Natação 2017/2018 – Antevisão

João BastosOutubro 13, 201712min0
O tiro de partida da temporada da natação em piscina está quase a ser dado. O Fair Play faz o prognóstico sobre as principais competição de 2017/2018

As primeiras competições da época 2017/2018 têm lugar já no próximo fim-de-semana e o Fair Play aproveita a oportunidade para lançar um olhar para o que nos vai trazer a nova época na natação nacional


Ano de (muitos) Europeus

Em termos internacionais, a época arranca já com os Campeonatos da Europa de Piscina Curta, em Copenhaga, de 13 a 17 de Dezembro. A competição apresentava uma qualificação bastante restritiva, uma vez que o Plano de Alto Rendimento previa que os mínimos apenas poderiam ser obtidos na etapa da Taça do Mundo de Moscovo (e em representação da selecção).

Sendo assim, só Diana Durães tem o acesso garantido, com os mínimos feitos nos 400 e 800 metros livres. Tendo por base o histórico de marcas da competição, para a nadadora do Benfica será muito difícil conseguir cumprir os objectivos estabelecidos pela FPN de obtenção de duas finais, um objectivo que não poderia ser menos ambicioso já que Portugal conseguiu sair do último europeu de Piscina Curta com a medalha de bronze de Diogo Carvalho nos 200 metros estilos.

Aguardemos pela convocatória para saber quem (se mais alguém) acompanhará a fundista a Copenhaga para perceber melhor com que perspectivas Portugal abordará este primeiro teste da temporada.

Foto: COP

Aquela que será a grande competição da época também é a nível continental, mas em Piscina Longa. Os Europeus de 2018 disputam-se em Glasgow, de 3 a 9 de Agosto, e sucede a uma edição onde Portugal teve razões para sorrir. Em Londres 2016, a nossa selecção começou logo por apresentar uma das maiores comitivas em Europeus da sua história (13 nadadores) e ainda viu Alexis Santos subir ao pódio, algo que só Alexandre Yokochi tinha experimentado em Europeus (de Piscina Longa), em 1985.

Abaixo dos mínimos exigidos já nadaram na época passada Diana Durães, Tamila Holub, Victoria Kaminskaya, Raquel Pereira, Miguel Nascimento, Alexis Santos, Guilherme Pina, Gabriel Lopes, Diogo Carvalho e João Vital e lá perto já ficaram Ana Catarina Monteiro, Ana Rodrigues, Nuno Quintanilha e Tomás Veloso. Ou seja, em representação é expectável que a selecção portuguesa se apresente em Glasgow em linha com o que fez em Londres. No que respeita a resultados, depois das duas finais alcançadas em Londres, Portugal tem legítimas aspirações a fazer aumentar bastante esse número na Escócia, desde logo porque tem vários nadadores que em dois anos alcançaram já outro estatuto internacional.

Para além de Alexis e Diogo (os finalistas de 2016), Miguel Nascimento (nos 200 mariposa), Diana Durães (nos 400 e 800 livres), Tamila Holub (nos 800 e 1500 livres) e Victoria Kaminskaya (nos 200 e 400 estilos) têm fortes possibilidades de alcançar as finais das respectivas provas, já que nas últimas edições as mesmas fecharam mais lentas do que os seus recordes pessoais.

Se os prognósticos se confirmassem, a participação portuguesa nos Europeus deste ano era para além de histórica, já que o record de presenças em finais numa só edição data de 2002, em Berlim, quando Portugal conseguiu atingir três finais.

Quanto a medalhas, é difícil antever, mas pelo imperativo da lógica, quanto mais nadadores chegarem às finais, melhores são as probabilidades de chegar ao pódio.

Foto: Lusa

Outro Campeonato da Europa se disputará em 2018, em Helsínquia, de 4 a 8 de Julho, este destinado ao escalão de Juniores.

Se este ano, em Netanya, a nota dominante foi a significativa representação da selecção portuguesa com 13 nadadores, competindo em 38 provas, para Helsínquia a fasquia pode ser colocada ao mesmo nível em termos de número de mínimos obtidos.

Primeiramente porque 5 nadadores que estiveram em Israel continuam a ter idade para competir no escalão de juniores, são eles Inês Rocha, Jorge Silva, José Lopes, Rafaela Azevedo e Roberto Gomes. Se tudo lhes correr dentro da normalidade, nesta época repetirão a presença nos Europeus.

Aos cinco jovens, há ainda a acrescentar outros dois nadadores juvenis que já na época passada nadaram abaixo dos mínimos (mas já depois dos Europeus de Netanya), Alexandra Frazão e Diogo Cardoso.

