Uma Super Patrícia Sampaio
Os Campeonatos do Mundo de Budapeste ficaram marcados por um altíssimo nível competitivo, com muitas surpresas, e repletos de momentos épicos, com destaque, no que respeita à prestação portuguesa, para Patrícia Sampaio, que terminou com um bronze, na disputadíssima categoria dos 78Kg.
Super Patrícia!
Quando nos faltam adjetivos para qualificar a excelência e dimensão das conquistas de um atleta, é bom sinal, e é exatamente o que acontece com Patrícia Sampaio, que conquistou a 3.º posição, Bronze, nos Campeonatos do Mundo que decorreram em junho, na capital da Hungria, Budapeste. No espaço de um ano, Patrícia conquistou o Bronze nos Jogos Olímpicos de Paris, o Título Europeu e agora o Bronze nos Campeonatos do Mundo!
A sua capacidade de trabalho, a superação, a mentalidade ganhadora, o compromisso e a humildade, são algumas das características que definem esta enorme atleta, oriunda de Tomar, onde ainda hoje representa a centenária Sociedade Filarmónica Gualdim Pais, provando que é possível perseguir o sonho, mas é preciso “querer muito” e estar disposta a sacrifícios!
Patrícia entrou nestes Campeonatos com a cabeça de série número da categoria dos 78Kg, afinal, era a líder do ranking mundial. Ficou isenta da 1.ª ronda, e foi derrotando, sucessivamente Petrunjela Pavic da Croácia, Minju Kim da Coreia do Sul, Karol Gimenes do Brasil, e na meia-final reencontrou a fortíssima judoca alemã, Anna Monta Olek, que tinha derrotado na final dos Campeonatos da Europa. Desta vez a história foi diferente, Olek preparou-se muito bem para este confronto e anulou, com sucesso, os pontos fortes da judoca portuguesa, e apesar do equilíbrio, marcou uma vantagem de Yuko a 40 segundos do fim do combate, que acabou por ser decisiva.
Patrícia acusou alguma pressão, que resultou em dificuldades em contrariar a estratégia da alemã que tinha dominado em absoluto na final do Campeonato da Europa. Ficou a sensação de injustiça e frustração, mas era preciso recuperar, pois a competição ainda não tinha acabado, faltava disputar a medalha de bronze.
Neste combate, Patricia defrontou a Chinesa Zhenzhao Ma, sua companheira de pódio nos Jogos de Paris. Apesar de se perspetivar um combate muito complicado, Patricia entrou comprometida e muito concentrada, não dando qualquer hipótese à judoca chinesa, que acabou excluída e derrotada por castigos. Ficou a clara sensação de que Patricia podia ter chegado mais longe, mas isso não belisca a enorme prestação que valeu uma importante medalha de bronze.
Participação Portuguesa nos Campeonatos do Mundo de Budapeste
No que respeita à prestação da restante comitiva, o destaque vai para Otari Kvantidze (Oto), e o 7.º lugar na imprevisível e muito competitiva categoria dos 73Kg. Apesar de ter pela frente um sorteio terrível, na segunda ronda foi protagonista de um dos momentos marcantes destes Campeonatos, ao eliminar o judoca do Azerbaijão Hidayat Heydarov, era o Campeão do Mundo em título e atual Campeão Olímpico desta categoria de peso. Seguiu-se uma vitória muito complicada frente ao norte americano Jack Yonezuka, Vice-Campeão do Mundo de Juniores de 2023, em Odivelas.
Nos quartos-de-final, acabou por ser derrotado pelo experiente judoca italiano, Manuel Lombardo. Relegado para a repescagem, Oto acabou por cair a segundos do fim, frente ao forte adversário dos Emiratos Árabes Unidos, judoca de origem russa, país que chegou a representar em importantes competições, Makhmadbek Makhmadbekov. Oto deixa, mais uma vez, excelentes indicações, com uma prestação consistente e uma clara afirmação e confirmação do seu talento e de que é um forte candidato à presença olímpica em Los Angeles.
Destaco também João Fernando, com um honroso 9.º lugar, colocou fora da competição um dos candidatos ao pódio, o bronze olímpico do Tadjiquistão Somon Makhmadbekov, e Tais Pina, igualmente 9.ª posição, que voltou a dar excelentes indicações, mas cometeu, novamente, erros de pormenor que prejudicaram a sua caminhada.
Foi a judoca que fez tremer, e chegou a dominar a japonesa Shiho Tanaka, que viria a conquistar o título mundial. Taís é um diamante em bruto e é importante que o processo de lapidação decorra com cuidado. É uma judoca muito nova, já com uma presença olímpica, e terá de se focar nos detalhes, que a este nível fazem toda a diferença. Por exemplo, a gestão das várias fases do combate, onde por vezes denota falhas. Sou fã desta judoca e acredito que tem todas as condições para chegar ao pódio em qualquer competição onde marque presença, sejam Campeonatos do Mundo ou Jogos Olímpicos.
Pela negativa, o destaque vai para Jorge Fonseca, que entrou muito bem no seu primeiro combate, com uma clara vitória por ippon, mas que, no segundo combate, acabou por pagar cara a desatenção, quase infantil, de virar as costas ao adversário, que imediatamente aproveitou a generosidade para o projetar. O Bicampeão do Mundo da categoria dos 100Kg ficou pela segunda ronda, num sorteio bastante generoso que poderia ter culminado na disputa de uma medalha.
Em jeito de Balanço, assistimos a uns Campeonatos do Mundo dominados, como esperado, pelo Japão, que terminou com 6 medalhas de ouro (títulos mundiais), 4 de prata e 4 de bronze. Num universo de 93 países Portugal termina numa honrosa 20.ª posição, devido ao 3.º lugar de Patrícia Sampaio e ao 7.º lugar de Otari Kvantidze.
Foram uns campeonatos emocionantes, altamente competitivos, e para que o leitor tenha ideia, nenhum campeão do mundo que marcou presença, conseguiu renovar o seu título, e vários campões olímpicos ficaram nas eliminatórias.
Na sempre emocionante competição de equipas mistas, assistimos a uma autêntica surpresa, ou talvez não, a vitória da equipa da Geórgia, que reconhecidamente é uma potência no judo masculino e nestes campeonatos começou a dar cartas no feminino (o título mundial de Eteri Liparteliani nos 57Kg femininos é a prova de uma evidente aposta da federação deste país). A Geórgia derrotou na meia-final o fortíssimo e eterno candidato ao título Japão e derrotou na final a Coreia do Sul. A surpresa, pela negativa, foi a dececionante prestação da equipa bicampeã olímpica, a França, que terminou na 7.ª posição.
Se dúvidas houvesse, ficou demonstrado que o nível do judo mundial está altíssimo, a roçar, e por vezes a ultrapassar, a excelência. A realidade é que não há espaço para amadorismo, para desorganização, para incompetência e desleixo, a mensagem é clara e espero que, quem por cá tem responsabilidade na organização e gestão da modalidade esteja atento e seja competente.