Universitários com nota máxima
De 20 a 27 de Agosto disputou-se em Taipé o Torneio de Natação das 29ª Universíadas de Verão. A prova, organizada pela Federação Internacional de Desporto Universitário juntou na ilha de Taiwan 739 nadadores, entre os quais 3 portugueses
Terminou a natação pura em Taipé 2017. Umas Universíadas que ficarão marcadas pelo excelente nível apresentado pela natação, durante os sete dias de competição no Taiwan University Arena.
Com a presença de 4 campeões olímpicos e vários campeões mundiais, o torneio de natação foi dos mais fortes a que se assistiu, pelo menos, desde 2009, com a queda de 14 recordes mundiais Universitários. O Fair Play faz o balanço, escolhendo os pontos altos desta Universíada.
O MVP masculino
No sector masculino eram à partida, e olhando para a start list, quatro os nomes que se destacavam: os japoneses Kosuke Hagino e Daiya Seto, o italiano Gregorio Paltrinieri e o cazaque Dmitriy Balandin.
Estes eram os nomes mais cotados. Hagino, campeão olímpico dos 400 metros estilos, Seto, bi-campeão mundial na mesma prova, Paltrinieri, campeão olímpico, bi-campeão mundial e tri-campeão europeu nos 1500 metros livres e o Balandin, o surpreendente campeão olímpico dos 200 metros bruços no Rio de Janeiro.
Já se perspectivavam grandes confrontos entre os dois japoneses, e o italiano sabia que tinha no ucraniano Mykhailo Romanchuk um osso duro de roer, depois da disputa acesa que ambos tiveram em Budapeste nos 1500 metros livres, com o consagrado italiano a superiorizar-se à revelação ucraniana.
Nas Universíadas, Romanchuk foi, efectivamente, o maior opositor do italiano, mas Paltrinieri, desta feita, venceu as “suas” provas de fundo com autoridade (sobretudo os 1500, já que nos 800 Romanchuk ficou a apenas 52 centésimos). Foi primeiro nos 800 e 1500 metros livres com os novos recordes das Universíadas de 7:45.76 e 14:47.75.
Apesar de ter ficado longe dos seus recordes pessoais de 7:40.81 e 14:34.04, a categoria do italiano permitiu-lhe sair como o grande destaque das Universíadas.
Assim, o Fair Play elege-o como o MVP do sector masculino.
A MVP feminina
No sector feminino a discussão sobre a melhor nadadora dos campeonatos resume-se a duas candidatas: a japonesa Yui Ohashi e a italiana Simona Quadarella.
Ambas venceram duas provas e ambas estabeleceram dois novos recordes das Universíadas, sendo, por isso, muito difícil escolher qual das duas esteve melhor.
Ohashi nadou e venceu os 200 metros estilos, no tempo de 2:10.03 e os 400 metros estilos no tempo de 4:34.40. Quadarella foi a vencedora dos 800 metros livres com o tempo de 8:20.54 e dos 1500 metros livres com 15:57.90. Utilizando o critério dos recordes pessoais estabelecidos, Quadarella ganha vantagem nesta disputa, uma vez que a marca obtida nos 800 metros livres é a sua nova melhor marca, ultrapassando Federica Pellegrini no segundo lugar do ranking italiano de todos os tempos, na prova.
Já utilizando o critério da invencibilidade, Ohashi tem vantagem porque venceu todas as provas que nadou, ao passo que Quadarella nadou os 400 metros livres e quedou-se pelo 4º lugar.
Ainda assim, pela idade (18 anos) e pela forma como enfrentou e venceu a alemã Sarah Köhler, elegemos Simona Quadarella como a melhor nadadora presente na 29ª edição das Universíadas de Verão.
A confirmação
As Universíadas é uma competição propícia a que jovens nadadores, que já tenham dado nas vistas por outras ocasiões, surjam a realizar boas marcas. Em Taipé não foi diferente. Desde Ella Eastin que venceu os 200 mariposa e foi segunda – só atrás de Ohashi, mas também abaixo do anterior record mundial universitário – nos 200 estilos, foi assim com Danas Rapsys que levou para a Lituânia a vitória nos 200 costas e 200 livres e ainda a prata nos 100 costas e foi assim com o jovem Nao Horomura, antigo recordista mundial de juniores, que por pouco não recuperava esse record, nadando no tempo record universitário de 1:53.90 os 200 mariposa.