Se estes sete nadadores são os que estão mais perto de marcar presença nos CEJ, outros há que também não estão longe. Desde logo a nadadora vilarealense Ana Margarida Guedes, que há dois anos esteve presente em Hodmezovasarhely, quando ainda era juvenil, mas na época passada não conseguiu repetir o feito, mas ficou a apenas meio segundo nos 100 costas. Também os juniores de segundo ano Filipa Rodrigues, Filipe Santo, João Castro e Rafael Simões são fortes candidatos a alcançar os tempos de acesso e só neste conjunto de nadadores já referimos 12 nomes, aos quais podem ser adicionados outros, como os juniores de primeiro ano Ana Pina, Francisca Mesquita, Mariana Barbosa e Pedro Santos e até a juvenil Camila Rebelo.

Ou seja, Portugal pode levar à Finlândia um contingente robusto de nadadores. Em relação aos resultados, num escalão como o de juniores é difícil fazer esse tipo de antevisão ainda antes da época começar. Se houver, pelo menos, uma presença numa final já será uma participação mais conseguida que na época passada, mas à partida não se vislumbra que neste lote de nadadores haja um candidato tão forte a consegui-lo como havia Raquel Pereira na época passada ou Tamila Holub há dois anos.

Foto: FPN

Para os pré-juniores a grande competição da temporada será a Taça Latina. Nas competições pré-juniores não costuma haver muito espaço para nadadores que não estejam a cumprir o último ano de juvenis, ou seja, nadadores nascidos em 2002 e nadadoras nascidas em 2003 e tendo em conta a tabela de referenciação da FPN para o escalão, apenas Camila Rebelo já superou os tempos de referência, nomeadamente nos 100 e 200 metros costas. Mafalda Rosa está muito próximo de o conseguir nos 800 metros livres, mas se no escalão de juniores já é difícil antever que nadadores vão sofrer uma maior progressão ao longo da época, nos juvenis ainda mais.

O que é certo é que neste escalão se configuram como potenciais protagonistas, nadadores como Ivan Amorim, Joana Martins, Paulo Frota, Ricardo Rocha e Tiago Machado (Juvenis-A) e Maria Pereira, Mariana Cunha, Ricardo Silva, Salvador Gordo e Tiago Rodrigues (Juvenis-B), para além, obviamente, de Camila e Mafalda.

Para consumo interno

No plano interno, a grande novidade da temporada é a alteração dos moldes em que vão ser disputados os nacionais de clubes, este ano com 12 equipas na primeira divisão (ao invés das 8 anteriores), com 2 nadadores por clube por prova (anteriormente era apenas um) e com um limite máximo de 4 provas individuais por nadador (quando até aqui eram 3).

Apesar do cenário ser diferente, os favoritos mantém-se, apenas terão de fazer mais contas.

Começando pelo sector masculino, o hexa-campeão Sporting viu sair Guilherme Dias para o Benfica e Mário Bonança para o cais da piscina (passou a treinador-adjunto da equipa) mas viu chegar dois importantes reforços: António Carriço (ex-ESJB) e o espanhol Juan Tolosa, que se vêm juntar a uma equipa onde pontificam nadadores bastante versáteis como Alexis Santos, João Vital ou Igor Mogne que beneficiam do facto de poderem nadar mais uma prova individual.

O Benfica que no ano passado já foi o principal adversário do Sporting, reforçou-se com o já citado Guilherme Dias e com os ex-SFUAP João Gil, Rafael Aires, Miguel Marques e Miguel Catalão que vieram acompanhar o técnico Ricardo Santos. A somar a Miguel Nascimento, Rafael Gil, Luiz Pereira, Nélson Silva e Caio Tonet, entre outros, o Benfica ameaçará ainda mais a hegemonia do Sporting do que na época passada.

Depois dos dois favoritos, as perspectivas estão muito em aberto. O Estrelas de São João de Brito é uma das equipas mais prejudicadas com a inclusão de dois nadadores por prova e, com a saída de António Carriço, João Gigante, Nuno Martins e Frederico Riachos, dificilmente repetirá o terceiro lugar do ano passado (mesmo com o importante reforço de António Pinto). Mas as equipas que ficaram logo atrás do Estrelas também não terão as melhores das perspectivas: o CNAC sofreu uma autêntica debandada neste defeso, assim como a SFUAP (apesar da escala ter sido menor).

