O que esperar do futebol feminino nos Jogos Olímpicos 2024?

Margarida BartolomeuJulho 22, 20247min0

O que esperar do futebol feminino nos Jogos Olímpicos 2024?

Margarida BartolomeuJulho 22, 20247min0
Margarida Bartolomeu lança os dados para o futebol feminino nos Jogos Olímpicos e quem são as favoritas às medalhas

25 de julho de 2024 marca o início de mais uma grande competição feminina de futebol – os Jogos Olímpicos. Se qualquer jogadora sonha em representar a sua seleção em campeonatos da europa ou do mundo, como descrever o sentimento de poder representar o seu país naquele que é o maior acontecimento desportivo mundial?!

No primeiro ano realmente designado “pós-pandemia”, os Jogos Olímpicos terão lugar na mítica cidade de Paris, e contam com a participação de 12 seleções nacionais – Austrália, França, Alemanha, Espanha, Estados Unidos da América, Canadá (atual detentora do título olímpico), Brasil, Nigéria, Zambia, Colômbia, Japão e Nova Zelândia – divididas em 3 grupos de 4 seleções. É elevada a expectativa de cada atleta, cada treinador/a, cada adepto/a, que espera presenciar jogos de elevado nível competitivo, como tem vindo a ser apanágio.

Os grupos encontram-se constituídos da seguinte forma:

Olhando para os 3 grupos, torna-se complicado definir o típico “grupo da morte”, ou qual a seleção favorita a dominar todos os jogos, e qual a que terá mais dificuldades.

Contudo, vou tentar analisar um pouco cada um dos grupos: se no grupo A podemos encontrar a atual detentora do título olímpico, a seleção do Canadá, a verdade é que não é previsível um grande domínio desta equipa sobre as restantes, muito embora seja constituída por um grupo de jogadoras altamente competitivas (de notar a ausência da histórica Christine Sinclair, que “pendurou as botas” a nível de seleções). Seja pelo facto de neste grupo também se encontrar a França, seleção que joga em casa, perante o seu público (sabemos bem a força do público caseiro, e a sua capacidade para potenciar o espírito vencedor das suas equipas), e que é dotada de uma qualidade tremenda – jogadoras como a mítica Wendie Renard, ou a recém regressada de lesão Marie-Antoinette Katoto, terão certamente uma palavra a dizer em cada jogo.

Por outro lado, a seleção Colombiana demonstrou, no último campeonato do mundo, ser “um osso duro de roer”, capaz de enfrentar qualquer seleção do mundo, e de causar estragos nas linhas defensivas adversárias, muito fruto do trabalho das talentosas Linda Caicedo e Mayra Ramirez. A Nova Zelândia, por sua vez, parte como a seleção menos provável de conseguir a qualificação para a próxima fase, mas tal como a Colômbia, demonstrou ser uma seleção muito aguerrida, que se encontra em claro crescimento, e que promete dar luta à supostas “favoritas”. A liderança e experiência de Ali Riley serão essenciais para que as “kiwis” consigam alcançar bons reultados.

Por outro lado, no grupo B, encontramos 3 seleções altamente competitivas – Estados Unidos, Alemanha e Austrália, de entre as quais não consigo, neste momento, definir uma favorita. Se, em tempos passados, a clara favorita seria sempre a seleção norte-americana, a verdade é a mesma se encontra em reformulação e rejuvenescimento, algo que acarreta sempre alguma quebra de rendimento.

A ausência de Alex Morgan das 18 eleitas foi algo que deu muito que falar, muito embora a equipa norte-americana consiga apresentar um conjunto de atletas extremamente dotadas e competitivas, como Trinity Rodman e Sophia Smith, sem esquecer a segurança de Alyssa Naeher. A seleção Alemã, por sua vez, muito embora tenha ao seu dispor um plantel extremamente talentoso, acaba de perder uma das estrelas da companhia – Lena Oberdorf, que se lesionou com gravidade (a pandemia do LCA continua…). Contudo, continua a ser uma seleção extremamente equilibrada e competente, que promete lutar pelos lugares cimeiros do grupo, e até pela conquista do título Olímpico.

