O Teatro e o Circo do SC Braga
O Sporting Clube de Braga premiou os seus melhores atletas de 2019 na Gala Legião de Ouro no passado dia 10 de Fevereiro. À margem do evento as declarações da nadadora Tamila Holub caíram mal na direcção de António Salvador
No passado dia 10 de Fevereiro o Sporting Clube de Braga promoveu a sua grande festa, a Gala Legião de Ouro, na qual esteve em grande destaque o nadador José Paulo Lopes ao receber a distinção de atleta do ano. Sem dúvida, uma justíssima distinção entregue ao jovem nadador que em 2019 foi finalista nas Universíadas de Nápoles e se estreou numa grande competição absoluta nos Europeus de Piscina Curta de Glasgow, de lá trazendo um extraordinário novo recorde nacional dos 1500 metros livres e duas classificações de meia final.
Não só José Paulo e o seu treinador, Luís Cameira, estão de parabéns pelo mérito no prémio, como o Sporting de Braga está de parabéns pelo reconhecimento dos resultados de um nadador cujo potencial para vir a ser um caso sério no desporto português já é tangível para além dos limites das piscinas nacionais e da própria modalidade.
Mas José Paulo Lopes não foi o único nadador do SC Braga em destaque em 2019, ano em que Tamila Holub se apurou para os segundos Jogos Olímpicos da carreira, tendo já garantido que vai ser uma das primeiras nadadoras a nadar a distância de 1500 metros livres nuns Jogos Olímpicos (a distância estreia-se para o sector feminino em Tóquio). Esse lugar na História Tamila já tem reservado, ao contrário do lugar no Theatro Circo Braga no passado dia 10 de Fevereiro…
À entrada da Gala, e à pergunta “A Tamila é uma das caras das modalidades do Sporting de Braga por tudo aquilo que tem conquistado. É importante retirar aquele estigma que só o futebol é que conta?”, a nadadora, que não tinha sido convidada para o evento e se apresentava na condição de “plus one” do seu companheiro de equipa, respondeu humilde e ponderadamente que “se o que faço não é suficiente para ser convidada, vou fazer ainda melhor”. Uma resposta condizente com o epíteto do clube: de guerreira!
No entanto, as suas palavras tiveram ecos nacionais levando o SC Braga a reagir em comunicado classificando de “episódio criado” a resposta (óbvia) que Tamila deu a uma pergunta feita por um órgão de comunicação oficial do clube, que decidiu em total autonomia solicitar a opinião sobre o tratamento dado pelo clube às modalidades a uma atleta do clube que não tinha sido convidada para a gala.
No mesmo comunicado, o SC Braga confirma que não convidou Tamila Holub mas que, magnanimamente, lhe concedeu a tremenda honra de a deixar participar na Gala, na condição de acompanhante do premiado José Paulo Lopes. Em seguida, afirma o SC Braga que “a declaração de Tamila Holub falha desde logo o compromisso com a verdade”. A ironia faz-se sozinha…
Não bastando a alarvidade da resposta e a desproporcionalidade da reacção, em seguida o SC Braga ensaia uma tentativa de vilanizar Holub junto dos seus companheiros de equipa quando refere que Tamila “acabou por “roubar” o palco que seria para outros grandes atletas do SC Braga, inclusive o seu colega de Secção José Paulo Lopes, que tem tido um percurso de excelência e que não merecia a desfeita de ver o seu sucesso relegado em virtude de uma declaração irrefletida.” Caso a direcção do SC Braga (a autoria do comunicado é uma suposição, visto o mesmo não estar assinado) não tenha reparado, José Paulo Lopes, pondendo escolher a companhia da família ou outros amigos, escolheu por companhia na Gala Legião de Ouro a sua colega de equipa. Não é propriamente sinónimo de um sentimento de “palco roubado” por parte do homenageado.
O comunicado prossegue com uma espécie de cobrança pelo fisioterapêuta que concede a Tamila e pelo seu treinador que até a acompanha aos estágios da Selecção Nacional (veja-se bem!), pelos treinos que o Braga procura assegurar e pelas deslocações até à piscina olímpica mais próxima. Em troca de todas estas veleidades, Tamila só dá ao clube um título de campeã da Europa de Juniores, outro de vice-campeã e torna-se na segunda portuguesa mais nova de sempre a apurar-se para os seus segundos Jogos Olímpicos (a primeira a fazê-lo em representação do mesmo clube).
A direcção do SC Braga tem todo o direito de não ter gostado das declarações de Tamila Holub (que, reforce-se, foram bastante temperadas para as circunstâncias), não pode é ignorar que Tamila Holub já deu mais ao SC Braga do que o SC Braga deu a Tamila Holub. Não pode – nem deve – atacar uma atleta sua, ainda para mais a 5 meses dos Jogos Olímpicos. Num clube de guerreiros, não se trata de um acto de guerra quando uma direcção ataca os seus correlegionários, trata-se de um acto de traição.
Em Agosto o SC Braga vai tratar Tamila Holub nas palminhas, mas aí vai ser fácil. Até lá e depois daí, o SC Braga e os outros clubes de vocação futeboleira vão continuar a seguir esta espécie de política da sobranceria em relação às modalidades, até que alguém lhes diga que não estão a fazer favor nenhum aos atletas que os fazem grandes.
E quem melhor que o sócio 2.253 do Sporting Clube de Braga para o dizer quando, em Julho, receber a comitiva olímpica no Palácio de Belém?!
One comment
António Lopes
Fevereiro 12, 2020 at 11:45 pm
Muito bem!