O retorno da NCAA: o que esperar de 2025/2026

Lucas PachecoNovembro 16, 20257min0

O retorno da NCAA: o que esperar de 2025/2026

Lucas PachecoNovembro 16, 20257min0
Quem vai desafiar UConn pelo título de campeão de basquetebol feminino da NCAA? Fica a saber mais com a ajuda de Lucas Pacheco

As deusas do basquete jamais nos abandonam: sem WNBA, com interrupção na temporada de clubes na Europa, sem jogos competitivos na janela FIBA, elas nos brindaram com o início da temporada universitária nos Estados Unidos. Tirando o basquete praticado no Oriente (ligas australiana, chinesa e japonesa), é a melhor competição a se acompanhar no momento. Após o título de Uconn na temporada 2024-25 da NCAA, retomando o domínio após quase uma década de coadjuvância, é hora de dissecarmos a nova temporada, repleta de transferências, formaturas e padrões táticos inusitados.

Diante um circuito universitário vastíssimo, focamos na primeira divisão da NCAA, onde se concentra a nata do talento jovem. Para além da competição entre as universidades, os principais prospectos têm a chance de mostrar suas credenciais e desenvolver seus jogos. Uconn consegue juntar os dois aspectos: dona de doze anéis (maior vencedora da história), todos sob comando de Geno Auriemma, a universidade entra na temporada cotada como a grande favorita. A perda da principal jogadora (a armadora Paige Bueckers fez a transição para a WNBA) pesará, compensada pelo crescimento da sensação Sarah Strong.

Strong fez uma temporada de caloura muito acima da média, a ponto de conduzir a tradicional universidade de volta ao topo. A alapivô impressionou com um misto de força, visão de quadra, habilidade para botar a bola no chão e um arremesso calibrado, podendo surgir de qualquer canto da quadra. Não à toa, ela também aparece como uma das favoritas ao prêmio de ‘melhor jogadora da temporada’, estando apenas em seu segundo ano universitário. Azzi Fudd, outra figura fundamental na fase final da conquista, espera manter a saúde em dia (raro em sua carreira até aqui), sem mencionar o elenco profundo e variado à disposição de Auriemma (estarei especialmente atento à equatoriana Blanca Quiñonez).

Com 3 vitórias até aqui na NCAA, Uconn não parece disposto a escorregar. Em busca do melhor entrosamento, assim como de um padrão mais definido na rotação, o time estreou vencendo com facilidade a forte Louisville – decidiu o jogo no primeiro quarto, com uma defesa sufocante. Na sequência, outra vitória larga contra Florida State, não ranqueada porém oriunda de uma das principais conferências do país, repetindo a defesa pressionada. Para derrotar Uconn (Can UConn go undefeated? Debating early women’s NCAA trends – ESPN), será necessário um esquadrão, epíteto distante da universidade de South Carolina.

O vice da temporada passada faz parte do passado, bem como o protagonismo do time comandado pela rigorosa Dawn Staley. South Carolina passa por uma transição, fruto da usual movimentação do circuito universitário, somado a problemas disciplinares e desfalques imprevistos. A dupla titular de garrafão, traço característico dos times de Staley, está fora da temporada, devido à séria contusão de Chloe Kitts e ao afastamento de Ashlyn Watkins; MiLaysia Fulwiley não aguentou a minutagem pequena e partiu, restando uma rotação curta, com peças em quem Staley não deposita muita confiança. Por outro lado, a cestinha do ano anterior transferiu-se para Columbia, restando saber se Ta’Niya Latson terá liberdade para exibir sua volúpia ofensiva (e se evoluirá na defesa, outro traço definidor da tática de Staley).

A campanha de 3 vitórias não foi suficiente para testar o novo conjunto, que ainda possui as calouras Agot Makeer e Ayla McDowell (brasileira). Os resultados não coincidem com o desempenho algo oscilante, com lapsos defensivos inusuais em South Carolina. O teste de fogo nesta NCAA ocorre na próxima partida, quando o time viaja a Los Angeles para duelar contra a ascendente USC.