Ainda sem Sam Kerr, a seleção da Austrália apresenta-se um pouco mais desfalcada nesta competição. No entanto, permanece recheada de talento e competitividade, e tem capacidade para também disputar o apuramento. Jogadoras como Steph Catley, Ellie Carpenter, e Caitlin Foord serão essenciais para o sucesso da equipa.

Por fim, e esta claramente a “outsider” do grupo (se não mesmo da competição), a seleção da Zâmbia será a que terá mais dificuldades em impor o seu futebol, e em conquistar pontos suficientes para sonhar com o apuramento para a fase seguinte. Mas não podemos, nunca, subvalorizar uma seleção africana, pois se há algo que as caracteriza é a sua intensidade, a sua crença e a sua força física. Por outro lado, contam com Barbra Banda, uma avançada extremamente dotada e capaz de fazer golos “de toda a maneira e feitio”, e que promete dar trabalho às defesas adversárias.

No último grupo encontramos a atual campeã do mundo – a Espanha, dotada, mais uma vez, de um conjunto de jogadoras extremamente talentosas e competitivas. Realço, no entanto, o regresso de Patri Guijarro às convocadas, ela que foi uma das atletas que se afastou da seleção devido aos problemas que todos conhecemos, e das que maior relutância sempre mostrou em regressar, por querer “reais e profundas” mudanças na gestão da seleção feminina. Será este regresso um sinal inequívoco de uma mudança benéfica?! Só o tempo o dirá, mas a verdade é que a seleção espanhola continua a escrever uma importante página da história do futebol feminino mundial, e espera aqui acrescentar mais um título a essa história.

Por outro lado, o grupo é constituído por 2 das melhores (e históricas) seleções mundiais – o Japão e o Brasil, seleções que embora não tenham estado, nos anos mais recentes, ao nível a que nos habituaram (seja pela renovação efetuada a nível das jogadoras convocadas, seja reflexo do crescimento das restantes seleções a nível mundial), são sempre seleções que apresentam um nível futebolístico extremamente elevado, capazes de disputar qualquer jogo, contra qualquer seleção do mundo, encontrando-se, consequentemente, na corrida por qualquer título que se encontre a ser disputado.

Do lado do Japão realço a histórica Saki Kumagai, uma média tornada defesa, dotada de uma qualidade tremenda, e muito experiente, não só a nível de seleções, como a nível de clubes (campeã mundial pelo Japão, 5 vezes campeã da Liga dos Campeões, …). Do lado do Brasil, encontramos uma seleção recheada de “samba no pé”, onde não posso deixar de referir a super Marta, que disputará aqui talvez a sua última grande competição com a seleção brasileria, querendo, mais do que nunca, conquistar o troféu.

Aos 38 anos, esta é a sua última hipótese de liderar a sua seleção numa competição mundial de relevo, e conquistar um título, que tem sempre fugido ao Brasil. Finalmente, mas não menos importante, a seleção da Nigéria promete criar muitas dificuldades às “favoritas” do grupo. Uma seleção bem organizada, competitiva, agressiva e muito forte fisicamente, e que no último mundial demonstrou que entra em cada jogo com o intuito de o conquistar. A velocidade, experiência e qualidade de Asisat Oshoala serão essenciais para o sucesso de uma equipa onde também podemos encontrar Christy Ucheibe, jogadora do Benfica, ou Michelle Alozie, a experiente jogadora da equipa norte-americada Houston Dash.

Infelizmente, a seleção Portuguesa não conseguiu conquistar o apuramento para os Jogos Olímpicos de 2024, contudo, ficou perto, muito mais perto do que alguma vez tinha estado. Este é, certamente, mais um importante sinal do crescimento que se tem vindo a registar a nível do futebol praticado por mulheres (e meninas) em Portugal, um sinal que nos deixa ansiosos pelo futuro.

Vão ser 7 dias de grandes jogos, 7 dias recheados de futebol no feminino, 7 dias durante os quais qualquer adepto de futebol não quererá tirar os olhos da TV.

O calendário de jogos pode ser consultado aqui!


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