Os eventos de Field mais aguardados dos Mundiais de Doha 2019 pt.2
A segunda parte dos eventos de Field de Mundiais de Doha 2019! Podes ler a parte 1 aqui: Mundiais Doha pt.1
5- Triplo Salto (Feminino)
A representação portuguesa nos últimos dos anos no Triplo tem sido de nível de elite e é por isso com natural interesse que acompanhamos a disciplina, tanto no feminino quanto no masculino.
No feminino, Patrícia Mamona (campeã europeia em 2016) e Susana Costa são naturais candidatas a um lugar na final, repetindo o feito já alcançado nos Jogos do Rio e nos Mundiais de Londres.
Para tal será importante que Susana Costa continue a demonstrar o nível que conseguiu voltar a atingir em 2018, mesmo depois de lesão na fase inicial da temporada e que Patrícia Mamona volte a atingir os níveis alcançados antes da sua lesão que colocou em risco a participação nos Europeus de Berlim. Uma época livre de condicionamentos físicos de maior grau deverá ser a maior preocupação das atletas, numa disciplina que parece atravessar um período de passagem de testemunho(s).
Caterine Ibarguen (35 anos) – que um dia saltou enormes 15.31 metros! – foi distinguida há poucos dias como a atleta feminina do ano e razões não faltaram para que tal acontecesse. A colombiana não perdeu qualquer prova no Triplo e na Diamond League conseguiu o feito de conquistar o Diamante tanto no Triplo quanto no Comprimento!
Pareceu – e, em abono da verdade, foi – um ano totalmente dominador de Ibarguen, mas a atleta que é a atual campeã olímpica e que foi duas vezes campeã mundial, teve a felicidade de não ter Rojas por perto. Em 2019 a história será diferente. Yulimar Rojas (23 anos), a nova coqueluche venezuelana, teve um 2019 praticamente afastada de competições, não tendo qualquer resultado ao ar livre.
Fez apenas uma prova em pista coberta, os Mundiais Indoor – onde participou por convite para defender o seu título – e mesmo limitada fisicamente, saltou 14.63 metros para o Ouro! Depois da Prata nos Olímpicos do Rio, sagrou-se campeã mundial em Londres na frente de Ibarguen e irá a Doha defender o seu título.
Fisicamente Rojas parece ter o que é preciso para melhorar largamente as suas marcas e sob a liderança de Iván Pedroso é difícil pensar num cenário em que isso não aconteça neste ciclo de 3 anos.
Caso a atleta esteja para aí virada, física e mentalmente, será difícil de ser batida, apesar de Ibarguen ser uma atleta bastante competitiva que aos 34 anos ainda demonstra uma vitalidade impressionante.
Será um dos duelos dos Campeonatos e não é fácil pensar numa outra atleta que possa entrar nos dois primeiros lugares, agora que Olga Rypakova (34 anos) parece se encontrar na fase descendente, ainda que tenha sido Bronze no Rio e em Londres.
Em 2018, duas jamaicanas destacaram-se com recordes pessoais e podem entrar nas medalhas – Kimberly Williams (30 anos) e Shanieka Ricketts (27 anos).
A polémica grega Paraskevi Papachristou (30 anos) voltou ao mais alto nível com o título europeu e entre as jovens que mais se destacaram temos a brasileira Nubia Soares (23 anos) que saltou 14.69 metros, terceira do ano e a espanhola Ana Peleteiro (23 anos) que conquistou o Bronze nos Mundiais Indoor e nos Europeus de Berlim.
Mas muita atenção deve ser dada às norte-americanas, numa altura em que parece que os norte-americanos começam a apostar mais em disciplinas do field que por algum tempo negligenciaram.
Uma delas é Tori Franklin (26 anos), que foi por alguns meses a líder mundial do ano com os seus enormes 14.84 metros (recorde nacional), num dia em que todos os seus saltos válidos (5) foram recordes pessoais! A outra é a jovem Keturah Orji (23 anos), uma das melhores atletas da história do desporto universitário norte-americano e que em 2019 já se poderá concentrar exclusivamente no Triplo.
4 – Triplo Salto (Masculino)
A nível nacional é, provavelmente, o evento mais esperado, uma vez que Portugal terá dois atletas com ambições de pódio – recordam-se da última vez que tal aconteceu na mesma disciplina?!
Nelson Évora (35 anos) vem de uma importantíssima conquista do título europeu que lhe liberta de uma espinha atravessada e irá competir em Doha sem qualquer pressão, com um palmarés a falar inteiramente por si.
Terá ainda assim uma das mais duras concorrências da sua carreira, entre portugueses, brasileiros, cubanos e norte-americanos. Começando por estes últimos, Christian Taylor (29 anos) é outro atleta que não esconde as ambições de recorde mundial – afinal é mesmo o segundo a saltar mais longe em toda a história (18.21m) e tentou em 2018 descansar um pouco a sua mente, procurando divertir-se numa temporada mista entre os 400 metros e o Triplo.
