O basquete feminino no Mundo: 3 jogos ao raio-X
Esta semana resolvemos mudar o formato da coluna semanal e fazer um apanhado de três competições em disputa no basquete feminino mundial, focadas em partidas da última semana.
NCAA: Iowa State x Iowa
Indiscutivelmente, a partida da semana ocorreu no sábado, envolvendo a primeira colocada nos rankings do basquete universitário (Uconn) contra a equipe (USC) da melhor caloura da temporada (Jazzy Davidson). Antes dela, porém, fomos premiados com bons duelos, alguns com significação regional, como o clássico do estado de Iowa, que envolveu Iowa (ranqueada em 11 no país, com 9 vitórias) e Iowa State (ranqueada en 10, com 10v). Com dois programas consolidados e estáveis, ainda que dificilmente briguem pelo título nacional, tivemos um grande jogo.
Iowa navega em mares tranquilos na era pós-Caitlin Clark, estrela que se formou e profissionalizou na WNBA, e pós-Lisa Bluder, técnica que comandou a universidade por 25 anos. A visibilidade de Clark ajudou a inserir Iowa nas listas de possibilidades dos principais prospectos do país – para a próxima classe, por exemplo, receberão a promissora ala-pivô McKenna Woliczko – além de elevar o padrão de recrutamento da universidade. O time atual não possui nenhuma grande estrela, mas formou um elenco coeso, coletivo e com profundidade. No leme, a principal assistente de Bluder assumiu; Jan Jensen manteve o padrão ofensivo, o desenvolvimento de talentos (principalmente pivôs) e evoluiu a defesa.
Hannah Stuelke é a última remanescente do elenco vice-campeão; sua experiência estabiliza um núcleo formado em sua maioria por segundo-anistas e calouras. A liderança não se traduz em protagonismo na quadra, papel desempenhado até aqui por Ava Heiden, pivô que explicita o excelente trabalho da comissão técnica com pivôs. Ela é a cestinha da equipe e, num esquema ofensivo bem descentralizado, que aposta muito no sistema de triângulos, ela vem destoando no começo da temporada 2025-26.
Curiosamente, a pivô adversária é a principal estrela de Iowa State: Audi Crooks estreou a campanha com chances reais no prêmio de ‘jogadora do ano’. Suas estatísticas são históricas, dobrando a pontuação em relação à minutagem; neste ano, nos dez jogos iniciais, ninguém conseguiu brecar Crooks, que acumula duplos-duplos, eficiência absurda e deixou um jogo de 43 pontos (em míseros 20 minutos!) no caminho. O clássico de Iowa teve um capítulo essencial no garrafão.
Crooks e Heiden duelaram à parte, com amplo domínio de Crooks. Seus números finais (30 pontos e 10 rebotes) não contam toda a história, seu díminio físico gerou a eliminação de Heiden por faltas, além de restrição de minutos. A importância de Heiden para Iowa? Nos (poucos) minutos em que esteve em quadra (15 min), foi o maior plus minus de Iowa (+6); em uma derrota por 5 pontos, sua presença faria a diferença. Mesmo dominada no ataque por Crooks, foi quem mais impôs resistência e ameaçou no ataque.
Sem Heiden, Iowa precisou contar com a excelente noite da armadora, egressa do portal de transferência, Chazadi Wright. Ela centralizou a bola e pontuou aos montes explorando a defesa em drop (quando a pivô defensiva aguarda o bloqueio direto mais próxima ao aro, ao invés de presisonar a bola) de Crooks. Wright chamou a responsabilidade quando Iowa encostou no placar, no 4Q, mas do outro lado havia um trio de respeito, capitaneado por Crooks. Addy Brown não é a estrela de Iowa State, mas a jogadora mais completa e com maiores possibilidades de ser draftada pela WNBA; ela defende, atua nas posições 3 e 4, cai no poste baixo, arremessa de longe e ainda tem boa visão de quadra. Brown e a armadora (oriunda de transferência) Jada Williams abasteceram o garrafão e terminaram com duplo-duplos.
Iowa State chegou a abrir dígitos duplos, viu sua rival encostar no momento decisivo mas teve autocontrola para sair com a vitória, em casa, por 74 x 69. Duas equipes a serem monitoradas no restante da temporada de basquete universitário, capazes de surpresas no torneio nacional em março.
Euroliga: USK Praga x Galatasaray
Por estarmos no começo da segunda fase de grupos, temos um longo caminho pela frente. Para as atuais campeãsde Praga, entretanto, não há tempo a perder: a equipe deixou vitórias na fase anterior e precisa correr atrás com volúpia, caso deseje classificação aos play-ins do Final Six. Logo na abertura do grupo E, a tabela reservou o até então invicto Galatasaray contra Praga, em partida realizada na última quarta-feira.
A potência turca construiu uma base sólida logo no início da temporada e a estabilidade propiciou um entrosamento rápido, com construção de uma identidade tática. Nâo à toa o time chegou ao grupo E invicto. Já o Praga vinha periclitante; eis que o intervalo da janela Fiba fez bem às tchecas, que voltaram a apresentar o padrão tático dos tempos de Hejkova (ex-técnica, agora aposentada). O técnico Martin Basta reproduziu os quintetos repletos de wings, cercadas de uma pivô dominante no poste baixo e uma armadora controladora do tempo.
A versatilidade da formação permitiu trocas defensivas irrestritas contra o perímetro turco, desejoso por pick-and-roll e espaçamento. Marine Johannes, Teja Oblak e Kamiah Smalls foram bloqueadas pela envergadura e mobilidade lateral das alas tchecas; com a defesa forte e pressionada, o ataque voltou à velha forma. O retorno da armadora espanhola Maite Cazorla colaborou e Pauline Astier ganhou uma reserva à altura; assim como Emma Cechova garantiu minutos qualificados de reposição a Emese Hof no garrafão, como a referência isolada próxima ao aro.
Foi um domínio do início ao fim, sem grandes ameaças. O Galatasaray não soube encontrar meios de fugir à forte defesa tcheca e viu sua invencibilidade ser quebrada pelo revigorado USK Praga, por 64 x 55. A derrota liga o sinal de alerta, mas ainda não incomoda uma virtual classificação; para Praga, por outro lado, a vitória foi fundamental. Na próxima partida, confronto direto contra o Schio rival direto pela vaga. Mais importante que a vitória, foi a retomada do estilo de ogo carcaterístico para o restante da competição.
Campeonato Paulista: Sesi Araraquara x Corinthians
Após a LBF, resta o esquálido Campeonato Paulista como única competição nos 6 meses de pausa da liga. Mal organizado, pessimamente divulgado, com nível técnico fraquíssimo, o torneio é um downgrade da LBF. Condições mínimas de trabalho e estabilidade burocrática trnafsormaram o Sesi Araraquara no ‘papa títulos’ do basquete feminino brasileiro.
No Paulista, a equipe do interior abocanhou seu quarto título em cinco anos, ao vencer a série final por 3 x 2. O jogo decisivo aconteceu no domingo, quando as mandantes não fizeram valer o mando de quadra e saíram derrotadas por 61 x 78. O resultado deve por fim ao curto projeto de basquete feminino do Corinthians. Já o Sesi segue imbatível, apesar do equilíbrio reinante nas séries finais. Procura-se adversário no basquete brasileiro!



