Judo português: a todo o gás!
O ano de 2025 arrancou a todos o gás para o judo português. O circuito mundial começa a entrar em velocidade cruzeiro, com os principais protagonistas a regressarem à competição, depois de um merecido repouso após um ciclo olímpico cada vez mais exigente e desgastante. Patricia Sampaio voltou a destacar-se, depois da brilhante vitória no Grand Slam de Paris, foi bronze na exigente etapa de Tbilisi.
Começo este artigo como terminei o último, a destacar Patricia Sampaio. A Judoca de Tomar é hoje a atleta que mais se sobressai no panorama do judo nacional. Contando com a participação nos Jogos Olímpicos de Paris e em três etapas do circuito mundial (Tóquio, Paris e Tbilissi, que recordo valeu uma medalha de bronze), Patrícia tem já um número impressionantes de vitórias. Num total de 16 combates disputados, ganhou 13! Números impressionantes que refletem o excelente momento da melhor representante do judo português da atualidade.
No que respeita aos restantes judocas que já marcaram presença no circuito mundial de 2025, temos observado prestações muito aquém do potencial destes atletas, destacando-se, somente, o 7.º lugar da jovem Taís Pina no Grand Slam de Tbilisi e o 5.º lugar de Otari Kvantidze, em Paris.
Estamos a arrancar para um novo ciclo olímpico. Serão mais 4 anos, obviamente marcados por saídas e entradas de atletas, e tendo presente que ainda não estamos com o nível competitivo que certamente observaremos mais perto dos Jogos de Los Angeles, entendo, contudo, que os primeiros sinais são preocupantes. Para além de contarmos com menos atletas no circuito, as prestações não têm sido consistentes.
Tenho partilhado com os leitores, reiteradamente, nos artigos que escrevo, a minha preocupação com a falta de atletas na formação, com o facto de o modelo da pirâmide estar seriamente comprometido, quase invertido, o que põe em causa, seriamente, o futuro da modalidade.
Se é verdade que o nosso país está carente de estratégias e políticas que promovam o desporto, que certamente permitiriam identificar e encaminhar jovens talentos para as diversas modalidades desportivas, responsabilidade a começar nas federações e a culminar no governo, também é urgente educar os pais e os próprios jovens sobre a importância da prática desportiva na formação do individuo, por exemplo, canalizando o tempo livre destes para o desporto em detrimento de hábitos pouco saudáveis e que atualmente estão a ter um terrível impacto nas crianças e jovens.
Circuito Mundial 2025
Depois do Grand Slam de Paris, aconteceram mais 4 etapas, Bacu (Azerbaijão), Tachkent (Uzbequistão), Linz (Áustria) e Tbilissi (Geórgia).
Destaco o regresso de muitos dos principais judocas da atualidade, alguns campeões do mundo e olímpicos e muita, muita juventude. O Japão tem apostado em trazer muitos jovens a estas etapas, alguns deles ilustres desconhecidos e que têm feito muitos “estragos”, surpreendendo muitos dos judocas mais consagrados. O Japão volta a dar uma cabal demonstração do seu poderio, transversal ao género masculino e feminino e a todos os escalões etários, assumindo a posição de país dominador deste desporto. Também destaco a Espanha, que depois de uma autêntica travessia no deserto em termos de resultados, começou a reverter esta tendência nos últimos dois ciclos olímpicos, e hoje volta a ter judocas, em quantidade e qualidade, a chegar aos pódios das etapas do circuito mundial.
Para terminar, saliento os judocas Russos, que com muitas caras novas, e algumas já bem conhecidas, têm conquistado muitos pódios e provam que uma competição sem Russos fica comprometida. A competição olímpica de Paris merecia ter tido a presença de Tasoev (+100Kg) e Kanikovskiy (100Kg)… .
Federação Portuguesa de Judo
Hoje, dia 27 de março, enquanto escrevia este artigo, foram notícia as buscas policiais de que a Federação Portuguesa de Judo (FPJ) foi alvo, na sua sede, em Odivelas. O presidente, Sérgio Pina, foi rápido a divulgar num comunicado que o alvo das buscas, passo a citar, “ é a gestão por parte do anterior presidente no período em que exerceu essa função…”, referindo-se a Jorge Fernandes, o seu antecessor enquanto líder do organismo. Segundo a Lusa, que cita o mandato emitido pelo Departamentos de Investigação e Ação Penal de Loures, em causa estarão suspeitas da prática de crimes de tráfico de influência, abuso de poder e peculato.
Jorge Fernandes foi eleito presidente da FPJ em 2017 e reconduzido no cargo em 2020. Em dezembro de 2022, acabou por ser destituído por incompatibilidades, ao abrigo do regime jurídico das Federações Desportivas, num inquérito iniciado pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Provavelmente o momento mais negro da modalidade em Portugal.
Nada que não fosse expectável, o processo que levou à destituição de Jorge Fernandes é complexo, repleto de ilegalidades e situações a roçar o ridículo e, na verdade, temo que estas buscas pequem por tardias pois toda esta “novela” já teve início há muito tempo. Curiosamente, para o leitor menos conhecedor da realidade do judo português, relembro que o presidente da FPJ, Sérgio Pina, muito diligente e rápido a enviar o comunicado, fez parte do elenco federativo, como vice-presidente, nos mandatos de Jorge Fernandes, o mesmo se verificando com diversos elementos da atual direção.