Até onde pode ir o judo português depois de um 2019 memorável?
O Judo Português vive um momento único! A revalidação do título de Campeão da Europa de Clubes, por parte da equipa masculina do Sporting Clube de Portugal, torna 2019 um ano memorável, com um conjunto de resultados expressivos e que será muito difícil de superar!
Sporting CP Bicampeão Europeu de Judo de clubes
Começo este artigo por dar os Parabéns à equipa masculina do Sporting CP pela épica e memorável prestação na Champions League de Judo, em que revalidou o título desta que é a mais importante competição da Europa de Clubes – como é conhecido, trata-se do Campeonato da Europa de Clubes
A competição, que este ano decorreu em Portugal, mais precisamente no multiusos de Odivelas no dia 16 de Novembro (e aproveito para dar os Parabéns pela excelente organização, ao nível das melhores etapas do circuito Mundial, bem como ao público que compareceu em grande número), contou com a presença dos melhores clubes da Europa, destacando, obviamente, a equipa que defendia o título da competição masculina, o Sporting CP, e a estreante equipa feminina do SL Benfica.
Foi uma oportunidade única de observar uma autêntica parada de estrelas, como diversos campeões do Mundo e Olímpicos em ação!
A equipa do Sporting CP apresentou a prata da casa, com destaque óbvio para o campeão do Mundo Jorge Fonseca, mas incluindo David Reis, João Fernando, João Martinho, Alexandre Teodósio, Diogo Brites, Marco Pereira, Miguel Alves, Francisco Costa, e também o Mongol Kherlen Ganbold, o Espanhol, campeão do Mundo de 2018 na categoria de 90Kg, Nikoloz Sherazadishvili e o Holandês Frank de Witt.
Aproveito para explicar que esta competição é disputada por equipas com atletas nas categorias dos 66, 73, 81, 90 e +90Kg, com a possibilidade de, em cada encontro, apresentar 2 atletas estrangeiros num total de 5 atletas por encontro.
Na reedição da final do ano passado, em Bucareste, na qual o Sporting se sagrou pela primeira vez Campeão Europeu, os triunfos dos judocas Kherlen Ganbold, João Martinho e Nikoloz Sherazadishvili valeram a revalidação do título, apesar das derrotas de João Fernando e do campeão mundial Jorge Fonseca
A prestação da equipa do Sporting CP foi épica, e, sem querer individualizar, tenho obrigatoriamente de destacar João Martinho (148.º do mundo), que se lesionou no aquecimento (corte no sobrolho direito), tendo lutado sempre com uma ligadura na cabeça e com muitas dores.
João Martinho é um atleta com uma prestação muito interessante nos escalões de formação, mas que tem tido um percurso atribulado devido a um calvário de lesões que, esperemos, estejam debeladas. João representou o Benfica durante alguns anos, tendo mudado para o Sporting no final do ano passado.
No que respeita à competição feminina, depois de derrotarem a fortíssima equipa Turca do Galatasaray, a equipa do SL Benfica, composta por apenas 5 judocas, as Benfiquistas Telma Monteiro (57Kg), Bárbara Timo (-70 kg) e Rochele Nunes (+70 kg), e mais duas atletas estrangeiras, a Italiana Odette Giufrida (vice-campeã Olimpica dos -52 kg) e a Holandesa Juul Franssen (duas vezes medalhada em Mundiais nos -63 kg), foi derrotada nas meias-finais pela equipa do Valência CJ. Na luta pela medalha de Bronze, a equipa do SL Benfica acabou derrotada pela equipa Romena do U-CSM Cluj-Napoca.
Com este resultado, o SL Benfica terminou no 5º Lugar, na estreia daquela que é a mais importante competição de clubes da Europa.
É evidente, na minha opinião, que esta equipa poderá chegar longe, e tem toda a legitimidade para ambicionar, num futuro próximo, um lugar no pódio, com alguns ajustes, é certo, e com toda a experiência, (que era pouca ou praticamente inexistente) acumulada nesta empolgante competição, onde foi muito apoiada por um público barulhento e vibrante que se deslocou em massa ao multiusos de Odivelas.
