Uma luz ao fundo do túnel para o judo português

João CamachoJunho 21, 20206min0

Uma luz ao fundo do túnel para o judo português

João CamachoJunho 21, 20206min0
O desconfinamento do judo português trouxe algumas novidades, no caminho para a procura da normalidade. Mas poderão os judocas voltar aos combates no futuro?

Lentamente a atividade económica, laboral, social e desportiva recomeça, depois de um longo período de confinamento originado pela pandemia COVID19. O Judo é provavelmente dos desportos mais afetados e que terá um regresso à “normalidade” mais lento, mas há luz ao fundo do túnel!

“Desconfinar”

Após o anúncio das diversas fases de abrandamento das medidas de confinamento, por parte do governo, temos observado um retomar da atividade desportiva em todas as modalidades. O futebol, por razões óbvias, foi a primeira atividade, e provavelmente será a única nesta fase, a ver retomada a competição ao mais alto nível, ainda que com algumas limitações, como a ausência de público nos estádios. Com efeito, a capacidade financeira associada ao futebol profissional permite um acompanhamento diário dos jogadores, e de todo o staff técnico, assegurando um controlo apertado do ponto de vista clínico e, assim, garantindo um elevado grau segurança a todos os intervenientes.

O Judo, e porque aqui escrevo sobre Judo, já que o mesmo se poderá dizer de outras modalidades desportivas, vive uma realidade totalmente diferente do futebol. Se no inicio da pandemia, e após a difícil mas necessária decisão de confinamento, as aulas e treinos de Judo eram assegurados remotamente, por videoconferência ou por partilha de planos de treino entre os atletas, o facto é que pouco mais do que de um programa de manutenção física se tratava. Insuficiente enquanto preparação para a competição.

Adicionalmente a esta limitação, apresentava-se outro verdadeiro desafio: o facto de o Judo ser um desporto disputado por categorias de peso! Tornou-se imperioso que os atletas mantivessem um rígido plano alimentar, uma vez que a atividade física estava bastante condicionada, e urgia evitar excessos e não perder o indispensável controlo do peso para prevenir sérios problemas a montante.

Atualmente já temos muitos clubes a retomar a sua atividade presencial. Obedecendo às rigorosas medidas de higiene e segurança impostas pela Direção Geral de Saúde-DGS, Ministério da Saúde e Federação Portuguesa de Judo-FPJ, os tatamis (tapetes) de Judo voltam, lentamente, a ter Judocas e isto são boas notícias!

Se nesta fase o treino continua a ser predominantemente individual, focado na preparação física e no treino técnico de sombra-Tandoku-renshu, desvalorizado frequentemente por alguns, mas prática recorrente da vasta maioria dos melhores Judocas do mundo, (mas o que sabem estes atletas e treinadores comparados com o vasto conhecimento destes céticos…)  – o facto é que finalmente começamos a ver a luz ao fundo do túnel, tendo presente que é fundamental seguir as recomendações de segurança para que não ocorra um retrocesso no controlo da pandemia que ponha em risco o regresso à normalidade com a maior brevidade.

Estágio Equipa feminina Idanha Junho 2020 (Foto: FPJ)

Regresso da competição

A Federação Portuguesa de Judo-FPJ autorizou o regresso oficial aos treinos dos atletas federados a partir do dia 1 de Junho de 2020, em espaços abertos ou fechados, em linha com a Resolução do Conselho de Ministros. O calendário de 2020 foi revisto estando prevista a realização do primeiro grande evento nacional para o dia 26 de Setembro, Campeonato AS Nacional de Seniores ” Jogos Santa Casa” – Taça Kiyoshi Kobayashi e Campeonato Nacional de Judo Adaptado. A FPJ confirmou a participação dos principais atletas Portugueses, o que será sem margem para dúvidas motivo de destaque, pois não temos tido muitas oportunidades de ver os melhores atletas Portugueses em ação no nosso País, dado que o calendário internacional ganha prioridade durante a janela de qualificação Olímpica.

A primeira concentração da equipa Olímpica Feminina após o desconfinamento decorreu em Monsanto e Penha Garcia, concelho de Idanha-a-Nova, nos dias 5, 6 e 7 de Junho, sob a orientação da treinadora nacional e conhecedora da região Ana Hormigo. Tratou-se de uma sessão de treino individual em ambiente aberto (outdoor), que serviu para unir o grupo e retomar a atividade num ambiente mais descontraído mas não menos exigente.

A FPJ anunciou a realização do primeiro estágio nacional pós crise pandémica, que irá decorrer entre os dias 24 e 27 de Junho, em Coimbra. Estão convocados os principais atletas Portugueses, com destaque para os atletas que estão no projeto Olímpico. Destaco o empenho e o compromisso da FPJ em garantir a máxima segurança dos atletas serão agrupados em grupos fixos, que não se cruzam, e todos terão, obrigatoriamente, de ter um teste negativo à COVID-19 com resultados posteriores a 22 de Junho.

Para terminar, está confirmada a vinda da equipa Brasileira de Judo, que trará 28 atletas dos escalões sénior e júnior até ao nosso país, para a preparação das principais provas do circuito Mundial. Neste lote de atletas estarão alguns dos melhores Judocas brasileiros, integrantes da equipa Olímpica Brasileira. Recordo que o Brasil é uma das maiores potências Mundiais deste desporto. A equipa Brasileira irá permanecer no nosso país durante, aproximadamente, 2 meses, sendo sujeita a um período de quarentena na chegada e a testes frequentes. Será sem margem para dúvidas uma excelente oportunidade para os Judocas Portugueses treinarem com alguns dos melhores Judocas do Mundo.

Desafios de um treinador de Judo

A precariedade do sector laboral em Portugal é um tema, infelizmente, recorrente e que não tem visto uma evolução positiva nos últimos anos. A vasta maioria dos profissionais e agentes desportivos ligados ao Judo, e ao desporto em geral, dos quais destaco os treinadores e monitores, estão inseridos num regime de prestação de serviços e o confinamento e suspensão da atividade imposta pela crise pandémica COVID19 agravou uma situação, já por si delicada e precária. Alguns, ainda tiveram a “sorte” de ficar abrangidos pelo regime de layoff, mas poucos têm um contrato de trabalho na área, e puderam ver garantidos 66% do vencimento.

A maior parte, que depende dos famosos “recibos verdes”, ou regime de prestação de serviços, ficou simplesmente sem a sua principal ou única fonte de rendimento, de um dia para o outro, sem poder recorrer a qualquer subsídio ou ajuda que compensasse esta interrupção forçada. Tenho conhecimento de situações dramáticas, de autêntico desespero! Está na altura do governo e do IPDJ-Instituo Português do Desporto e da Juventude repensarem o modelo até agora predominante e implementarem políticas que protejam os profissionais do desporto. Se queremos resultados e prática desportiva de qualidade e excelência, é fundamental dar condições dignas a todos os agentes que trabalham e vivem do desporto em Portugal.

Treino Selecção Feminina Idanha a Nova Junho 2020 (Foto: FPJ)

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