Futuro em risco do judo português
Acabou esta semana os Campeonatos do Mundo de Júniores, que este ano visitaram a capital do Peru, Lima. Lamentavelmente, nenhum dos judocas portugueses deste escalão conseguiu cumprir os mínimos definidos pela Federação Portuguesa de Judo (FPJ), para poder representar o nosso país, nesta que é a mais importante competição mundial deste escalão.
Sinal muito preocupante e que coloca em sérios riscos a continuidade do período de graça que o Judo Português tem vivido nos últimos anos.
Campeonato do Mundo Juniores – Lima 2025
Faz agora dois anos, que a mais importante competição do escalão de Júniores, Campeonato do Mundo, decorreu no nosso país, mais exatamente no Multiusos de Odivelas. Por essa altura, o nosso país recebia também uma importante etapa do circuito mundial, o Grand Prix e em simultâneo decorriam diversas provas do calendário da União Europeia de Judo. Há dois anos, a prestação na disputada e emocionante competição de equipas mistas, que encerra estes campeonatos, valeu uma inédita medalha de bronze para a equipa portuguesa. Apesar de uma participação apagada na competição individual, a equipa uniu-se e brindou-nos com uma épica prestação, que valeu mais um momento histórico do judo português.
A realidade hoje é assustadoramente diferente. A situação calamitosa das contas da FPJ, em falência técnica, para além de impossibilitar a realização da etapa prevista para este ano do circuito mundial, entre outras, tem resultado numa rigorosa contenção de custos, reduzindo drasticamente a participação internacional dos judocas ao serviço das várias seleções nacionais. Obviamente isto tem um custo, a falta de competições ao mais alto nível, a falta de estágios de treino com os melhores judocas, resulta num acentuado decréscimo na qualidade e consistência dos judocas, que acaba por ter um enorme impacto em todos os que aspiram vir a estar presentes na alta roda deste exigente desporto. Só a elite do judo nacional, através das verbas alocadas via Comité Olímpico Português, consegue ter um orçamento mais robusto e, assim, contornar, dentro do possível, o atual cenário de “calamidade”.
Mas a situação atual da FPJ não é só por si a justificação da ausência de judocas portugueses na mais prestigiada e importante competição do escalão de Juniores! Falta massa critica em quantidade e em qualidade, faltam judocas com espírito de sacrifício, fibra, atitude, trabalhadores, dispostos a sair da sua zona de conforto para se dedicarem ao Judo. Temos exemplos de como é importante, ainda no escalão de Júniores, o escalão onde se dá a transição para a exigente alta competição, conquistar resultados de peso e mostrar compromisso, como foram os casos de Telma Monteiro, Patrícia Sampaio, entre tantos outros.
Tenho vindo a observar os principais judocas deste escalão e tenho muitas dificuldades em identificar um único que seja com condições para, no médio prazo, ter “andamento” para a elite do judo mundial. O último nome que me ocorre é o de Taís Pina, que, entretanto, já subiu ao escalão sénior, e que, apesar do seu enorme talento e potencial, ainda acusa alguma imaturidade, com más decisões na gestão dos combates que lhe têm custado alguns pódios. Mas, faz parte do processo de crescimento e Taís é claramente uma judoca que pode chegar longe. Sei que arrisco muito nesta previsão, mas vejo-a lutar por uma medalha num campeonato do mundo ou mesmo nuns jogos Olímpicos. Dependerá dela, já que terá, mais que ninguém, “de querer muito” e fazer por isso, pois a fórmula do sucesso é conhecida e a prova é que já tivemos diversos portugueses a lá chegar alcançando resultados brilhantes e que marcaram a história do Judo e do desporto português!
Em jeito de resumo, o Japão teve aqui mais uma demonstração de força e qualidade, muita qualidade. Dominou a competição individual dos campeonatos do mundo conquistando 5 títulos (ouro), 4 pratas e 4 bronzes, seguidos, a larga distância, pelo Brasil e pela Federação Russa, que continua a competir com a bandeira da FIJ (sem hino e sem bandeira).
Na competição de equipas mistas, o Japão não deu qualquer hipótese à concorrência, repetindo as finais de 2023 (Odivelas) e 2024 (Duchambe) frente à poderosa e sempre comprometida equipa francesa, e, novamente, com o mesmo desfecho, a vitória do país do sol nascente!
Circuito Mundial de Regresso
No que respeita ao circuito mundial, tivemos, no final do mês de setembro, o seu regresso na China, mais exatamente, na cidade portuária de Qingdao. Uma etapa ainda a meio gás, o que é compreensível já que muito Judocas ainda estão a retomar a atividade, depois de um merecido período de descanso pós campeonatos do mundo. Praticamente sem os principais nomes de cada categoria de peso, incluindo qualquer representante português, foi possivel observar a força da equipa japonesa. Acompanhei talentosos judocas japoneses, muitos deles ilustres desconhecidos, e as suas prestações irrepreensíveis, recheadas de muita qualidade, provando, cabalmente, que este país é o líder incontestado desta modalidade.