Para qualquer equipe, o desfalque de JuJu Watkins seria fatal; a contusão tirou a estrela da temporada e, ainda assim, USC começou com bom desempenho e um basquete melhor do que previsto. O esquema mais solto da técnica Lindsay Gottlieb propicia a liberdade desejada por grandes jogadoras – tal qual Juju tinha plena autonomia no passado, com liberdade para chutar quando e onde desejasse, a caloura Jazzy Davidson se aproveitou dessa liberdade neste começo de temporada. Já no segundo jogo, contra a forte NC State, Davidson brilhou e mostrou um potencial absurdo.

Alta, com envergadura, mobilidade lateral, esperava-se um tipo de ‘all around player’, uma ‘faz tudo’ em quadra; vimos, pelo contrário, uma alfa dominante, conduzindo perfeitamente pick-and-rolls, com agressividade para atacar a partir do drible e infiltrar. Sem contar a defesa! Foi dela a cesta decisiva, que virou o placar e decretou a segunda vitória consecutiva de USC, em uma jogada desenhada e executada com perfeição.

Ainda há um longo caminho pela frente; Jazzy precisa aprimorar a forma do arremesso e escolher melhor os chutes longos. Sem isso, ela se defrontará contra defesas mais fechadas. De qualquer maneira, o futuro brilha em Southern California: um elenco que lutará, sem ambições desmedidas, neste ano e que receberá, além do retorno de Watkins, o principal prospecto da próxima safra, a ala Saniyah Hall. Com as três juntas, USC despertará medo no país inteiro.

Da classe de calouras, a ala-armadora Aaliyah Chavez optou por uma universidade menos midiática e é a principal esperança da universidade de Oklahoma. A equipe pratica um ataque veloz, pautado no ‘read-react’, com liberdade para quem está com a bola. Chavez ainda procura seu melhor ritmo e precisa melhorar no aproveitamento – tendo já demonstrado talento individual e ânsia por pontuar.

A terceira caloura-estrela da classe ainda não estreou; Sienna Betts sofreu uma lesão na pré-temporada e deve retornar em breve. Ela entrará em um time cotado para o Final Four, com elenco recheado e um estilo tático mais contido e cadenciado. A técnica Cori Close perdeu diversas jogadoras no portal de transferência, mas repôs à altura e formou outro belo elenco, repleto de opções. O centro, entretanto, permanece na dominância do garrafão da pivô Lauren Betts; tudo gira em torno dela, as movimentações, as jogadas, a pontuação. Lauren Betts é uma força no circuito universitário e, a despeito de eventuais questionamentos (principalmente quanto a mobilidade, variação ofensiva e defesa) sobre seu futuro, ela domina. Ano passado, não foi suficiente e a universidade caiu na semi-final; neste ano, Close terá que buscar alternativas para quando sua pivô estiver apagada. Charlisse Leger-Walker e Gianna Kneepkens oferecem mais variedade do perímetro, elemento que faltava.

Texas e LSU fecham o rol dos favoritos. Texas segue com o estilo absurdamente controlado do técnico Vic Schaefer e urge por mais arremessos longos. Rival de conferência, LSU possui outras coincidências com Texas; a técnica Kim Mulkey privilegia um basquete cadenciado, focado no garrafão, embora suas principais jogadoras joguem no perímetro. Mulkey repôs as perdas do elenco com um conjunto equilibrado de calouras, com a pivô Kate Koval (vinda de Notre Dame) e com a explosão da ala MiLaysia Fulwiley (oriunda da arqui-rival South Carolina). Com início promissor, o fraco nível das adversárias obscurece previsões mais certeiras.

O calendário da NCAA deve aquecer nas próximas semanas, quando veremos confrontos mais equilibrados. Há muito a ser visto na NCAA; o aperitivo até aqui abriu o apetite por mais.


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