Taça 1947: Uma competição certa no ano errado
Já há alguns anos que várias equipas, nomeadamente os candidatos ao título, pedem um maior número de jogos ao longo da época, um pedido que foi acedido pela federação este ano, com a implementação dos playoffs, e a criação da Taça 1947.
Jogada nos mesmos moldes da Copa del Rey (Espanha) e da Coppa Italia, junta no mesmo local (no Pavilhão do Luso, na Mealhada) os oito primeiros do campeonato ao final da primeira volta, que no espaço de cinco dias realizam três eliminatórias (quartos de final, meias finais e final), com a única condicionante dos dois primeiros classificados do campeonato ficarem em partes opostas do quadro, e serem considerados como cabeças-de-série.
A ideia é interessante, dá a possibilidade a oito equipas da primeira divisão de disputar uma taça, antes de iniciarem a sua participação na Taça de Portugal, dá às equipas grandes a chance de enriquecerem o seu palmarés com mais um título, e dá mais um foco de visibilidade ao hóquei em patins, com transmissão televisiva garantida para todos os 7 jogos da prova.
Para além disso, a homenagem aos primeiros campeões do Mundo do hóquei português, que conquistaram o Mundo do hóquei em 1947, é merecidíssima, e mais uma razão para que o prestígio e o interesse na prova seja elevado, e leve esta taça a ter no longo prazo um lugar de cada vez maior destaque no panorama do hóquei em patins nacional.
No papel tudo é perfeito, na realidade nem por isso. A primeira edição da prova fica marcada pelo estado de pandemia que vivemos, se esta prova tinha todos os ingredientes para ser uma festa do hóquei, com o público a aceder ao pavilhão para assistir às oito melhores equipas nacionais, na realidade não terá, porque todos os jogos se disputam à porta fechada… e porque não vão estar no Luso as oito melhores equipas nacionais.
A poucos dias do início da prova, vários casos de covid-19 no plantel do FC Porto obrigaram a equipa de Guillem Cabestany a abdicar da presença na prova. Um dos cabeça de cartaz, candidato à vitória na competição, viu-se assim arredado dessa possibilidade.
Para além disso, uma prova que marca o ponto intermédio do campeonato nacional, jogada após o término da primeira volta, vai realmente ser jogada antes da primeira volta do campeonato efectivamente acabar.
Isto porque, das 14 equipas que compõem o Campeonato Nacional da 1ª Divisão, apenas duas (SC Tomar e Riba D’Ave HC) têm os 13 jogos já realizados. Todas as outras formações contam com jogos em atraso, sendo que seis delas têm mais do que uma partida por realizar. FC Porto, AD Valongo e HC Turquel têm dois jogos em atraso, SL Benfica, AD Sanjoanense e Famalicense AC têm três.
Um total de 11 partidas referentes à primeira volta, mais de 10% desta, que ainda não se realizaram e estes jogos podem alterar a classificação do campeonato e, consequentemente, o alinhamento das equipas presentes em prova.
Tudo isto leva a que esta nova competição do hóquei em patins português, na sua primeira edição, fique marcada negativamente pelos efeitos da pandemia. Numa época 20/21 de enorme incerteza, em que as competições europeias de clubes ainda não arrancaram, e não se sabe se, quando, e em que moldes irão ser disputadas. Em que os campeonatos nacionais da 2ª e 3ª divisões estão parados. Em que no feminino ainda não tenha terminado a primeira fase, quando já era suposto estar em andamento a segunda fase do campeonato nacional. E em que na formação a bola não role desde Março.
O timing do aparecimento da Taça 1947 não é o melhor, uma prova que tem tudo para ser um enorme sucesso no futuro, mas que poderia ter ficado na gaveta por mais um ano.
(Foto de capa: Catarina Maria/ FPP)