A bolha da NBA em Orlando, o que há para saber?

Rui MesquitaJulho 2, 20208min0

A bolha da NBA em Orlando, o que há para saber?

Rui MesquitaJulho 2, 20208min0
A NBA vai regressar à competição, mas em que moldes? Será que devia voltar e será que vai terminar a temporada? Descobre tudo aqui!

A NBA parou com o aparecimento da pandemia nos Estados Unidos da América, precisamente quando o primeiro jogador testou positivo. Na altura o jogador foi o francês Rudy Gobert dos Utah Jazz, um caso repleto de críticas e polémica. Gobert tinha “gozado” com a propagação do vírus e dizem que o fazia até no balneário da sua equipa onde, depois, apareceram novos casos. Uma paragem abrupta mas esperada já que era impossível a NBA continuar com o aparecimento de jogadores infetados.

Depois da paragem muito se falou sobre o regresso da Liga americana de basquetebol, mas pouco se sabia. Até que Adam Silver anunciou que a NBA vai voltar sim, e a época vai ser jogada até ao fim.

Os moldes do regresso

Não, a NBA não vai voltar como normalmente. Não haverá público a ver os jogos ao vivo, como temos visto em quase todos os desportos que já voltaram . E as equipas não jogarão nos seus pavilhões, a competição regressará toda num único local. Onde? Em Orlando, mais concretamente nos complexos da Walt Disney World. Sim, as equipas estarão fechadas nas mega-instalações da Disney e poderão jogar nos 7 campos disponíveis lá.

Adam Silver é o grande obreiro do regresso da NBA (Foto: Getty Images)

Mas nem todas as equipas jogarão. A NBA levará apenas 22 das 30 equipas para esta “bolha” em Orlando. As 16 equipas em lugar de playoff e mais 6 equipas para lutar por estas vagas que dão acesso à luta pelo título. Esta nova “fase regular” terá apenas 8 jogos para cada equipa, independentemente dos jogos já jogados por cada formação. Depois disto, começam os playoffs de forma “normal”.

O regresso da competição está marcado para o dia 31 de julho, mas as equipas vão para Orlando já no dia 7 para começarem a “bolha”. Tudo está preparado para que nada falhe. A NBA preparou um plano com 108 páginas com regras e indicações para todos cumprirem. Alguns destaques vão para o facto de cada equipa apenas poder levar 35 elementos (jogadores e staff) e o facto de ser proibido jogar ping pong a pares.

Os jogadores e staff serão testados diariamente e, segundo opinião de epidemiologistas, o plano é tão bom como pode ser, a NBA terá de garantir que ele é cumprido.

Os problemas e as limitações

Como seria de esperar, mesmo com um trabalho exaustivo e de cooperação entre a Liga, os donos das equipas e os jogadores, apareceram limitações e problemas. Jogadores a recusarem-se participar na bolha de Orlando por diversos motivos, preocupações de outros atletas e ainda falhas no plano.

Comecemos pelas falhas no plano. 108 páginas cobrem praticamente todas as atividades e cenários possíveis, mas não cobre tudo. A NBA ainda não explicou o que acontecerá se/quando um surto entrar na bolha. A Liga remete esta decisão para o momento, dependendo da gravidade e do timing do surto. Outro problema prende-se com o staff da Disney World que irá assegurar a comida e diferentes atividades. Este staff não será testado diariamente e, com um controlo mais relaxado, poderá ser um ponto frágil da bolha.

Outra falha ainda não resolvida pela NBA é a presença ou não de alguns treinadores em Orlando. Há vários treinadores com idade superior a 60 anos, fazendo parte do grupo de risco. Ainda não está garantida a presença destes membros de staff no resto da temporada. Se forem, estarão a ser colocados em grande risco, se não forem deixarão as suas equipas em desvantagem competitiva. Um quebra-cabeças complicado para o comissário Adam Silver.

Outro dos problemas levantados, para além de todos os constrangimentos sanitários, surgiu pela voz de Kyrie Irving. Irving levantou, junto de outros jogadores, preocupações com o movimento Black Lives Matter (BLM), que seria “esquecido” com o regresso da NBA. Kyrie mostrou-se preocupado com o facto de, no meio de uma luta contra o racismo nos EUA, o regresso de um dos desportos mais visto do país poder desviar as atenções do essencial.

A análise e comentário de um fã

Como fã da NBA e formação na área da saúde, este regresso não me deixa com grandes dúvidas. Deve e tem tudo para acontecer. A Liga tomou todas as precauções possíveis para que tudo seja feito em segurança e dá aos fãs o regresso tão desejado.

As preocupações de Irving são legítimas, mas ao mesmo tempo infundadas. Como já muitos comentadores e ex-jogadores realçaram, o raciocínio certo é o contrário. O regresso de um desporto que conta com estrelas maioritariamente negras pode fazer muito pelo movimento BLM.

Dar palco a algumas das mais influentes figuras negras nos EUA e colocar o holofote nacional nelas só pode dar certo. A NBA sempre demonstrou uma preocupação social enorme (ainda mais sobre a liderança de Adam Silver) e juntar a isso a força que os jogadores cada vez mais têm, é fácil perceber o resultado.

LeBron James será um dos grandes rostos do regresso da Liga (Foto: Los Angeles Daily News)

A NBA já decidiu que os jogadores poderão usar qualquer nome ou mensagem no lugar do seu nome, nas camisolas que usarão. Dar tempo de antena, seja antes dos jogos, durante e depois dos mesmos a indivíduos como LeBron James, Giannis Antetokoumpo e outros como estes só resultará numa força maior ao movimento BLM.

Acho mesmo que isto era o melhor que poderia acontecer a esta luta que merece uma atenção cada vez mais redobrada e intensificada. O desporto aqui não funcionará como ópio do povo, mas sim como palco mediático para a mudança. A NBA não é um espaço livre de racismo (isso daria outro artigo em si só), mas é um dos grandes palcos do empowerment da comunidade afro-americana.

Isto levanta a questão contrária que é: se o foco for, como estou a dizer, no movimento BLM, o basquete será na mesma de topo? Teremos os jogadores focados durante o tempo de jogo? Bem, sabemos à partida que este título terá (caso acabe por ser entregue) um asterisco à frente pelas condições extraordinárias em que será disputado, não é o ativismo social dos jogadores que irá aumentar esse asterisco. Em anos “normais” vemos jogadores ativos em problemas sociais e a darem o máximo quando a bola é lançada ao ar.

Giannis é um dos candidatos à vitória final com os seus Bucks (Foto: Getty Images)

Sobre o asterisco, é verdade que não teremos fator casa (para algumas equipas é decisivo, basta ver o record dos 76ers: 29-2 em casa e 10-24 fora, não teremos adeptos e tivemos uma pausa considerável na temporada. Giannis disse publicamente que este asterisco não existirá, que este será o campeonato mais difícil de ganhar. Discordo da primeira e concordo com a segunda. Haverá sempre um asterisco nesta época, mas o facto de as condições não serem as ideais torna a época diferente.

Nada disto invalida que o regresso deve acontecer. Todos os fãs estão a desesperar por ver as melhores equipas e os melhores jogadores a competir e o asterisco até terá coisas boas. Será incrível poder ouvir as indicações dos treinadores e as conversas em campo entre os jogadores. Será incrível ver imagens de dentro da bolha com os jogadores a jogarem e entreterem-se juntos. Será incrível perceber o que as grandes estrelas farão em prol do movimento BLM com todos os holofotes em cima de si. Que venha a bolha e que dure até vermos alguém levantar o troféu Larry O’Brien.


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