Mas a nossa escolha recai sobre a nadadora da Universidade do Michigan e de Hong Kong, Siobhan Haughey, a jovem de apenas 19 anos que se sagrou bi-campeã mundial universitária a nadar os 100 e 200 metros livres. Nos 200 metros ainda juntou o record mundial universitário de 1:56.71.
Este ano, a hongueconguense já tinha sido 5ª classificada aos 200 livres nos mundiais de Budapeste, depois de no ano passado ter sido “apenas” 13ª nos Jogos Olímpicos. Certamente, uma posição que melhorará bastante em Tóquio…assim lá chegue.
A revelação
Neste particular nem todos os nadadores estão no mesmo plano. Há nadadores muito jovens de nações com menor expressão no panorama internacional que já não são revelação porque já participaram em várias competições internacionais, dando nas vistas nessas ocasiões.
Depois há nadadores de nações – como EUA e Austrália – que não são conhecidos no plano internacional simplesmente porque não ultrapassam as provas de qualificação internas.
Assim é o caso do nadador que o Fair Play elege como a revelação do torneio.
É o norte-americano Andrew Wilson, campeão dos 100 e 200 metros bruços, na segunda prova com record das Universíadas de 2:08.37, uma marca melhor do que a dos dois americanos presentes nos mundiais de Budapeste.
Se na prova de 100 metros ainda não tem nível para superar Kevin Cordes e Cody Miller, nos 200 metros, Nicolas Fink e o próprio Cordes têm de começar a preparar-se para a forte oposição do nadador de 23 anos.
O regresso
Nesta categoria foi fácil a decisão. A campeã do mundo dos 200 metros bruços em Kazan 2015, Kanako Watanabe, não tinha estado nem perto do seu melhor desde esse ano de 2015, ano em que se tornou na 9ª melhor nadadora de sempre aos 200 bruços com a sua marca de 2:20.90.
Nos Jogos do Rio de Janeiro foi apenas 13ª classificada e desde aí não competia a nível internacional.
Voltou para nadar estas Universíadas e, apesar de ainda não ter nadado próximo do que sabe fazer, venceu os 100 e os 200 metros bruços. Nos 100 com o tempo de 1:06.85 (é recordista do Japão com 1:05.88) e nos 200 com o tempo de 2:24.15.
Na estafeta 4×100 estilos foi peça fundamental para o seu país conquistar o ouro. Nadou o parcial de bruços em 1:06.73 (o mais rápido da final), começando a nadar na 3ª posição e entregando na liderança.
Apesar de ainda estar uns furos abaixo do seu melhor, parece estar a voltar a subir paulatinamente a sua forma, mostrando que terão de contar com ela para os Jogos Olímpicos no seu país, daqui a três anos.
A marca
Já o referimos anteriormente, mas tínhamos de dar maior destaque ao excelente tempo que o jovem japonês Nao Horomura fez nos 200 metros mariposa. Ele já foi recordista do mundo de juniores com o tempo de 1:55.37, realizado nos nacionais do Japão a 15 de Abril de 2017, mas entretanto, o húngaro Kristoff Milak nadou, nos Europeus de Juniores, no tempo “absurdo” de 1:53.79.
Horomura, nestas Universíadas, respondeu à altura ao húngaro e marcou 1:53.90. Não foi suficiente para resgatar o record perdido, mas teria sido suficiente para roubar o bronze ao seu compatriota Daiya Seto nos mundiais de Budapeste, se lá tivesse nadado.
Fica a certeza que Horomura de 18 anos e Milak de 17 anos serão os nomes que animarão a prova de 200 mariposa nos tempos vindouros, tendo já na mira o record mundial de 1:51.51, pertença de Michael Phelps.