Para terminar, será justo dar o devido destaque a Pedro Soares, o responsável máximo da equipa de Judo do Sporting CP. Os sucessos individuais e por equipas do Judo neste clube, que é uma das maiores referências do ecletismo desportivo no nosso país, são evidentes e têm o seu cunho.
Depois de uma carreira prestigiante e recheada de títulos e excelente resultados, Pedro Soares prova que é possível, no nosso país e com todas as condicionantes conhecidas, chegar ao topo e reclamar neste momento, com toda a justiça, o título de melhor clube de Judo da Europa!
Europa League de Judo
A União Europeia e Federação Portuguesa de Judo, aproveitaram, e muito bem, a logística e fantástica organização da liga dos campeões de Judo e juntaram a organização desta competição com a Europa League, que decorreu no dia seguinte, Domingo, dia 17 Novembro.
Esta, que é a competição que permite a qualificação e acesso à competição principal (Liga dos Campeões), foi muito animada, com elevadíssimo nível e, tal como na competição principal, nela participaram diversas equipas a apresentar atletas medalhados em Mundiais e Jogos Olímpicos, tendo contado com a presença da equipa feminina da Associação Académica de Coimbra (AAC) e a equipa masculina dos Salesianos. As duas equipas estiveram em destaque, pela positiva, e a equipa da AAC terminou em 5º lugar, caindo na luta pelo bronze frente à equipa Russa do Olymp Krasnodar.
Campeonatos do Mundo de Veteranos
No último artigo, por questões de “espaço”, ou falta deste, não foi possível destacar os fantásticos resultados obtidos nos Campeonatos do Mundo de Veteranos.
Esta competição, que conta com a participação de ex-competidores ou Judocas que iniciaram a prática numa fase mais tardia da sua vida, é a demonstração clara que o Judo é um desporto para todas as idades. Trata-se de uma competição com uma atmosfera própria, longe do mediatismo e exigências de uns Campeonatos do Mundo séniores, mas extremamente competitiva e que acaba por exigir alguma dedicação e compromisso por parte dos participantes.
Portugal levou até Marraquexe 20 atletas, distribuídos por diversos grupos etários e pelas diversas categorias de peso em vigor. A participação foi um sucesso, pois 5 atletas chegaram ao pódio. Três conquistaram a medalha de ouro: José Gomes (66Kg M8), Andreia Cavalleri (63Kg M3), Nuno António (66Kg M4);, Eric Domingues (60Kg M2) obteve uma medalha de prata ; e João Neves ( 60Kg M6) conseguiu uma medalha de bronze. Parabéns!
Emilie Andéol: “às vezes arrependo-me de ser campeã Olímpica”
Numa recente entrevista, a campeã Olímpica da categoria dos +78Kg dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, a Francesa Emilie Andéol, partilhou o seu profundo desgosto com o vazio que se seguiu à conquista do título Olímpico. Para além de um burn out que a afetou antes e depois dos jogos, quando se retirou encontrou um enorme vazio, que rapidamente se tornou em desespero e depressão pois encontra-se numa situação de desemprego, apesar de se ter sempre esforçado e trabalhado arduamente para conciliar uma carreira no alto rendimento com os estudos. Esta situação, cada vez mais recorrente, evidencia a importância de um acompanhamento cuidado e atento aos atletas, pois o atleta, muito antes de ser um atleta, é um ser humano e não é descartável e cabe às Federações, Comités Olímpicos e clubes (caso tenham capacidade para tal), acompanhar o atleta na fase pós competição e garantir a sua reintegração na sociedade!
Estamos a chegar ao final do ano de 2019, altura propicia a um balanço que terá lugar no ultimo artigo do ano, ano que ficará, certamente, marcado pela excelência dos resultados alcançados pelos Atletas Portugueses. Entretanto, temos ainda Dezembro, mês reservado para o Masters, em Qingdao na China, prova que reúne os melhores atletas do mundo em cada categoria de peso e permite, para além de um generoso Prize Money, amealhar preciosos pontos, e são muitos, para os rankings de qualificação Olímpica e Mundial.