A Importância do Retorno dos Playoffs no Hóquei em Patins
Apuramento do Campeão
Anunciado ontem pela Federação Portuguesa de Patinagem, a 1ª Divisão Portuguesa de hóquei em patins na temporada 2020/2021 irá ter para além das 2 voltas da fase regular habitual, playoffs de apuramento do campeão nacional que consistirá no seguinte formato:
Linha de Água ou de Afogamento?
A equipa que terminar a fase regular na linha de água (12º lugar) terá de continuar a lutar pela sobrevivência na 1ª Divisão numa liguilha a 3 que será disputada a 2 voltas (formato calendário – todos contra todos) com os 2ºs classificados da 2ª Divisão Norte e da 2ª Divisão Sul, sendo que só há espaço para 1 manutenção ou 1 subida de divisão. De destacar ainda que a temporada acaba de imediato para os 9º, 10º e 11º classificados da época regular que garantem assim a manutenção e também para os 13º e 14º classificados que descem automaticamente de divisão.
Reflexão geral sobre o retorno deste modelo competitivo
Desde a época 2008/2009 que assistimos a uma série de temporadas em que por época o número de jogos entre os 4 grandes não passava de 12 e para o ano para além de se manter este número durante a fase regular, ainda vão existir mais jogos nos playoffs onde vamos poder ver mais que uma vez grandes embates entre sharks, embates entre sharks e wanna be’s , embates entre sharks e underdogs e quem sabe ainda, embates entre wanna be’s e underdogs.
Por norma, o argumento geral contra os playoffs baseia-se no facto de a equipa que for mais consistente e trabalhadora durante a fase regular pode perder o mérito dos seus ganhos nos playoffs se for ultrapassada por uma equipa que tenha terminado abaixo na tabela classificativa e essa equipa que na fase regular teve um rendimento pior ou mais “desleixado” pode nos playoffs por vários fatores deitar abaixo todo o trabalho da equipa que foi mais consistente na fase regular e considero claramente um ponto de vista legítimo partindo do pressuposto que os playoffs podem premiar os “malandros” e prejudicar os mais virtuosos naquele espaço de tempo.
Contudo, e analisando sem filtros e ao máximo todo o panorama envolvente nesta matéria, o rendimento de uma equipa que termine acima de outra na tabela também se pode dever a uma série de fatores irreversíveis e injustos para a equipa que termina abaixo tais como a lesão de jogadores fulcrais na hora errada, o azar da ocorrência de uma ou outra derrota mais polémica ou mesmo a falta de recursos humanos ou financeiros de competir regularmente contra a equipa que tem esses recursos a toda a hora e, analisando bem, estes casos ocorrem com bastante frequência e em qualquer desporto e sem a existência de playoffs, estes “malandros” da fase regular podem ser vistos também como “vítimas”.
O prémio do fator casa
Em caso de haver um confronto nos playoffs entre 2 equipas teoricamente equilibradas, o fator casa pode ser determinante em qualquer eliminatória e a equipa que termina com uma classificação superior na fase regular é sempre justamente premiada com mais 1 jogo em casa em caso de desempate e num cenário em que um 4º classificado supera o 5º por míseros pontos ou mesmo por diferença de golos, esses fatores serão sempre justa ou injustamente premiados nas eliminatórias, mas ter mais jogos em casa é claramente um prémio para a equipa que obteve melhor rendimento durante a fase regular.
Aumento das receitas
Sabendo que o hóquei em patins é um desporto em que nem todos os clubes têm as mesmas possibilidades financeiras, a existência dos playoffs permite não só a um clube mais humilde, como também a um clube mais potente de gerar ainda mais receitas na época de playoffs, não só na bilheteira, como também nos direitos televisivos…e não falo só de embates entre os 4 grandes mas se repararmos, um jogo na fase regular entre um 1º e um 8º tem muito menos audiência que um outro jogo entre estas duas equipas numa eliminatória de playoffs.
A importância da Hora H
Mais uma vez combatendo o argumento da “regularidade”, eu acredito mesmo que uma equipa que termine no topo da tabela e que vença os playoffs tem o dobro do mérito da equipa que só consegue vencer na fase regular não só porque por muita polémica que haja, essa equipa consegue vencer 2 vezes e contra todo o tipo de adversários: os grandes, os médios e os pequenos e ficará na história para sempre vista para todos como uma verdadeira campeã e não uma duvidosa campeã para alguns e para aqueles que acham que um desporto como o hóquei em patins deve ser vivido como uma tarefa doméstica em que se faz com ou sem sucesso e depois se desliga…não! Para mim o hóquei é para ser vivido intensamente e repetidamente…só assim é que cria habituação, só assim é que mais pessoas podem sentir a emoção que é viver um grande jogo de hóquei em patins, só assim é que os adeptos se interessam em seguir atentamente as suas equipas (pelo menos naquele espaço de tempo)…só é possível com este “tudo ou nada” que os playoffs garantem.
Uma chance para os Underdogs e Wanna Be’s
Eu acredito mesmo que os desportos que geram mais emoções são os que se conservam mais ao longo do tempo, e histórias de Davides a vencer Golias no desporto são mais comuns do que possamos imaginar…e sempre que há uma história em que um não candidato supera um candidato é sempre algo que fica na memória das pessoas e que é falado e relembrado durante muito tempo e histórias como a do Leicester (2016) existem em menor quantidade em relação a histórias como a da Grécia (2004), a do Chelsea (2012) ou a do FC Porto (2004) e estas histórias têm maior probabilidade de acontecer existindo playoffs.
Algumas Histórias de Underdogs
Aumento da Emoção e da Polémica
É certo que os jogos de tudo ou nada são os que trazem mais espetadores e onde o espetáculo é mais sumarento e, por conseguinte, gera maior emoção em todos os envolventes e isso só pode trazer coisas boas ao desporto, acho que é um ponto unânime a todos os adeptos do hóquei.
Depois é provável que com a existência de mais grandes jogos e emoções à mistura que haja mais pressão sobre os árbitros e que os obrigue a tomar decisões em que uma equipa sairá mais beneficiada e outra mais lesada, é inevitável. E não estou a defender qualquer tipo de manobras subterrâneas que supostamente acontecem noutros desportos seja benéfico para o hóquei, mas defendo que jogos polémicos trazem com eles uma panóplia de emoções que geram mais debate no pré jogo, durante o jogo, no pós jogo, nos balneários, no café da esquina, nas redes sociais…e é algo com que o hóquei em patins pode beneficiar bastante para o seu crescimento no geral.