O aumento de situações de bola parada no campeonato da 1ª Divisão
As primeiras oito jornadas do campeonato da 1ª Divisão Nacional já nos trouxeram grandes jogos e grandes golos, mas trouxeram também algo mais, já notado pelos adeptos atentos da modalidade, mais situações de bola parada, nomeadamente livres diretos.
Desde a introdução das fichas de jogo eletrónicas por parte da FPP (2017/18), que esta tem sido em média, para já, a época com mais cartões azuis exibidos, e com mais situações de bola parada no geral, particularmente de livre direto.
E basta um rápido analisar dos números nos outros dois grandes campeonatos europeus de hóquei em patins, OK Liga espanhola e Serie A1 italiana, para chegar à conclusão que este elevado número de bolas paradas não se deve às regras atuais da modalidade.
Os números de cada campeonato
Olhando para os números do campeonato português, utilizando as fichas de jogo eletrónicas, e com a preciosa ajuda do site hoqueipatins.pt, reparamos que, ainda não estando completadas oito jornadas, já saíram do bolso dos árbitros 189 cartões azuis nos 55 encontros disputados, isto apenas para jogadores e excluindo qualquer cartão mostrado a treinadores, o que perfaz uma média de 3,4 cartões azuis por jogo.
Comparativamente a Espanha e Itália, no capítulo disciplinar, o campeonato português destaca-se como o mais indisciplinado. Na OK Liga, com mais uma partida realizada (56) foram 114 os cartões azuis exibidos, numa média de cerca de 2 por jogo. Já em Itália a média é ligeiramente inferior, com 64 cartões mostrados em 35 jogos, uma média de 1,8 por jogo.
Com mais cartões a sair dos bolsos dos juízes das partidas vêm, consequentemente, mais bolas paradas, e nesses números Portugal ganha de goleada.
Em Portugal já foram apontadas nesta edição do campeonato 354 bolas paradas, numa média de quase 6,5 situações de bola parada por encontro. Um número consideravelmente superior ao da fase regular da época passada, onde a média de bolas paradas por jogo foi de 4,8.
No país vizinho, em 2021/22, os 56 jogos já disputados deram um total de 244 bolas paradas, menos 110 do que na nossa 1ª Divisão, o que resulta numa média de 4,4 bolas paradas por partida. Em Itália os números são bem mais baixos do que por cá, com um total de 119 bolas paradas em 35 jogos, e uma média de apenas 3,4 por jogo.
Das sete jornadas já completadas da 1ª Divisão portuguesa, três ultrapassaram a barreira das 50 bolas paradas, a jornada 5 (56), a jornada 3 (55), e a jornada 6 (52). Sendo que apenas uma ronda do campeonato ficou abaixo das 40, a jornada 4 que contabilizou “apenas” 32 situações de bola parada.
A incompleta jornada 8, da qual falta disputar o AD Valongo x SC Tomar, conta para já com 34 bolas paradas assinaladas, podendo ser apenas a segunda ronda esta temporada a ficar abaixo das 40 situações de bola parada.
O aumento significativo dos livres diretos
É nos livres diretos que os números aumentam quando comparados com a OK Liga, a Série A1, e a 1ª Divisão Portuguesa da época passada.
Nos 55 jogos realizados foram já marcados 272 livres diretos, numa média de 5 por jogo. Uma impressionante média quando comparada com a da fase regular da época transata, onde se marcaram 3,3 livres diretos por jogo.
Voltando a comparar os números portugueses com os de lá fora, a diferença é arrebatadora. Em Espanha registam-se 170 livres diretos, e uma média de 3 por jogo. Em Itália foram marcados apenas 80 livres diretos, numa média de 2,3 por encontro.
Nas grandes penalidades a diferença é bem menor, ainda que volte a ser em Portugal que este tipo de lance seja mais comum.
São 82 as grandes penalidades já assinaladas, numa média de 1,5 por jogo, igual à da temporada 20/21. Em Espanha a média é de 1,3 grandes penalidades por encontro, e em Itália de 1,1.
Chegando-se assim à conclusão que os livres diretos, e a maior facilidade com que os cartões são mostrados, são de facto a maior diferença deste campeonato, não só para os de Espanha e Itália, mas também para o português da época anterior.
Jogos com maior número de bolas paradas têm sido recorrentes nas últimas semanas, com o AD Sanjoanense x A Juventude de Viana da 3ª jornada a ser, para já, o “recordista” com um total de 15 bolas paradas assinaladas, seguido do clássico entre FC Porto e Sporting CP com 13.
Números bem altos que deixam no ar algumas questões.
Será que as situações de bola parada ajudam a fazer do nosso, o melhor campeonato do Mundo?
Este tipo de lances melhoram o espetáculo de um jogo de hóquei em patins para os adeptos/espectadores?
Serão estes números elevados responsabilidade de uma maior agressividade dos jogadores, fruto também de jogos cada vez mais competitivos?
Serão a maioria das equipas de arbitragem portuguesas menos competentes na gestão de uma partida de hóquei em patins, do que equipas de arbitragem espanholas e italianas?
Sendo as equipas de arbitragem as mesmas da temporada passada, a que se deve o súbito aumento de cartões e bolas paradas nesta época?
Estas questões e as suas possíveis respostas, já passaram, seguramente, pela mente dos adeptos da modalidade no início desta temporada, principalmente daqueles que assistiram ao vivo aos vários jogos desta época que foram verdadeiros concursos de bolas paradas.
E, fomentando a discussão sobre esta temática, fechamos o artigo com a mesma questão com que iniciámos. O maior número de situações de bola parada vem beneficiar o espetáculo do “Melhor Campeonato do Mundo”?
(Foto de Capa: Afonso Ferraz / FPP)