Poderá um novo modelo competitivo melhorar o melhor campeonato do Mundo?
Com o final de mais uma época desportiva um dos principais tópicos de discussão no meio hoquístico volta a ser o da possível mudança do modelo competitivo daquele que é para muitos o melhor campeonato do Mundo. Em épocas recentes várias equipas se manifestaram a favor da introdução de uma segunda fase, tendo o tema sido mesmo discutido em reunião entre a federação e os clubes do primeiro escalão.
No final da temporada passada tudo parecia certo que em 2018-19 o campeonato fosse realizado com uma segunda fase, com os seis primeiros classificados a lutar pelo título de campeão nacional, e as restantes oito formações a batalharem pela fuga aos lugares de despromoção. Alguns candidatos ao título apetrecharam-se de sobremaneira para aquela que iria ser uma época mais longa que o habitual, formando plantéis com um maior numero de opções, mas antes do início da temporada o projecto da segunda fase caiu, e acabamos por assistir a um campeonato idêntico ao de épocas anteriores, caindo apenas a regra do sorteio condicionado.
Com mais uma época a ser preparada é altura de voltar a discutir qual o melhor formato de competição para que o campeonato de hóquei por muitos apelidado de melhor do Mundo, dê um passo em frente no que à qualidade do espectáculo diz respeito.
O cenário de playoff, ao estilo norte-americano, é um dos que mais adeptos reúne entre os aficionados da modalidade, não só em Portugal, como em Itália, onde o campeonato é à várias épocas decidido neste formato, e em Espanha, que a partir desta próxima época voltará a ser disputado desta forma.
No caso italiano o playoff é visto, tal como nos desportos americanos, como uma maneira mais espectacular de decidir um campeonato equilibrado, sendo que nas últimas épocas o playoff se iniciou com cinco ou seis formações com reais chances de chegar ao título de campeão. Este formato dá uma maior imprevisibilidade à corrida pelo título, algo visto por muitos como um elemento que aumenta a qualidade do espectáculo.
Em Espanha, o playoff será implementado na próxima época mas por motivos contrários. No país vizinho o domínio do Barcelona é evidente, e este formato surge com o objectivo de tornar um campeonato monótono e em várias ocasiões decidido e celebrado pela turma blaugrana a algumas jornadas do fim, num campeonato decidido até à derradeira partida, mesmo que o campeão acabe por ser na mesma o gigante catalão.
No caso português o playoff não é uma novidade, entre as épocas de 2006-07 e 2008-09, o campeonato português, então com semelhanças ao que hoje acontece em Espanha, foi decidido neste formato de forma a aumentar a concorrência a um super FC Porto, que então caminhava para um histórico deca-campeonato. Nas três épocas em que o campeonato foi decidido desta forma, o FC Porto acabou por vencer os três títulos, batendo na final o SL Benfica nas duas primeiras épocas, e a Juventude de Viana na terceira.
Nas três finais, então decididas à melhor de 5 jogos, os dragões somaram apenas duas derrotas, uma frente o Benfica em 2007-08, e outra frente à Juventude de Viana na última época em que o campeonato português foi decidido desta forma.
Desta vez, e mais de uma década volvida, o caso português assemelha-se mais ao italiano. Com quatro declarados candidatos ao título, e um OC Barcelos, crónico 5º classificado, com argumentos para se bater com qualquer um do top4, um playoff viria não só aumentar a imprevisibilidade quanto ao campeão, como trazer mais espectáculo aos pavilhões, e às transmissões televisivas.
Não esquecer ainda outras formações como Paço de Arcos, Valongo, Braga ou Turquel, que são historicamente adversários complicados para os grandes. Se nesta temporada que terminou estivesse já implementado um formato de playoff a 8 equipas, a primeira ronda traria não só um Benfica x Barcelos, como um Sporting x Paço de Arcos, e é bom lembrar que esta época a turma da linha venceu os dois jogos frente aos leões.
Perante tudo isto, fica neste artigo uma sugestão quanto a um possível formato que não só iria de encontro à vontade de grande parte das equipas e dos adeptos de uma época desportiva mais longa, como poderia acabar por trazer mais receitas aos clubes e federação, e poderia ainda levar a que jovens jogadores portugueses ganhassem tempo de jogo numa 1ª divisão onde há cada vez mais jogadores oriundos do estrangeiro.
Começo por dizer que partilho da opinião de quem defende que 26 jogos são poucos para um campeonato com a qualidade individual e colectiva que o português possui actualmente.
Comparativamente a outras modalidades de pavilhão como o futsal e o basquetebol, cujos campeonatos terminaram recentemente, o campeão nacional de hóquei em patins (FC Porto) realizou menos 10 partidas que o campeão de futsal (SL Benfica), e menos 16 que o vencedor do campeonato de basquetebol (UD Oliveirense).
Quanto à duração da prova, o campeonato de hóquei em patins disputou-se durante cerca de 7 meses, enquanto que os de futsal e basquetebol tiveram uma duração de cerca de 9 meses.
Para que o número de partidas de cada equipa fosse aumentado, neste cenário que irei apresentar o campeonato deixava de ser disputado por 14 equipas, sendo aumentado para as 16.
