Balanço do campeonato de hóquei em patins – Parte 5

José NevesJulho 10, 20187min0
Fechamos o balanço do Campeonato Nacional da 1ª Divisão com uma 5ª parte dedicada ao novo campeão, o Sporting Clube de Portugal.

Concluimos o balanço do campeonato 2017-18 com o novo campeão de hóquei em patins. A equipa do Sporting partia para a época 2017-18 como uma cada vez mais séria candidata ao título, ainda assim, para muitos, partia atrás dos rivais SL Benfica e FC Porto, fruto das várias décadas que estes dois emblemas levam no topo da modalidade em Portugal e na Europa, ao passo que os leões seriam verdadeiros candidatos ao título nacional pela primeira vez em 30 anos.

Chegados a meio do campeonato, 1º e 3º estavam separados por apenas 2 pontos, com a liderança a pertencer aos encarnados e com a Oliveirense praticamente arredada da luta. De entre as três equipas que iriam batalhar ao longo de toda a 2ª volta tínhamos um Benfica com várias estrelas do hóquei mundial, e com vários títulos conquistados no passado recente, mas que apresentava algumas dificuldades nos jogos grandes, um FC Porto defensor do título de campeão conquistado na temporada anterior, apesar de ter um plantel mais jovem que o dos rivais, e um Sporting que apresentava uma enorme consistência defensiva, mas era para muitos uma incógnita se chegaria às jornadas decisivas com capacidade para levar a melhor sobre dragões e águias.

A resposta a todas as dúvidas que se levantavam acerca da equipa leonina foram respondidas em campo, na 2ª volta do campeonato o Sporting cedeu apenas 2 empates, um deles já na última jornada em que o título já estava garantido, batendo Benfica no pavilhão da Luz por esclarecedores 7-4, e Porto na jornada seguinte por 4-3 no pavilhão João Rocha. O Sporting CP voltava ao lugar mais alto do pódio pela 8ª vez no seu historial, 30 anos depois do último título.

A aposta na defesa

“Um bom ataque ganha jogos, uma boa defesa conquista campeonatos”, este é um ditado  que certamente já ouvimos várias vezes, seja sobre futebol ou qualquer outra modalidade, e existem vários exemplos práticos das várias modalidades que o comprovam.

No futebol temos várias equipas italianas, assim como a seleção transalpina, que durante décadas construíram um legado vitorioso através de uma defesa sólida, como a seleção italiana campeã do Mundo de 2006 que apenas sofreu 2 golos em 7 jogos realizados. No basquetebol, mais concretamente na NBA assistimos à não muito tempo a uma equipa dos Boston Celtics que se fez valer dos seus bons defensores para conquistar o campeonato. No hóquei em patins esta equipa do Sporting é agora também um exemplo que suporta esta teoria.

Com apenas 48 golos sofridos em todo o campeonato, é preciso recuar até 2006-07 para encontrar-mos uma defesa menos batida que a deste Sporting, nessa época o SL Benfica apesar do 2º lugar no campeonato, sofreu apenas 35 golos na fase regular do campeonato. É ainda assim importante referir que nessa época o hóquei em patins era jogado com regras bastante diferentes àquelas que estão em vigor nos dias de hoje, que privilegiam um maior número de situações flagrantes de golo, sendo agora altamente improvável encontrar uma equipa que ao longo de um campeonato termine com uma média inferior a 2 golos sofridos por jogo.

Para este registo defensivo três nomes foram preponderantes, Ângelo Girão, Henrique Magalhães e Matias Platero. No caso do guardião titular da seleção portuguesa, não surpreende o nível a que se apresentou nesta temporada, a defender as balizas verde e brancas pela 4ª temporada, Girão sempre se mostrou como uma das principais figuras da equipa em todas as épocas que defendeu as cores do leão.

Henrique Magalhães e Matias Platero chegaram nesta temporada ao Sporting e elevaram imediatamente o nível defensivo da equipa de Paulo Freitas. Magalhães chegou após uma época de empréstimo aos espanhóis do Liceo da Corunha, o internacional português já havia sido uma das principais figuras do campeonato nacional em 2013-14, época em que, juntamente com Ângelo Girão, fez parte da equipa da AD Valongo que surpreendeu tudo e todos ao conquistar o título de campeão nacional.