Em 2019, o foco volta ao recorde mundial, podendo alcançar o 6º Ouro global da sua carreira. Já Will Claye (28 anos), ilibado de um possível caso de doping (foi determinado que os níveis alcançados se deveram a uma contaminação), procurará em Doha o primeiro título global ao ar livre, depois de já o ter feito por duas vezes em pista coberta, a última este ano em Birmingham.
São já 6 medalhas em eventos globais ao ar livre entre Pratas e Bronzes (uma delas no Comprimento) e Claye procura deixar de ser a sombra de Taylor.
O terceiro e quarto homem norte-americano serão sempre candidatos ao pódio, seja Craddock, Benard ou Donald Scott, mas a grande surpresa de 2018 veio do Brasil com a revelação de Almir dos Santos, com uma brutal evolução – 16.86 em 2017 ao ar livre para…17.53 em 2018! – num ano em que até conquistou a Prata em pista coberta.
Muita atenção também deverá ser dada à escola cubana com 3 jovens prontos a dar o salto. Todos eles foram campeões mundiais em escalões jovens e sabemos como os cubanos revelam habitualmente índices bastante precoces de maturidade nos Saltos.
Lázaro Martinez (21 anos), Cristian Nápoles (20 anos) e Jordan A. Diaz (18 anos) entraram os 3 no top-10 mundial de 2018 e não seria de surpreender que em 2019 despertassem ainda mais atenções. Da mesma escola vem o agora português Pedro Pablo Pichardo (26 anos). Pichardo é desde há alguns anos considerado um potencial candidato a recorde mundial e parece que está na idade certa para tal se considerarmos o historial do Triplo.
É o 4º atleta a ter saltado mais longe na história e depois de um longo período de ausência (às lesões somou-se o caso de mudança de nacionalidade), o atleta regressou em 2018 em grande, tendo saltado 17.95 metros (marca líder mundial do ano) e tendo conquistado mais tarde a Liga Diamante diante de Taylor. Será o seu primeiro evento global a representar Portugal e conquistar o Ouro seria a estreia perfeita para Pichardo.
3 – Lançamento do Dardo (Masculino)
Será uma repetição do que vimos nos Europeus de Berlim, mas desta vez – esperemos – que com a armada germânica toda a 100%.
2018 foi um ano atípico, com várias alternâncias a nível de vitórias e de favoritismos. Se Johannes Vetter (26 anos), o campeão mundial, começou a todo o gás com os 92.70 metros em Leiria (a marca que foi a líder do ano), as suas limitações físicas acabaram por fazê-lo perder o gás e chegou à fase final da época longe das condições ideais.
Aproveitou em determinada altura Andreas Hofmann (27 anos) que entrou na casa dos 92 metros na sua melhor temporada de sempre, alcançando também o título nacional e o troféu da Diamond League e aproveitou Thomas Rohler (28 anos), o campeão olímpico, que gosta dos grandes palcos e que alcançou o Ouro nos Europeus de Berlim.
Vetter é o 2º a lançar mais longe na história (94.44) e Rohler o 3º (em 93.90). Hofmann é o 8º (92.06) e em artigo anterior já analisamos a possibilidade de este ser um recorde mundial evidentemente em risco apesar da marca atual parecer estratosférica (98.48m).
A exigente e diferente temporada 2018 obrigará a uma diferente planificação e surpresas podem acontecer em épocas do género. Será um dos eventos dos Mundiais e muito se deverá a estes 3 alemães que são os grandes favoritos.
Outras caras conhecidas como Magnus Kirt (29 anos), da Estónia, que este ano lançou 89.75 metros, tendo também alcançado o Bronze em Berlim e o checo Jakub Vadlejch (28 anos), que foi Prata em Londres, são dois potenciais nomes a entrar na luta entre os germânicos.
No entanto, existe uma enorme curiosidade para um novo nome que desponta e vindo da India! O jovem Neeraj Chopra (21 anos) já lançou impressionantes 88.06 metros e promete ser a “next big thing” no Dardo.
Recorde-se que o indiano é o atual recordista mundial júnior, tendo há dois anos lançado 86.48, um enorme novo recorde mundial do escalão, sagrando-se na altura campeão mundial sub-20.
2- Salto em Comprimento (Masculino)
Ainda mal tínhamos processado a incrível história de superação de Luvo Manyonga (28 anos), que ultrapassou os dias mais negros da sua vida, saindo por cima e conquistando o Ouro nos Mundiais de Londres, depois da Prata no Rio e já outra história de destaque fazia as manchetes no Comprimento.
O sul-africano teve uma temporada de grande sucesso, com os seus 8.58 metros a serem a melhor de temporada na carreira excluindo o ano de 2017, em que saltou o recorde pessoal de 8.65. Venceu também a Diamond League e importantes meetings pelo mundo fora. No entanto, o mundo ainda não conseguiu esquecer o “cheirinho” que teve de Juan Miguel Echevarría (que terá 21 anos em Doha)! O cubano começou o ano logo a dar nas vistas em pista coberta e os 8.46 metros de Birmingham deram-lhe mesmo o Ouro nos Mundiais Indoor à frente de Manyonga.