Actualmente na 2ª divisão temos equipas de grande qualidade, com jogadores que à não muito tempo passaram por equipas da 1ª divisão, em alguns casos até jogadores que passaram por candidatos ao título, e têm títulos nacionais no seu palmares.
Só na zona sul do segundo escalão temos, para já, um Tomar com um plantel na teoria tão bom ou melhor do que algumas formações do escalão maior, que conta com um João Sardo que em 2016-17 fez parte do plantel do Benfica, e com um Ruben Sousa que nas últimas épocas foi peça importante no sucesso europeu do Barcelos.
Para além deste Tomar, temos um Oeiras que perdeu as suas duas referências mas deverá manter todo o restante plantel que esta época disputou a 1ª divisão, temos um Alenquer que conta com um jogador (Marinho) que à 3 anos era o principal artilheiro do campeonato italiano, e uma Candelária e Biblioteca que para a próxima temporada contrataram jogadores várias vezes titulares na 1ª divisão nas últimas duas épocas.
E isto apenas na zona sul, em 2019-20 poderemos vir a ter um dos campeonatos da 2ª divisão mais fortes de sempre, fazendo todo o sentido premiar duas destas equipas da 2ª divisão com um lugar no primeiro escalão.
Deste campeonato com 16 equipas, e começando pelo fundo da tabela, teríamos duas despromoções directas (15º e 16º), e duas formações (13º e 14º) a disputar um playoff a duas mãos frente aos segundos classificados da 2ª divisão, aí os dois conjuntos da 1ª divisão lutariam para evitar a despromoção, sendo que os vice-campeões do segundo escalão teriam a derradeira oportunidade de promoção, sendo que para a conseguirem teriam de mostrar merecer o lugar na principal divisão, batendo uma formação primodivisionária por esse lugar.
Todas as restantes equipas (1º-12º) disputariam o playoff final do campeonato.
À semelhança do que esta época será implementado em Espanha, a primeira ronda do playoff daria folga aos primeiros classificados do campeonato. Na OK Liga espanhola os 10 primeiros classificados disputam o playoff, sendo que na primeira ronda as equipas classificadas entre o 7º e o 10º lugares fazem uma espécie de pré-eliminatória de onde sairão os adversários de 1º e 2º da fase regular.
Neste cenário aqui apresentado para o campeonato português, algo idêntico aconteceria. Na primeira ronda do playoff os quatro primeiros classificados da fase regular ficariam de fora, esperando os adversários que sairiam de uma primeira ronda, à melhor de 3 jogos, e que iria opor os classificados entre a 5º e a 12º posições (5ºx12º, 6ºx11º, 7ºx10º, 8ºx9º).
Na segunda ronda do playoff os top4 entrariam então em ação defrontando os vencedores da ronda anterior à melhor de 3 partidas. O campeão da fase regular enfrentaria o vencedor da eliminatória que opunha 8º e 9º classificados, o segundo classificado mediria forças com 7º ou 10º, o terceiro disputava o acesso às meias-finais contra 6º ou 11º, e o quarto classificado da primeira fase teria como adversário 5º ou 12º.
As meias-finais, e a final do campeonato seriam disputadas à melhor de 5, com a perspectiva de embates entre os quatro grandes do hóquei português (FC Porto, UD Oliveirense, Sporting CP e SL Benfica), mas nunca pondo de parte a possibilidade de outros emblemas que numa eliminatória à melhor de três partidas, e até beneficiando de uma época menos positiva de um dos grandes, pudessem causar surpresa e chegar a fases mais adiantadas da prova.
Este cenário faria com que grande parte das equipas aumentasse o número de jogos a disputar ao longo da época, iria de encontro ao que alguns dos emblemas maiores da modalidade, nomeadamente Sporting e Benfica, praticaram em 2018-19, e aparentemente vão voltar a praticar na próxima época, com a formação de plantéis acima do habitual número de 10 atletas, e daria a oportunidade para que os emblemas não-profissionais dessem minutos na 1ª divisão aos melhores elementos da sua formação de forma a gerir o plantel para uma época mais longa, podendo o recém criado campeonato de sub23, que terá em 2019-20 a sua primeira edição, servir para que vários jovens mostrem o seu valor, e ganhem o seu espaço nos vários plantéis seniores dos clubes da 1ª divisão.
Para já não existe qualquer plano oficial publico que indique uma mudança de formato do campeonato para 2019-20, sendo que este cenário é apenas uma sugestão, acima de tudo, de um adepto da modalidade que gostaria de assistir a cada vez mais e melhor hóquei, a um campeonato ainda mais emocionante e espectacular, e a uma modalidade cada vez mais mediática no meio desportivo pelas melhores razões no futuro. E neste momento não há melhor razão para publicitar a modalidade que os grandes jogadores que jogam no nosso país, os jogos que são verdadeiros hinos ao desporto, e um campeonato cada vez mais competitivo e com maior imprevisibilidade.
Concluindo, e respondendo directamente à pergunta que é feita no título, sim, é possível melhorar este grande campeonato com uma mudança no modelo competitivo, se essa mudança trouxer ainda mais incerteza quanto ao resultado final do campeonato, e, fruto dessa incerteza, um espectáculo desportivo de maior qualidade do que aquele já temos actualmente.
(Foto de Capa: Hugo Monteiro/Record)