Um Benfica decepcionante que está fora da corrida

José NevesFevereiro 21, 20198min0

Um Benfica decepcionante que está fora da corrida

José NevesFevereiro 21, 20198min0
Tem sido um Benfica decepcionante aquele que se tem apresentado no Campeonato Nacional da 1ª Divisão. Mas o que tem falhado nas águias esta temporada?

Após dois segundos lugares consecutivos nas últimas duas épocas, os responsáveis do Benfica procuravam em 2018-19 voltar ao lugar mais alto do hóquei em patins nacional, mas com ainda nove partidas por disputar é seguro dizer que o Benfica é o primeiro dos candidatos a ficar fora da corrida pelo título.

Com 10 pontos de atraso para a dupla Oliveirense e Sporting, e 11 para o líder Porto, a equipa liderada pelo argentino Alejandro Dominguez tem agora uma inesperada batalha pela qualificação para a Liga Europeia, uma vez que logo na 5ª posição aparece um OC Barcelos a apenas 1 ponto das águias. Um cenário impensável no início da época para a turma encarnada.

Indefinição no banco e perda de peça importante

A época dos encarnados não começou da melhor maneira, havendo desde o primeiro dia uma enorme indefinição sobre quem seria o treinador para a temporada de 2018-19. O contrato que ligava Pedro Nunes ao Benfica terminou no dia 30 de Junho de 2018, e durante 10 dias nenhum técnico esteve contratualmente ligado às águias. Até ao dia 10 de Julho de 2018, data em que o Benfica anunciou oficialmente… a renovação de Pedro Nunes.

Numa altura em que parecia certa a intenção dos responsáveis encarnados em iniciar a época com novo timoneiro, até porque se não fosse essa a intenção, de certo que teriam acertado a renovação do seu então treinador bem mais cedo, a decisão de renovar com Pedro Nunes 10 dias após este ter terminado o contrato com o Benfica foi confusa, e deixou bastantes interrogações no ar. E num balneário longe de passar os seus melhores dias, agravado com a perda de um dos seus grandes líderes, a forma como todo o processo foi conduzido pelos dirigentes benfiquistas pode ter deixado marcas.

E se é verdade que para a presente temporada o Benfica se reforçou com um dos maiores jogadores do hóquei em patins mundial, Lucas Ordoñez, também é verdade que um dos elementos mais importantes da história recente do clube fez o caminho inverso. João Rodrigues foi ameaça a qualquer guarda-redes que enfrentou em Portugal, e prova disso foram a quantidade de golos que apontou de águia ao peito.

Apesar das inúmeras qualidades do reforço argentino, a verdade é que Ordoñez não é um avançado de características semelhantes às de João Rodrigues, sendo um jogador capaz de criar desequilíbrios com a sua velocidade e capacidade técnica acima da média, ao invés de Rodrigues que era o avançado interior, de último toque, letal actuando dentro da área adversária e marcando vários golos em desvios ou bolas perdidas nas imediações da baliza.

Ficou desde logo esclarecido que, e caso Pedro Nunes não efectuasse qualquer alteração na forma de jogar da sua equipa, seria Jordi Adroher a desempenhar a função de João Rodrigues como jogador de referência ofensiva. E na verdade, o jogador espanhol foi titular em todas as partidas que efectuou para o campeonato sob as ordens do técnico português, tendo o reforço Ordoñez saído do banco em todas as mesmas partidas. Um cenário que mudaria após a troca no banco.

Um novo treinador que tarda em afirma-se

Com a chegada de Alejandro Dominguez foi possível observar algumas alterações na forma de jogar da equipa do Benfica, desde logo com a maior utilização da dupla criativa Nicolia/Ordoñez, sendo Adroher relegado para o banco de suplentes. Foi também possível observar, nos recentes jogos dos encarnados frente a rivais directos, uma maior organização defensiva, e um Benfica a permitir menos espaço em ataques organizados dos adversários, assim como uma maior agressividade defensiva de elementos que outrora abordavam vários lances de forma passiva. Uma clara melhoria neste aspecto defensivo do jogo que foi o calcanhar de aquiles do Benfica de Pedro Nunes. Mas se na meia pista defensiva as coisas pareciam estar a melhorar, o mesmo não se podia dizer do processo ofensivo.

Uma equipa muito dependente de Lucas Ordoñez, algo que ficou ainda mais evidente com a recente lesão de Carlos Nicolia, e facilmente anulável pelas defensivas adversárias. Uma situação que conheceu o seu expoente máximo no jogo frente ao Sporting, realizado no pavilhão da Luz, em que o Benfica beneficiou de um período de 11 minutos consecutivos de powerplay, sem ter criado qualquer chance de real perigo à baliza então defendida por Zé Diogo Macedo, sendo que as melhores ocasiões de golo nesse período surgiram mesmo pelo Sporting, equipa que jogava em inferioridade numérica.

Olhando para os números, o Benfica apresenta uma queda na média de golos marcados desde a troca de técnico. O Benfica de Pedro Nunes marcou, em média, 4,4 golos por jogo, já o Benfica de Dominguez apenas marca 3,2 golos por partida.

