Futuro em risco do judo português

João CamachoOutubro 12, 20255min0

Futuro em risco do judo português

João CamachoOutubro 12, 20255min0
Com todos os objectivos mínimos falhados, João Camacho traça uma situação preocupante para o judo português

Acabou esta semana os Campeonatos do Mundo de Júniores, que este ano visitaram a capital do Peru, Lima. Lamentavelmente, nenhum dos judocas portugueses deste escalão conseguiu cumprir os mínimos definidos pela Federação Portuguesa de Judo (FPJ), para poder representar o nosso país, nesta que é a mais importante competição mundial deste escalão.

Sinal muito preocupante e que coloca em sérios riscos a continuidade do período de graça que o Judo Português tem vivido nos últimos anos.

Campeonato do Mundo Juniores – Lima 2025

Faz agora dois anos, que a mais importante competição do escalão de Júniores, Campeonato do Mundo, decorreu no nosso país, mais exatamente no Multiusos de Odivelas. Por essa altura, o nosso país recebia também uma importante etapa do circuito mundial, o Grand Prix e em simultâneo decorriam diversas provas do calendário da União Europeia de Judo. Há dois anos, a prestação na disputada e emocionante competição de equipas mistas, que encerra estes campeonatos, valeu uma inédita medalha de bronze para a equipa portuguesa. Apesar de uma participação apagada na competição individual, a equipa uniu-se e brindou-nos com uma épica prestação, que valeu mais um momento histórico do judo português.

A realidade hoje é assustadoramente diferente. A situação calamitosa das contas da FPJ, em falência técnica, para além de impossibilitar a realização da etapa prevista para este ano do circuito mundial, entre outras, tem resultado numa rigorosa contenção de custos, reduzindo drasticamente a participação internacional dos judocas ao serviço das várias seleções nacionais. Obviamente isto tem um custo, a falta de competições ao mais alto nível, a falta de estágios de treino com os melhores judocas, resulta num acentuado decréscimo na qualidade e consistência dos judocas, que acaba por ter um enorme impacto em todos os que aspiram vir a estar presentes na alta roda deste exigente desporto. Só a elite do judo nacional, através das verbas alocadas via Comité Olímpico Português, consegue ter um orçamento mais robusto e, assim, contornar, dentro do possível, o atual cenário de “calamidade”.

Mas a situação atual da FPJ não é só por si a justificação da ausência de judocas portugueses na mais prestigiada e importante competição do escalão de Juniores! Falta massa critica em quantidade e em qualidade, faltam judocas com espírito de sacrifício, fibra, atitude, trabalhadores, dispostos a sair da sua zona de conforto para se dedicarem ao Judo. Temos exemplos de como é importante, ainda no escalão de Júniores, o escalão onde se dá a transição para a exigente alta competição, conquistar resultados de peso e mostrar compromisso, como foram os casos de Telma Monteiro, Patrícia Sampaio, entre tantos outros.

Tenho vindo a observar os principais judocas deste escalão e tenho muitas dificuldades em identificar um único que seja com condições para, no médio prazo, ter “andamento” para a elite do judo mundial. O último nome que me ocorre é o de Taís Pina, que, entretanto, já subiu ao escalão sénior, e  que, apesar do seu enorme talento e potencial, ainda acusa alguma imaturidade, com más decisões na gestão dos combates que lhe têm custado alguns pódios. Mas, faz parte do processo de crescimento e Taís é claramente uma judoca que pode chegar longe. Sei que arrisco muito nesta previsão, mas vejo-a lutar por uma medalha num campeonato do mundo ou mesmo nuns jogos Olímpicos. Dependerá dela, já que terá, mais que ninguém, “de querer muito” e fazer por isso, pois a fórmula do sucesso é conhecida e a prova é que já tivemos diversos portugueses a lá chegar alcançando resultados brilhantes e que marcaram a história do Judo e do desporto português!

Em jeito de resumo, o Japão teve aqui mais uma demonstração de força e qualidade, muita qualidade. Dominou a competição individual dos campeonatos do mundo conquistando 5 títulos (ouro), 4 pratas e 4 bronzes, seguidos, a larga distância, pelo Brasil e pela Federação Russa, que continua a competir com a bandeira da FIJ (sem hino e sem bandeira).

Na competição de equipas mistas, o Japão não deu qualquer hipótese à concorrência, repetindo as finais de 2023 (Odivelas) e 2024 (Duchambe) frente à poderosa e sempre comprometida equipa francesa, e, novamente, com o mesmo desfecho, a vitória do país do sol nascente!

Circuito Mundial de Regresso

No que respeita ao circuito mundial, tivemos, no final do mês de setembro, o seu regresso na China, mais exatamente, na cidade portuária de Qingdao. Uma etapa ainda a meio gás, o que é compreensível já que muito Judocas ainda estão a retomar a atividade, depois de um merecido período de descanso pós campeonatos do mundo. Praticamente sem os principais nomes de cada categoria de peso, incluindo qualquer representante português, foi possivel observar a força da equipa japonesa. Acompanhei talentosos judocas japoneses, muitos deles ilustres desconhecidos, e as suas prestações irrepreensíveis, recheadas de muita qualidade, provando, cabalmente, que este país é o líder incontestado desta modalidade.


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