Já Platero foi o reforço sonante da equipa de Alvalade para esta época, vindo do campeão europeu em título, o Reus de Espanha, Platero é uma das referências mundiais na sua posição, o internacional argentino teve um papel de relevo na conquista do Mundial de 2015 pela Argentina e na conquista da Liga Europeia em 2016-17 pelo Reus. Foi sem surpresa que ambos os jogadores tenham ganho um lugar no cinco inicial dos leões nesta temporada, e foi também sem surpresa que, juntamente com Girão, tenham elevado a qualidade na meia pista defensiva do Sporting para níveis que o clube nunca tinha presenciado desde o seu regresso à modalidade em 2010-2011.

Matias Platero foi a grande aposta do Sporting para esta época e não desapontou (Foto: HoqueiPT)

O timoneiro que sucede a um nome sonante

Paulo Freitas, é este o nome que ficará para sempre na história do hóquei em patins do Sporting como o treinador que devolveu o título de campeão aos leões 30 anos depois, sucedendo ao maior nome da história da modalidade em Portugal e no Mundo.

Em 1987-88 o Sporting surpreendeu o então penta-campeão FC Porto conquistando o 7º campeonato do seu historial, nessa equipa leonina destacavam-se, entre outros, quatro jovens que viriam a ser grandes nomes da modalidade, Vítor Fortunato, Paulo Almeida, Paulo Alves e Pedro Alves, no banco estava um nome bem mais conhecido, António Livramento.

Aquele que é unanimemente considerado como o melhor jogador da história da modalidade mostrou no Sporting que não era só dentro de rinque que fazia a diferença, depois de ter conquistado numa primeira passagem pelos leões um Campeonato Nacional, uma Taça de Portugal, uma Taça CERS e uma Taça das Taças, na segunda passagem voltaria a deixar troféus no museu verde branco vencendo aquele que era, até esta época, o último campeonato conquistado pelos leões.

A António Livramento sucede agora Paulo Freitas, treinador que antes de chegar aos leões tinha estado presente nas duas vitórias do OC Barcelos na Taça CERS. Agora na primeira temporada a tempo inteiro no Sporting, Paulo Freitas continuou no caminho das vitórias, com a conquista do Campeonato Nacional.

As provas a eliminar e o carrasco chamado FC Porto

Se no campeonato o título foi celebrado no pavilhão João Rocha após uma vitória frente ao FC Porto, nas duas provas a eliminar que os leões disputaram, Taça de Portugal e Liga Europeia, o mesmo Porto foi o carrasco dos leões.

Na Taça de Portugal e após deixar pelo caminho a Juventude Pacense da 2ª Divisão por 5-0, o Sporting recebeu os dragões nos oitavos de final da prova tendo sido eliminado num jogo decidido no desempate por grande penalidades, desempate esse onde nenhum dos jogadores leoninos chamados à conversão dos respectivos penaltys conseguiu bater Carles Grau.

Na Liga Europeia, a principal prova europeia de clubes do Velho Continente, o encontro entre leões e dragões deu-se já na final-4, em pleno Dragão Caixa o FC Porto carimbou passaporte para a final batendo o Sporting por 5-2, naquele que foi o jogo menos conseguido da equipa de Alvalade frente ao Porto em toda a temporada. Para chegar à final-4 o Sporting fez cair a Oliveirense com duas vitórias por 3-2, nos quartos de final. Na fase grupos o conjunto de Paulo Freitas venceu o grupo D à frente do Liceo da Corunha, que passou na 2ª posição, do campeão italiano Amatori Lodi, e dos franceses do Quévert.

Paulo Freitas devolveu o título de campeão ao Sporting 30 anos depois (Foto: Sporting CP)

Foi uma temporada de glória para os, agora, novos campeões nacionais. Apesar de ter falhado o acesso às finais nas provas a eliminar, a conquista do Campeonato Nacional 30 anos depois do último êxito na competição faz da temporada de 2017-18 uma das mais marcantes da história do clube.


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