Alejandro Dominguez não está a ter um início fácil em Portugal (Foto: SL Benfica)

Um plantel de 10, onde só contam 7

Um dos pontos onde se levantaram maiores questões sobre a gestão de Pedro Nunes era relativamente à rotação da equipa durante as partidas, uma vez que Miguel Rocha e Vieirinha eram inúmeras vezes jogadores não utilizados pelo treinador português. Um cenário que se voltou a verificar com o técnico argentino Alejandro Dominguez.

Que Marco Barros tenha um tempo de utilização quase nulo é compreensível, uma vez que o experiente guardião ex.Turquel foi contratado para a posição de guarda-redes suplente, que Rocha e Vieirinha sejam invariavelmente preteridos é surpreendente, principalmente durante a era de Pedro Nunes, uma vez que foi o treinador português a construir o plantel.

Miguel Rocha não é estranho a ser o último elemento da rotação encarnada, tendo esse papel à já várias épocas. Dono de uma forte meia distância, o jogador português poderia ter uma maior utilização para explorar essa vertente do jogo, principalmente em situações de powerplay onde mais espaço terá para armar a stickada. No jogo frente ao Sporting, onde o Benfica jogou com mais um elemento durante 11 minutos, Miguel Rocha, ea sua forte meia distância, não foram opção para Alejandro Dominguez.

Miguel Vieira, ou Vieirinha, foi contratado no início da época anterior como uma das maiores promessas do hóquei português. Vindo de algumas épocas em grande nível no OC Barcelos, o jovem defesa/médio era visto por muitos como o natural sucessor de Valter Neves, mas o escasso tempo de jogo tem sido um enorme entrave ao seu desenvolvimento. Nas seis partidas que o emblema da águia realizou frente a adversários directos na luta pelo título, Vieirinha foi somente utilizado no empate caseiro diante da Oliveirense, num jogo em que o Benfica não contou com Diogo Rafael e Carlos Nicolia, ambos de fora por lesão.

Comparativamente aos três principais rivais, o Benfica é aquele que menos rotação faz da equipa em jogos grandes. Sendo que por mais do que uma ocasião, jogadores das águias completaram a totalidade dos 50 minutos de clássicos, algo que não se verifica quer em FC Porto, Sporting CP, ou UD Oliveirense.

Casanovas, o especialista em GP que tem das piores percentagens do campeonato

Albert Casanovas não é estranho ao nosso campeonato, tendo representado a Oliveirense durante duas temporadas. Em 2018-19 o internacional espanhol foi reforço do Benfica, pretendendo os encarnados com este reforço melhorar o seu processo defensivo e substituir João Rodrigues como o principal marcador de grandes penalidades.

No primeiro aspecto Casanovas não acrescentou muito ao Benfica, sendo que foi mais recentemente com a chegada do Alejandro Dominguez, seu seleccionador no triunfo da “Roja” no Europeu de 2018 e no Mundial de 2017, que o espanhol mais se destacou na meia pista defensiva. No outro aspecto para o qual Casanovas foi aposta, o desempenho dificilmente podia ser pior.

Tido como um dos melhores batedores de grandes penalidades do Mundo do hóquei, Albert Casanovas tem apenas 1 golo em 7 GP tentadas, sendo 19º em 20 jogadores do nosso campeonato com um mínimo de 4 grandes penalidades batidas, com uma taxa de sucesso de apenas 14%.

Uma vez que Casanovas é o único jogador do plantel benfiquista a ter batido grandes penalidades, a percentagem de 14% deixa o Benfica na última posição na tabela colectiva, estando já a alguma distância da segunda pior formação do campeonato neste tipo de lances, o HC Turquel que fez golo em 25% das grandes penalidades que lhe foram assinaladas.

Um número preocupante, pela qualidade que o jogador revelou na carreira nesta tipologia de lances, e pela importância que as bolas paradas têm no hóquei em patins actual.

Albert Casanovas não está a ter o impacto esperado (Foto: SL Benfica)

Com o Benfica fora das contas do campeonato, resta à turma encarnada a Liga Europeia e a Taça de Portugal para salvar o que resta da época 2018-19. Na primeira competição o Benfica já venceu o seu grupo com uma jornada ainda por disputar, esperando por Oliveirense ou Follonica nos quartos de final. Na segunda, os encarnados terão nos 16/avos de final uma deslocação ao terreno do SC Torres do 3º escalão do hóquei nacional.

No que diz respeito ao campeonato nacional, resta ao Benfica segurar a 4ª posição, e respectiva qualificação para a Liga Europeia, e em 2019-20, com um plantel idealizado por Alejandro Dominguez e uma pré-época feita pelo técnico argentino, esperar por melhores resultados e exibições mais convincentes.


Entre na discussão


Quem somos

É com Fair Play que pretendemos trazer uma diversificada panóplia de assuntos e temas. A análise ao detalhe que definiu o jogo; a perspectiva histórica que faz sentido enquadrar; a equipa que tacticamente tem subjugado os seus concorrentes; a individualidade que teima em não deixar de brilhar – é tudo disso que é feito o Fair Play. Que o leitor poderá e deverá não só ler e acompanhar, mas dele participar, através do comentário, fomentando, assim, ainda mais o debate e a partilha.


CONTACTE-NOS