Mais incrível só mesmo o que depois viria a fazer ao ar livre. Alcançou durante a temporada o seu melhor salto, com vento legal, de 8.68 metros, que o coloca já no top-10 de sempre, logo atrás de…Iván Pedroso! Mas mais impressionante ainda foi o seu salto, com vento muito ligeiramente acima do permitido (+2.1) de 8.83 metros em Estocolmo!
Tendo até ficado a impressão de que a dimensão da caixa poderá ter prejudicado na queda de Echevarría, o salto é o maior salto – com qualquer tipo de condições – em 23 anos. É um duelo bastante antecipado não só para Doha, mas para toda a temporada 2019. O cubano sofreu uma pequena lesão que o afastou de competição desde os primeiros dias de Julho, mas recuperado a 100%, será um sério candidato a ameaçar a lendária marca de Mike Powell (8.95m).
Embora seja pouco provável vermos – caso cheguem a 100% a Doha – Echevarría e Manyonga de fora dos principais favoritos ao Ouro, existem outros nomes que se destacaram em 2018 e que podem entrar na luta.
O também sul-africano Ruswahl Samaai (28 anos) causou surpresa ao bater Manyonga e conquistar o título africano em Asaba, depois de ter sido Bronze nos Mundiais de Londres. O campeão olímpico, o norte-americano Jeff Henderson (30 anos) parece por agora num patamar abaixo de Manyonga e Echevarría, mas é sempre um nome a considerar para as decisões.
Não sabemos como poderá aparecer o ex-campeão mundial Aleksandr Menkov (28 anos), depois de um 2018 em que apenas competiu internamente, mas será com especial atenção que olharemos para os jovens chineses Jianan Wang (23 anos), Ouro nos Jogos Asiáticos e autor de um salto de 8.47m este ano e Yuhao Shi (21 anos), este último pendente da recuperação após chocante lesão em Xangai, dia em que alcançou o melhor da carreira até ao momento.
1 – Salto com Vara (Masculino)
Colocar aqui o vídeo dos Europeus de Berlim seria suficiente para se perceber o hype à volta deste evento para os anos que se avizinham.
Já várias vezes falamos que Armand Mondo Duplantis (19 anos) é algo nunca antes visto no desporto e caso a sua evolução ocorra naturalmente, e não esteja já no topo do seu potencial, será improvável que não seja o futuro detentor do recorde mundial da disciplina.
Quando saltou 6.05 metros em Berlim, tornou-se (igualado) no 4º atleta a saltar mais alto na história – se considerarmos indoor e outdoor – e no 2º (igualado) ao ar livre. Sejam os 6.14 de Sergey Bubka ao ar livre ou 6.16 de Lavillenie em pista coberta, ambas as marcas parecem ser atingíveis num futuro, mais ou menos próximo, pelo sueco. Para tal conta com o que, paradoxalmente, é ao mesmo tempo uma duríssima concorrência, mas também uma preciosa ajuda para a obtenção desse tipo de marcas.
O elevadíssimo nível da Vara obrigará a que as próximas grandes competições sejam vencidas com marcas de grande valor e existem intérpretes para tal. Começando pelo recordista mundial (alcançado em pista coberta), o francês Renaud Lavillenie (33 anos), que já se considera um bom amigo de Duplantis.
Por estranho que possa soar, a maldição do francês continua, sendo que nunca venceu um Ouro em Mundiais ao ar livre (aliás, em eventos globais ao ar livre, o único é o dos Olímpicos de Londres) e chegando a Doha com 33 anos e com tamanha concorrência, a tarefa parece cada vez mais complicada.
5 pódios em Mundiais e volta a ser candidato para o ano. Quem sabe o que é vencer, sendo o atual campeão mundial, é o norte-americano Sam Kendricks (27 anos). Procurará revalidar o título depois de um 2018 de nível bastante elevado mais uma vez, tendo conquistado a Continental Cup, entre outros importantes meetings.
Ainda no lote de favoritos temos que colocar o russo Timur Morgunov (22 anos), que também passou os 6 metros em Berlim para conquistar a Prata. Morgunov foi ainda o vencedor da edição 2018 da Diamond League, que contava com todos os grandes nomes da disciplina.
Por fim, num segundo patamar, há nomes que podem e devem entrar na discussão. O polaco Piotr Lisek (27 anos) foi Prata nos Mundiais de Londres e Bronze nos de Pequim e mantém a sua regularidade habitual.
Outro polaco, o ex-campeão mundial Pawel Wojciechowski (30 anos) pode lá chegar, caso repita os 5.93 que conseguiu na temporada passada e depois há duas enormes incógnitas: Shawn Barber (25 anos), o canadiano campeão mundial em Pequim em 2015 que em 2018 até voltou a saltar acima dos 5.90, mas que tem tido dificuldades em voltar a afirmar-se nas grandes competições e Thiago Braz da Silva (25 anos), o brasileiro atual campeão olímpico, que desde os Jogos do Rio tem passado praticamente despercebido.