Idoneidade (no judo português)

“Qualidade da pessoa apta a desempenhar funções, cargos ou trabalhos; habilidade, capacidade, aptidão, competência. “ Por iniciativa de vários grupos parlamentares, o Judo esteve em discussão no Parlamento português, lamentavelmente, pelas piores razões. Foram dois dias de audiências, ao grupo de atletas que subscreveu a carta aberta, encabeçado por Telma Monteiro, ao Ex-presidente da Federação Portuguesa de Judo (FPJ), Jorge Fernandes, ao Presidente do Comité Olímpico Português, José Manuel Constantino, ao Presidente do Instituto Português do Desporto e Juventude, Vítor Pataco e ao Secretário de Estado da Juventude e do Desporto, João Paulo Correia.

Ficámos a saber que a Federação Portuguesa de Judo (FPJ) é gerida com práticas pouco recomendáveis, com todo o respeito, ao nível de uma banca de uma qualquer feira de Domingo. Não vou analisar ao detalhe o conteúdo do que foi debatido que, na minha opinião, é grave e muito preocupante, nem fazer juízos de valor. As audições são publicas e estão disponíveis no canal parlamento. Deixo essa análise e respetivas conclusões para o leitor.

Estado da Nação

Depois de toda a turbulência, parece que se fez luz e serão respeitados os estatutos da FPJ, conforme a sentença proferida pelo Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa Norte, no seguimento da providencia cautelar intentada pela Associação Distrital de Judo de Castelo Branco. Assim, o órgão presidente, e só este, será objeto de sufrágio no próximo dia 29 de abril. Apresentaram-se dois candidatos; Lista A, com o candidato Joaquim Sérgio Pina, atual vice-presidente da FPJ, e Lista B, cujo candidato é Mário Cachada, candidato a presidente da lista Nova Alternativa.

Se a candidatura de Sérgio Pina é natural, pois é o atual Vice-presidente, e pode contar, à partida, com o apoio da direção em funções e restantes órgãos da FPJ, a candidatura de Mário Cachada é, no mínimo, curiosa, pois na remota hipótese de ser eleito, é público que a maioria dos delegados apoiam o atual elenco federativo e o candidato da lista A.

Seria interessante ver como seria gerida a FPJ com um presidente não alinhado, líder da lista que tentou concorrer contra Jorge Fernandes, a “Judo-Nova Alternativa”. Fica registada a sua coragem e audácia, podia perfeitamente ter optado por ficar confortavelmente quieto a observar o que acontecia e apostar em força no ciclo eleitoral que acontecerá em 2024. Dia 29 de Abril teremos novidades….

Março a todo o Gás

Apesar de toda a instabilidade que o Judo Português enfrenta, e do impacto que já está a ter na equipa que integra o projeto olímpico, o circuito mundial continua e as etapas sucedem-se a grande ritmo. Em março tivemos Grand Slam de Tachkent, Tbilisi e Antalya. A proximidade dos campeonatos do Mundo de Doha, justificam este frenesim.

No que respeita à participação portuguesa, Catarina Costa e Patrícia Sampaio são as atletas em destaque no mês de março.

Patrícia Sampaio, que em 2021 teve de se aplicar a fundo, desta vez fora dos tapetes, para recuperar de uma série de lesões que a afastaram do circuito durante um longo período, arrancou em 2023 com um conjunto de resultados muito consistente e, em março, chegou ao pódio por duas vezes, com os bronzes conquistados em Tachkent e Antalya.

Catarina Costa, que participou logo no início do mês no Grand Slam de Tachkent, conquistou um brilhante segundo lugar, onde conseguiu demonstrar o seu enorme valor, capacidade de trabalho e de superação.

De resto, destaco a aposta em João Fernando, Maria Siderot, Raquel Brito e Joana Crisóstomo, pois temos de pensar o judo de alto nível além Paris 2024, com os dois primeiros numa excelente posição de poder sonhar desde já com Paris.

No registo negativo, o dececionante arranque de Anri Egutidze, agora que regressou aos 81Kg e a falta de consistência de Rodrigo Lopes, que lhe poderá custar uma presença no Jogos de Paris, depois de ter falhado Tóquio por muito pouco. No campo das preocupações, a sequência de lesões do supercampeão Jorge Fonseca, tal como a situação de Rochele Nunes e Telma Monteiro, que vieram do Grand Slam de Antalya lesionadas e muito condicionadas, o que poderá constituir um enorme desfalque na nossa representação.

Caso a qualificação terminasse hoje- mas atenção para não cairmos em euforia pois há um longo e difícil caminho a percorrer e os pontos amealhados nestas etapas só a partir de junho contam a 100%, o que terá um enorme impacto no ranking de qualificação Olímpica-Portugal teria qualificados 8 Judocas para os Jogos de Paris.

Campeonatos Nacionais de equipas

Para terminar, em jeito de desabafo, partilho o meu desalento e preocupação em verificar que os campeonatos de equipas, provas únicas e sempre muito emocionantes, têm contado, reiteradamente, nos últimos anos, com a participação de equipas compostas por atletas estrangeiros, que se deslocam ao nosso país para disputar unicamente estas provas. Também constato que temos assistido à participação de equipas compostas com recurso a atletas de outros clubes nacionais.

Se por um lado aceito que é importante que os atletas passem por uma experiência destas, que tenham a oportunidade de disputar uma competição com esta atmosfera, emoção, nem que para isso tenham de representar um clube diferente do seu, por outro, questiono se não estaremos a canibalizar futuros talentos, especialmente quando constato o uso desta prática em escalões de formação, como, por exemplo, o escalão de cadetes. Temo que se esteja a procurar os resultados a qualquer preço, a procurar o protagonismo, a fantástica publicação nas redes sociais, em detrimento da formação e da construção de uma base sólida de praticantes. No final, com uma equipa com 2 ou 3 elementos oriundos de outros clubes ou países, quem será o legitimo vencedor? Não estaremos a desvirtuar a realidade?