguesa foi bastante positiva, finalizando na 14.ª posição em 46 países. Destaco Catarina Costa, que renovou a medalha de prata da cat. dos 48Kg, numa reedição da final dos Campeonatos da Europa de Sofia de 2022, frente à francesa Shirine Boukli, e Patricia Sampaio, que conquiatou a medalha de bronze dos 78Kg, num combate em que esmagou, desculpem a expressão mas é provável que seja a que melhor define o que se passou, a experiente judoca neerlandesa Guusje Steenhuis, com um impressionante currículo, designadamente a medalha de bronze nos Campeonatos do Mundo de 2023, em Doha. Bárbara Timo terminou na 5.ª posição dos 63Kg, evidenciando alguma falta de concentração, a quebrar em momento decisivos, ficando a ideia de que a medalha estava perfeitamente ao seu alcance.
Pela negativa, o destaque destes Campeonatos da Europa foi a grave lesão no joelho da Campeã Telma Monteiro, logo no seu primeiro combate, frente à atleta russa que viria a conquistar o título da categoria dos 57 Kg, Daria Kurbonmamadova. Esta lesão implica uma longa paragem e poderá colocar em risco a sua qualificação para a 6.ª participação nos Jogos Olímpicos… Telma Monteiro não merece, Portugal não merece ver uma das suas maiores referências do desporto nesta situação, mas Telma é uma lutadora, acredito que a sua reconhecida capacidade de trabalho, resiliência e determinação farão a diferença e acredito que a sua aspiração de estar presente em Paris 2024 permanece intacta, apesar de mais complicada. Estamos todos a torcer por ti Campeã!! Volta rápido!