A instabilidade de Estrelas, CNAC e SFUAP abre assim caminho a três equipas para tentarem chegar ao pódio: O FC Porto (que no ano passado sofreu para não descer) e os recém-promovidos Algés e Belenenses.

A luta pela fuga à despromoção também se antevê bastante renhida. Em primeiro lugar porque descem três equipas e depois porque, ao contrário de anos anteriores, nenhuma equipa parece estar condenada à partida, até porque o alargamento a 12 clubes motivou a repescagem de 4 equipas – Famalicão, Monte Maior, Braga e Galitos.

Foto: Luís Filipe Nunes

No sector feminino o Algés deve acrescentar um capítulo à sua recente história de domínio da natação feminina portuguesa (na verdade é um remake dos anos 90). Depois de destronar o FC Porto que ia em oito vitórias consecutivas, as algesinas estão mais próximas de reforçar a sua posição do que de a perder. O núcleo duro continuará a ser composto por Francisca e Madalena Azevedo, Rita Frischknecht, Raquel Pereira e Bárbara Barata com maior influência das nadadoras que estão num ciclo evolutivo acelerado, como Rafaela Azevedo e Carolina Marcelino.

Para o segundo lugar surge a grande incógnita: o FC Porto num ciclo de reconstrução, o Sporting num ciclo de estabilidade ou o Benfica num ciclo de afirmação.

Nas portistas fica a dúvida se voltaremos a ter o prazer de ver Sara Oliveira em acção, mas o “core” da equipa, nesta fase, terá de assentar nas mais jovens. Muito do sucesso do FC Porto passará pelos desempenhos de Ana Rita Faria, Maria Cabral, Ana Rita Ramos e Mariana Barbosa.

Já o Sporting conta, basicamente, com a equipa que contou na época passada e que levou o clube de Alvalade ao terceiro lugar do pódio: Inês Fernandes, Carolina Guedes, Mafalda Beleza, Sofia Dionísio, Anaïs Charro, Beatriz e Raquel Ranito deverão continuar a ser os principais trunfos com Maria Belo, Filipa Peixeira e Maria Ana Monge a darem uma colaboração preciosa.

As campeãs nacionais da segunda divisão da época passada (Benfica) vêm baralhar as contas. Já viriam de qualquer maneira, mas uma equipa que tem a possibilidade de colocar Diana Durães a nadar mais uma prova individual e que se reforça com Filipa Serrano, Letícia André e Inês Bernardo, ainda baralha mais e coloca a equipa da Luz com elevadas probabilidades de chegar ao segundo lugar. Ao primeiro ainda será difícil, mas a continuar assim ameaçará cada vez mais o Algés.

Em relação às restantes equipas, atenção à jovem turma do Náutico da Marinha Grande que, apesar de estar na primeira divisão por repescagem, tem argumentos para se bater com as melhores. Assim como tem os Belenenses.

Tavira, Desportiva de Viana e Ginásio de Vila Real podem ter equipas curtas para apresentar duas nadadoras por prova, beneficiando o Galitos que, apesar de ter sido 8º (último) no ano passado, ganha este ano novo balão de oxigénio para a sua jovem equipa. O Fluvial Portuense para além das consagradas Angélica André e Vânia Neves, tem em Madalena Machado e na juvenil Mariana Cunha os grandes argumentos para a manutenção. Sobre a SFUAP recaem as dúvidas sobre como vai resistir às perdas. Continua a ter nadadoras como Eva Carvalho, Filipa Alves ou Luísa Machado e, por isso, possibilidades de lutar pela manutenção.

Foto: Luís Filipe Nunes

No que respeita a competições individuais, há várias questões que 2017/2018 irá responder:

  1. No truelo entre Alexis Santos, Diogo Carvalho e Gabriel Lopes quem levará a melhor nos 200 estilos?
  2. Teremos pela primeira vez uma final de 1500 metros livres masculinos nadada integralmente abaixo de 16 minutos?
  3. E nas provas de livres femininos, sem Tamila Holub, será um passeio para a Diana Durães?
  4. Ana Rodrigues continuará a ser a líder incontestável da velocidade ou Beatriz Viegas vai chegar ao nível da nadadora do Sanjoanense?
  5. E o duelo dos 200 bruços femininos, vai sorrir mais vezes a Victoria Kaminskaya ou a Raquel Pereira?
  6. Quem vão ser os nadadores que mais vão evoluir este ano?

Estas e outras perguntas estão prestes a começar a ser respondidas. A época 2017/2018 da natação portuguesa vai dar início e os entusiastas da modalidade só esperam que traga disputas épicas, resultados fantásticos e recordes nacionais.


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