A melhor prova
Os 400 metros estilos masculinos prometiam guardar a maior parte do interesse das provas destas Universíadas. Frente a frente iriam estar o campeão olímpico Kosuke Hagino e o bi-campeão mundial Daiya Seto.
No entanto, o aguardado despique teve um desfecho rápido. Seto liderou a prova de ponta a ponta para vencer com mais de 3 segundos de vantagem para o seu compatriota.
Assim, a nossa escolha recai para a prova dos 100 metros masculinos, a prova mais renhida de todas as Universíadas, que teve dois nadadores a ocuparem a posição de ouro. Apesar do tempo dos vencedores não ter baixado do minuto, nem sequer ter sido o mais rápido (já que nas eliminatórias Andrew Wilson nadou em 59.69), o decorrer da prova justifica este rótulo de melhor “corrida” dos campeonatos.
No final, o americano Andrew Wilson e o biolorruso Ilya Shymanovich venceram com 1:00.15, deixando o campeão olímpico dos 200 bruços, Dmitriy Balandin, com o bronze a apenas dois centésimos de segundo de diferença do duo dourado.
Os mais medalhados
Foram 4 os nadadores que obtiveram três ouros, levando a melhor no desempate o norte-americano Justin Ress, que conquistou o ouro nos 100 metros costas, 4×100 livres, 4×100 estilos e a prata nos 50 metros costas.
Kanako Watanabe (100 e 200 bruços e 4×100 estilos), Ryan Held (100 livres, 4×100 livres e 4×100 estilos) e Andrew Wilson (50 e 100 bruços e 4×100 estilos) formaram o quarteto de nadadores que vai para casa com 3 ouros.
Há outro nadador que, mesmo já tendo terminado o torneio, ainda pode chegar a essa marca de três ouros. É Gregorio Paltrinieri que, depois de ter vencido os 800 e 1500 metros livres, vai nadar amanhã os 10 km em águas abertas.
Em termos de nações, foram as potências EUA e Japão a destacarem-se com 11 e 9 ouros, respectivamente, num conjunto de 28 medalhas para os americanos e 20 para os japoneses.
No top do medalheiro destaque para a presença de Hong Kong, que pela mão de Siobhan Haughey conseguiu chegar à 9ª posição do ranking de medalhas. Destaque ainda para as ausências notórias de nações como China, França ou Grã-Bretanha do top das medalhas.
Os portugueses
A participação portuguesa resume-se a duas meias-finais e um record pessoal.
Gabriel Lopes chegou à meia-final dos 200 metros estilos, nadando a prova em 2:01.95, aquém do seu melhor de 2:00.76. O seu record pessoal daria para ter chegado à final, que fechou em 2:01.37. Ficou no 12º lugar geral final.
Ana Catarina Monteiro obteve a segunda meia-final para os portugueses. A nadadora do Clube Fluvial Vilacondense foi 11ª classificada com a marca de 2:13.13. O seu record pessoal de 2:10.51 não só daria acesso à final, como daria a direito à medalha de prata, já que a segunda classificada da prova nadou em 2:11.32. Ana Catarina ainda ficou a uma posição da meia-final dos 100 metros mariposa, nadando em 1:01.15.
Rita Frischknecht marcou novo record pessoal na prova de 200 metros livres. 2:04.40 é o seu novo máximo. Ela trazia como melhor marca pessoal, o tempo de 2:05.67. Foi 26ª classificada, sendo que o acesso à meia final fechou em 2:02.00.
A participação lusa na natação, nestas Universíadas, ficou assim aquém do esperado. Situação que não é virgem nesta competição. As últimas participações portuguesas não têm sido positivas, sendo que a última grande prestação já foi há 10 anos, quando Fernando Costa se classificou em 4º lugar nos 1500 metros livres, com o record nacional de 15:16.22.
Várias situações têm de ser revistas pela Federação Académica do Desporto Universitário de forma a contrariar esta tendência. Uma delas será viajar antes da véspera da competição, quando esta se realiza do outro lado do mundo.
Em 2019 a 30ª edição decorrerá em Nápoles, pelo que o problema anteriormente mencionado não se colocará, mas outros precisam ser debelados para que a próxima participação portuguesa tenha mais brilho.