Jacksonville Jaguars: Transformação de David para Golias

Miguel Veloso MartinsOutubro 12, 20186min0

Jacksonville Jaguars: Transformação de David para Golias

Miguel Veloso MartinsOutubro 12, 20186min0
Até 2016, os Jacksonville Jaguars eram uma piada para NFL. Com o despedimento de Gus Bradley, os Jaguars rapidamente tornaram-se numa equipa rumo ao titulo.

20 de Novembro de 2016. Quando parecia que as coisas não podiam piorar para uma equipa com 7 derrotas e apenas 2 vitórias, os Jacksonville Jaguars preparavam-se para a sua 5ª derrota consecutiva. Numa época em que Jacksonville esperava um grande salto na qualidade da equipa, com aquisições de peso no mercado como Malik Jackson, Tashaun Gipson e Chris Ivory, e um dos melhores draft de que há registo, escolhendo Jalen Ramsey, Myles Jack e Yannick Ngakoue nas 3 primeiras rondas, vemos agora na sideline jogadores desmotivados, com alguns mesmo em lágrima, como é o caso de Jalen Ramsey, habituado a culturas vencedoras e que “aterrou” numa equipa onde ser medíocre é celebrado e premiado. Este foi o jogo que tornou óbvio que o treinador Gus Bradley iria perder o seu emprego em breve.

O treinador é apenas despedido um mês depois, no dia 18 de Dezembro, após uma derrota em casa dos Texans, onde os Jags tiveram a liderança durante a maior parte do jogo, mas deixaram-se perder pela sua falta de disciplina e playcalling minimamente decente. A responsabilidade de treinar a equipa nos últimos 2 jogos da época foi passada ao treinador assistente Doug Marrone, anteriormente treinador dos Buffalo Bills. Marrone conseguiu mais uma vitória para Jacksonville, terminando a época com 3 vitórias e 13 derrotas, o 4º pior resultado na liga.

 

Com os playoffs a decorrer e, como já habitual, com os Jaguars fora da conversa, o front office começa a procurar o treinador para próxima época, mantendo o discurso que o objetivo da equipa é “ganhar agora” e não entrar num processo de rebuild. Entre os principais candidatos estavam Marrone, Sean McVay, Kyle Shanahan, Josh McDaniels e o lendário treinador Tom Coughlin, que escolheu voltar ao franchise como executive vice president of football operations. No dia 9 de Janeiro de 2017, o general manager Dave Caldwell e o dono da equipa Shad Khan anunciaram que Doug Marrone iria voltar como treinador na próxima época, assim como a contratação de Tom Coughlin como EVPFO. Esta movimentação foi recebida com pouco entusiasmo pela maioria dos adeptos, não sendo a contratação revolucionária de que muitos estavam à espera. A equipa escolheu manter Todd Wash como defensive coordinator e Nathaniel Hackett como offensive coordinator, sendo que o último continua a ser uma das decisões mais criticadas pelos fãs da equipa. Apesar disto, o simples facto de Tom Coughlin, o homem que ajudou a construir o franchise em 1995, voltar com a promessa de um título para a cidade do Norte da Flórida gerou um interesse renovado nos Jaguars tanto da parte dos adeptos como dos media.

O retorno de Tom Coughlin simbolizou uma mudança cultural e uma forma mais tradicional de encarar os desafios dentro e fora de campo. Coughlin trouxe uma cultura em que a disciplina está acima de tudo, mentalidade esta que faltava à equipa após anos de Gus Bradley, um treinador conhecido por ser um players-coach. Doug Marrone, tal como Tom Coughlin, sempre foi um treinador tanto adorado como odiado pelos seus jogadores, tornando-o o treinador perfeito para trabalhar num regime liderado por Coughlin.

 

Quando o training camp da época de 2017 se inicia, começam a sentir-se as diferenças entre o regime de Bradley e o novo regime. Os treinos eram mais físicos e intensos do que para a maioria das equipas da NFL. O contacto físico e colisões entre jogadores eram aprovadas e incentivadas pelos treinadores com o objetivo de preparar a equipa para a intensidade de um jogo completo. O mesmo ocorria com a competição por lugares no plantel: pela primeira vez em muito tempo não haviam lugares garantidos. Se alguém não treinasse de forma intensa, iria perder repetições e, consequentemente, perderia relevância na equipa.

A temporada de 2017 arrancou com um “boom”, uma vitória esmagadora de 29-7 contra os Houston Texans. Rapidamente os Jaguars começaram a acumular vitórias e a solidificar o seu lugar como a melhor defesa da liga. Uma defesa com um plantel principal de sonho que dá pesadelos aos quarterbacks que cruzam o seu caminho, tanto pela sua defensive line, carregada de talento desde o veterano e candidato a MVP Calais Campbell, ao jogador de segundo ano Yannick Ngakoue, como pelos seus defensive backs como o duo de corners Jalen Ramsey e A.J. Bouye que, na sua primeira época em conjunto, arrecadaram elogios e estatuto como os melhores da liga na sua posição.

No dia 7 de Janeiro de 2018, os Jacksonville Jaguars voltam a jogar nos playoffs após 10 anos de espera, terminando a sua época ao perder na semifinal contra os New England Patriots, após ter estado em absoluto controlo do jogo durante 3 quartos.

 

Agora que o primeiro quarto da temporada de 2018 está terminado, podemos notar que os Jacksonville Jaguars já não são vistos pelos seus adversários como apenas uma paragem no calendário, apenas mais uma equipa para passar por cima. Os Jaguars são uma powerhouse, um candidato a vencer a Super Bowl e, por isso, é esperada uma consistência e imponência que muitas vezes desaparece, como foi o caso do jogo de domingo (7 de Outubro) contra os Kansas City Chiefs. O jogo contra os Chiefs foi um exemplo daquilo que não esperávamos da equipa este ano: uma equipa desorientada que mostrou pouca capacidade e vontade de se adaptar a um adversário que derrotou de forma imponente 2 equipas (LA Chargers e San Francisco 49ers) que utilizam um sistema defensivo semelhante ao dos Jags; um Blake Bortles que se esqueceu de como lançar a bola; e ambas as linhas que pioram consoante o tempo avança. Os únicos pontos positivos que podem ser apontados neste jogo são Jalen Ramsey, que foi perfeito, com exceção de ter permitido de uma grande jogada para Tyreek Hill; Dede Westbrook, que se mostrou um candidato a ser o target favorito de Bortles; e o kicker Josh Lambo, que todas as semanas se parece aproximar mais do sucesso de Josh Scobee com os Jags.

Os Jaguars são agora um “Golias” nos olhos da liga e são tratados como tal, mas para realmente serem donos desse titulo devem ganhar mais maturidade e disciplina, algo que é apenas possível com paciência e tempo de jogo. É assustador que, apesar de quase dois anos com o mesmo treinador e plantel, encontramos o mesmo problema que no passado atormentou a equipa de Duval, sendo que a solução está longe de ser encontrada. Tom Coughlin e Doug Marrone criaram as raízes para uma dinastia baseada em disciplina e cabeça fria, muito à semelhança daquilo que Belichick ajudou a criar em New England, mas se este conceito não sair do papel, nunca veremos o gigante que todos esperam.

DJ Chark celebra a vitória dos Jaguars contra New England na 2ª ronda da época (Foto: Jaguars.com)

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