O regresso de super Telma Monteiro
O dia 3 de novembro de 2023, foi um dia de má memória para o judo português e em especial para Telma Monteiro. No seu 1.º combate dos Campeonatos da Europa de Montpellier, Telma lesionou-se com gravidade e o objetivo de estar pela 6.ª vez presente nuns Jogos Olímpicos ficou em sério risco de não se concretizar.
Mas Telma (quem haveria de ser?!) volta a surpreender! O compromisso, a dedicação, o espírito de sacrifício que todos lhe reconhecemos permitiram uma recuperação em tempo record e, dentro de dias, estará de regresso aos tapetes, com presença confirmada nos Campeonatos da Europa de Zagreb! Não há palavras, só reconhecer o enorme contributo que Telma deu e dá para o Judo e para o desporto português.
Um final de março em grande
Depois de, no último artigo, ter partilhado algumas preocupações sobre o arranque atribulado da equipa portuguesa no circuito mundial de 2024, o final do mês de março surpreendeu-me positivamente já que marcou um autêntico volte face no que respeita à prestação dos judocas portugueses.
O louco mês de março, com 4 etapas do circuito mundial que este ano está especialmente emotivo e imprevisível- relembro que decorre a qualificação olímpica e todas estas etapas são fundamentais para garantir os pontos que valem uma posição elegível no ranking de qualificação para estar presente nos jogos olímpicos de Paris- o Grand Prix de Upper (Austria), cujos resultados já foram “esmiuçados” no último artigo, e o Grand Slam de Antalya (Turquia) marcaram o regresso dos portugueses aos pódios.
Em Antalya assistimos a uma prestação global da equipa portuguesa bastante positiva, destacando os três judocas que chegaram ao pódio:
João Fernando terminou de bronze ao peito na fortíssima categoria dos 81Kg. Um resultado que peca por tardio. João está num excelente momento de forma e tem visto fugir algumas medalhas, merecidas, por cometer alguns erros que a este nível têm um preço muito caro. Tem derrotado adversários mais cotados e o facto de não ser cabeça de série nestas etapas, complica, e de que maneira, o objetivo de chegar longe e conseguir pontos para garantir a presença nos Jogos Olímpicos. João está atualmente dentro da qualificação, mas numa posição em que qualquer descuido poderá resultar numa descida de posição e ver cair por terra o sonho de estar presente pela primeira vez nuns Jogos Olímpicos.
A júnior, Taís Pina voltou a surpreender e conseguiu chegar à final da categoria dos 70Kg. Apesar de não ter levado a melhor sobre a vice-campeã olímpica, a austríaca Michaela Pollers, muito experiente e que estudou muito bem a jovem judoca Portuguesa, Taís provou, novamente, que é a agradável, e de certa forma inesperada, surpresa da equipa portuguesa no circuito de 2024, e demonstrou que não foi por acaso, ou sorte- se bem que a sorte dá muito trabalho no desporto de alta competição – que, em fevereiro, terminou num honroso 5.º lugar na prova rainha deste circuito, o Grand Slam de Paris. A qualificação para os Jogos Olímpicos é uma possibilidade, que ganha mais força e, confesso, acredito que pode concretizar-se, dada a excelência e consistência do judo que Taís tem apresentado!
Para terminar, fica a memorável prestação de Jorge Fonseca. O bicampeão do mundo mostrou, que, se estiver bem, será um forte candidato, novamente, ao pódio olímpico. A ”versão” de Jorge Fonseca que esteve presente no Grand Slam de Antalya, é a “versão” que todos esperamos ver em Paris: focado, eficaz, a gerir bem o esforço e a atacar nos momentos chave do combate. Que o diga Arman Adamian, o atual campeão do mundo da categoria que ficou muito mal tratado no combate da meia final frente a Jorge Fonseca, depois de uma colossal projeção que valeu ippon e a passagem à final do Português. Acredito que a merecida vitória na categoria dos 100Kg desta importante etapa, será um importante reforço na confiança de Jorge e, também, um sério aviso aos seus rivais nesta que é uma das categorias mais imprevisíveis da atualidade.
Campeonatos da Europa Zagreb
Em ano de Jogos olímpicos, os Campeonatos da Europa, que arrancam já no próximo dia 25 de Abril, na capital da Croácia, Zagreb, ganham especial relevância, pois, nesta fase, os pontos conquistados permitirão a muitos judocas garantir, desde logo, a presença na competição olímpica, tirando a pressão de ter que continuar a marcar presença nas provas que restam do calendário e que são elegíveis para pontuar para o ranking de qualificação olímpica, condicionando o planeamento necessário e fundamental para que os judocas se apresentem em Paris no melhor momento de forma.
Portugal vai estar presente em peso, com 16 judocas inscritos (9 femininos e 7 masculinos). Estes Campeonatos vão contar com os principais judocas do continente europeu. No entanto, apesar de muita juventude, Portugal terá os seus principais nomes em ação e acredito, talvez motivado pela recente prestação da equipa portuguesa no Grand Slam de Antalya, que vamos ter portugueses a lutar por pódios.
Equipa Feminina:
Catarina Costa (48Kg), Raquel Brito (48Kg), Maria Siderot (52Kg), Telma Monteiro (57Kg), Bárbara Timo (63Kg), Taís Pina (70Kg), Joana Crisóstomo (70Kg), Patrícia Sampaio (78Kg), Rochele Nunes (+78Kg)
Equipa masculina:
Rodrigo Lopes (60Kg), Miguel Gafo (66Kg), Otari Kvantidze (73Kg), Thelmo Gomes (73Kg), João Fernando (81Kg), Anri Egutidze (81Kg) e Jorge Fonseca (100Kg).
Boa Sorte a todos!
Mestre Anibal Silva
Como nota final, presto uma sentida homenagem ao Mestre Aníbal Silva, treinador de formação de várias gerações do Sport Algés e Dafundo, um dos grandes clubes da história do Judo Português, que faleceu no passado dia 1 de Abril.
O Judo ficar-lhe-á eternamente grato por todas a gerações formadas, pela disciplina, paciência, rigor e amor com que transmitia os seus conhecimentos, tendo o seu longo percurso ficado marcado por uma postura discreta, humilde, irrepreensível e sempre respeitosa, muito diferente dos comportamentos a que reiteradamente temos assistido por esse país fora…. Que descanse em paz.